Combustão do avesso

Utilizar a energia do sol para transformar os resíduos da combustão em insumos para a fabricação de novos combustíveis líquidos é o objetivo das pesquisas de um grupo de cientistas dos Estados Unidos, com coordenação de Nancy Jackson, presidente da Sociedade Norte-Americana de Química (ACS, na sigla em inglês).

Jackson apresentou nesta terça-feira (24/5), na 34ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), em Florianópolis, a conferência Sunshine to petrol: solar thermal conversion of carbon dioxide to liquid fuels (“Da luz do sol para o petróleo: conversão termal solar de dióxido de carbono em combustíveis líquidos”). A opção pelo combustível líquido ao fácil transporte, pouco peso e a alta densidade em termos energéticos.

A equipe de seu laboratório já está trabalhando na engenharia do reator capaz de utilizar a energia solar para transformar o dióxido de carbono – produto da queima de combustíveis como gasolina e etanol – em monóxido de carbono, que pode ser utilizado na produção de combustíveis. A reação, portanto, corresponde exatamente ao inverso da combustão. Nos carros o monóxido de carbono é queimado e transformado em dióxido. “Estamos fazendo o oposto. A ideia é poder reciclar o dióxido de carbono várias e várias vezes, produzindo combustíveis a partir do resíduo dos combustíveis”, explica Jackson. O método seria empregado em conjunto com o uso de etanol de cana-de-açúcar, carvão, gás natural, plantas e assim por diante.

A pesquisadora conta que ainda há muitos desafios, porque a temperatura para mudar o dióxido de carbono, que é tão estável, é tão alta que isso torna difícil a tarefa de definir materiais. Muitos deles não aguentam altas temperaturas e aquecer e resfriar sucessivamente, a maior parte dos materiais tende a não resistir. Ela acredita que a equipe precisará de no mínimo oito anos, metade para o desenvolvimento da engenharia e quatro anos para o processamento em escala.