Projeto Toyota em São Paulo encolhe e é adiado

A Toyota  anunciou que iniciará a construção do prédio de sua nova fábrica, em Sorocaba (SP), em setembro e que terá a estrutura industrial pronta para começar a produzir um novo carro compacto no segundo semestre de 2012. Se levada em conta a postura cautelosa, que sempre norteou a estratégia dessa empresa no Brasil, a notícia significa um novo passo no plano de expansão da montadora japonesa no país. Mas, sob a ótica de um setor em que a maioria dos fabricantes está numa fase acelerada de aumento de capacidade, o anúncio de ontem mostra que a Toyota recuou.

Há exatamente dois anos, no dia 15 de julho de 2008, o presidente da Toyota do Brasil, Shozo Hasebe, anunciou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que as obras de construção da fábrica começariam em 2009, com início de produção dos veículos programada para 2011. À época, a equipe econômica do governo foi informada que o volume de produção anual inicial seria de 150 mil veículos, com 2,5 mil empregos, e previsão de chegar a até 400 mil unidades, uma das mais altas entre as fábricas de veículos no Brasil.

O anúncio de ontem reduz a programação inicial de produção à metade, para 70 mil unidades, o que deixa a linha do futuro carro compacto da Toyota, na unidade de Sorocaba, do tamanho praticamente igual ao da fábrica de Indaiatuba, onde a empresa produz o modelo Corolla, um carro de médio luxo. O investimento a ser feito em Sorocaba, de US$ 600 milhões - confirmado ontem, por meio de comunicado à imprensa - coincide com o que havia sido anunciado ao governo federal. Mas o número de empregos também encolheu, para 1,5 mil.

A desaceleração dos projetos de Toyota no Brasil ocorre no momento em que a empresa tem a reputação abalada, depois dos sucessivos recalls, que já somaram mais de 8 milhões de veículos em todo o mundo. Os episódios que afetaram a imagem da montadora, que também enfrenta mais de 200 processos relacionados a acidentes, chocaram a comunidade automotiva, que havia feito da Toyota um exemplo de fabricante de veículos com produtividade, qualidade, lucro e livre da dependência de parcerias com outras montadoras.

O trabalho extra que pesa agora sobre a matriz para resolver os problemas com a imagem e a qualidade dos seus veículos deixa a companhia sem fôlego para o plano recente de avançar nos mercados emergentes. As operações da Toyota em todo o mundo, incluindo o Brasil, são demasiadamente dependentes da matriz. Trata-se de uma empresa que delega pouco poder às filiais e muito menos às equipe de engenharia fora do Japão - ao contrário do que concorrentes como General Motors, Volkswagen e Ford estão fazendo.

O redimensionamento do projeto poderá frustrar as expectativas em Sorocaba. As obras de terraplenagem no terreno de 3,7 milhões de metros quadrados, na rodovia Castelo Branco, que começaram nas primeiras semanas de 2009, davam até agora a impressão, a quem passava pela rodovia, de que um enorme investimentos estava prestes a nascer.

A administração municipal também se preparou para um avanço tecnológico jamais visto em Sorocaba, uma cidade de 600 mil habitantes. A prefeitura coordenou um trabalho de aparelhamento das escolas e tem projetos de criação do chamado parque tecnológico, no entorno da Toyota, para abrigar centros de treinamento e prováveis fornecedores da montadora.

Para poder ampliar a participação no mercado brasileiro, a marca japonesa precisa começar a produzir carros pequenos. O automóvel que será produzido em Sorocaba é um modelo novo, destinado exclusivamente para mercados emergentes. A empresa terá uma linha de montagem do mesmo modelo também na Índia, numa fábrica que será uma espécie de irmã gêmea da unidade em Sorocaba.

Os planos para o Brasil pareciam ainda mais ousados no início da década, quando a montadora chegou a anunciar que se preparava para alcançar uma participação de 10% no mercado brasileiro em 2010 - fatia praticamente três vezes maior do que a de hoje. Para isso, prometeu, trabalharia no desenvolvimento de novos produtos, principalmente carros pequenos.


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