Mercado externo se fecha para as montadoras

Nenhum dos quatro maiores exportadoras de veículos do país demonstra empolgação com o recente crescimento, de 78%, nas exportações de veículos.

O crescimento acelerado, a dois dígitos, da exportação de tratores, máquinas agrícolas e carros esconde uma fraqueza: a indústria brasileira já não é tão competitiva quanto antes. Nas vendas de máquinas agrícolas, o Brasil perdeu a exclusividade no abastecimento dos países da região e agora disputa mercados com produtos vindos da Índia, México e Turquia. Se não fossem os consumidores argentinos, as exportações de veículos brasileiros seriam quase nulas.

"Nos últimos dois anos, apareceram fontes mais competitivas que o Brasil e já percebemos uma migração dos importadores para elas. Na América do Sul o volume ainda não é representativo, mas é uma tendência no médio e longo prazo que precisa ser mais bem estudada", afirma Fábio Piltcher, diretor da americana AGCO, líder nas exportações do país e dona das marcas Massey Ferguson e Valtra. Em recente entrevista ao Valor, André Carioba, vice-presidente sênior da AGCO para a América do Sul, disse que a empresa já havia importado tratores da Índia e que adotaria a mesma estratégia para outros países.

Já o setor automotivo depende dos mercados vizinhos, cujo abastecimento a partir do Brasil faz parte da estratégia das montadoras. Quando a concorrência sai do bloco dominado por essas multinacionais, o quadro muda. Além da valorização do real, a indústria instalada no Brasil passou a se dedicar com força aos carros mais populares. Esses modelos não atendem os mercados mais exigentes. E, no caso dos emergentes, o produto brasileiro enfrenta cada vez mais a concorrência de antigos produtores, como a Coreia, e de novos, como a China.

Nenhum dos quatro maiores exportadoras de veículos do país - Volkswagen, General Motors, Ford e Fiat - demonstra empolgação com o recente crescimento, de 78%, nas exportações de veículos. "Se pegarmos a série histórica e eliminarmos 2009, que reflete a crise, perceberemos que a projeção da indústria para 2010, de chegar a 620 mil unidades, mantém a tendência de queda", afirma o diretor de assuntos institucionais da Ford, Rogelio Golfarb. A fatia das exportações na produção de veículos no Brasil caiu de 35% em 2005 para 18,3% este ano.

A filial brasileira da GM, que chegou a vender veículos para 40 países, hoje fornece para meia dúzia: Argentina, Uruguai, Chile, México, África do Sul e Paraguai.


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