Projeto reduz vibrações e ruídos em aeronaves

 

Uma parceria entre a Empresa Brasileira de Aeronáutica e a Universidade Federal de Santa Catarina tem o objetivo de aumentar o conforto das pessoas que utilizam o transporte aéreo. Iniciado em 2006, o projeto investiga as vibrações e ruídos mais adequados para um passageiro durante o voo.

A equipe, composta por professores e alunos dos cursos de Engenharia Mecânica e de Fonoaudiologia, é responsável ao longo desses quatro anos pelos testes e análises dos resultados que orientam a Embraer sobre as características que o ambiente interno do avião deve ter para ser mais agradável para o passageiro.

Funcionários da empresa realizam reuniões semanais com o grupo da UFSC, através de teleconferências, e aplicam os resultados obtidos desde os primeiros anos da pesquisa. Foi a partir de 1995 que a universidade começou a parceria com a Embraer.

Simulação de voo
Os testes são desenvolvidos no Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC, através de uma simulação de voo. No segundo andar do setor, um interfone alerta que só é possível entrar com a permissão dos alunos. “As informações aqui são sigilosas”, brinca o professor Samir Gerges, coordenador do projeto e líder das pesquisas neste campo.

A equipe convida a comunidade para participar da simulação e contribuir com os testes. A experiência começa quando o participante entra no mock-up, um simulador de uma cabine de aeronave, modelo Embraer 145. O pedaço do avião tem escala real. O mestrando em engenharia mecânica, Júlio Alexandre Teixeira, fez o projeto de vibração da estrutura da cabine como ela é hoje.

Há dois anos no projeto, ele conta que antes a estrutura era de madeira e apoiada no chão, porque os testes ainda estavam na primeira etapa, a de conforto acústico. Agora, na segunda etapa, a estrutura é compatível para a simulação de conforto vibratório. As poltronas, antes de ônibus, foram substituídas por de aeronaves; o piso é de compensado naval, o que garante uma maior resistência e impermeabilidade, e não fica mais no chão – agora está sobre molas.

Tudo isso para que as vibrações reproduzidas na cabine sejam parecidas com as de um voo real. Há ainda uma próxima etapa, em que vibrações e ruídos serão testados em conjunto.

Dentro do simulador, o participante assiste a um vídeo com instruções sobre o teste, durante cerca de cinco minutos. Teixeira explica que esse período é fundamental para ambientar as pessoas e possibilitar compatibilidade nos resultados.

“As pessoas vêm de ambientes diferentes para realizarem nossos testes. Estiveram no carro, no ônibus ou vieram a pé. Esse tempo garante uma ambientação para que elas se adaptem ao mesmo estímulo, independente do que fizeram antes”.

A poltrona e o piso em que o participante se acomoda transmitem as sensações de vibração, programadas no computador. Tanto essas sensações, como os sons escutados através de um microfone, foram gravados em um voo real para, dentro da cabine, serem reproduzidos.

“Nessa etapa do projeto, utilizamos sempre o mesmo ruído, apenas a vibração é alterada”, confessa Ricardo Luís Schaefer, também mestrando em engenharia mecânica e bolsista do projeto.

Durante o teste, que dura em média 15 minutos, o participante qualifica o conforto de cada vibração a que é submetido. Para quem está colaborando com o estudo, a diversão termina assim que os testes são finalizados. Para os integrantes do projeto, as pesquisas continuam: é a vez de tratar as informações que cada pessoa forneceu.

De acordo com Schaefer, há duas partes da experiência ─ a física e a subjetiva. A primeira refere-se diretamente às vibrações estimuladas na cabine. A segunda, ao que os participantes sentiram quando foram submetidos a elas. O mestrando é responsável por identificar e ligar quais níveis dessas vibrações incomodam a “tripulação” para que, no futuro, essas deficiências da aeronave sejam corrigidas pela Embraer.

Parceria consolidada
O projeto tem previsão para continuar até setembro de 2011. Mas a colaboração com a Embraer vai além dessa data. “Temos várias pesquisas acontecendo simultaneamente, todas em parceria com a empresa”, diz o professor Gerges.

Uma delas estuda meios de diminuir o ruído externo causado pelas aeronaves. “A Embraer fabrica aviões pequenos, que voam nos centros das cidades, perto de residências”. O objetivo é reduzir a interferência na vida daqueles que residem nas proximidades de aeroportos. De olho no futuro, os pesquisadores do Laboratório de Vibrações e Acústica também têm planos para os próximos quatro anos, com o início de um outro projeto para minimizar o ruído causado pelos jatos.

Além de influenciar o bem-estar de quem viaja de avião, a parceira traz oportunidades para os alunos pesquisadores. “A empresa contrata estudantes que trabalham nesse projeto. Ela quer mão de obra qualificada”, comenta Gerges.


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