Petrobrás só encomenda 10% ao setor de máquinas

Na década de 80, no auge das encomendas feitas à indústria naval brasileira, o setor de petróleo respondia por 50% do volume de negociações de máquinas e equipamentos fabricados no País. Hoje responde por menos de 10%. A informação é do diretor executivo dos segmentos de Petróleo e Gás da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Alberto Machado.

A indústria de máquinas como um todo movimentou US$ 32 bilhões em 2009 e o setor de petróleo faturou cerca de US$ 2,8 bilhões. Considerando que 30% dos US$ 40 bilhões investidos anualmente pela Petrobrás são destinados a máquinas e equipamentos, Machado estima que a indústria nacional de equipamentos de petróleo e gás poderia receber encomendas de US$ 6 bilhões anualmente.

Para o diretor de Tecnologia da Coppe/UFRJ(Universidade Federal do Rio de Janeiro), Segen Estefen, a situação tende a ficar ainda mais delicada com a encomenda das sondas de perfuração, que nunca foram construídas no Brasil. A Petrobrás abre nesta semana os envelopes comerciais na concorrência para a construção de até 28 unidades, total estimado em US$ 22 bilhões. Em uma rodada anterior, a estatal encomendou 12 unidades com estaleiros estrangeiros. Mesmo destino terão 13 contratos de afretamento em licitação atualmente.

Sondas
"Se o Brasil não tem fornecedores de tecnologia avançada para a construção de plataformas de produção, tem muito menos para as sondas. Corremos o risco de ficar com um conteúdo nacional ainda menor se não houver um programa atrativo para fornecedores de equipamentos desta linha", disse o professor, alertando para o fato de que a China está na corrida para se qualificar para ser uma grande construtora de sondas de perfuração. "Temos que correr para não ficarmos restritos apenas a ser meros montadores", disse o diretor da Coppe, que anunciou o lançamento de quatro núcleos de tecnologia naval no País até o final deste ano.

Um dos maiores gargalos está na construção das turbinas de geração de energia, módulo que representa quase 20% do total do custo de uma plataforma. Poucas empresas fazem esse tipo de obras no mundo e apenas a encomenda de um volume de unidades cinco a seis vezes maior do que o atual justificaria a atração de investimentos para o país nesta área.

Há, porém, complementos industriais em que o Brasil pode capacitar mão de obra e ter condições de fabricação, desde que haja um investidor externo com experiência no setor e interesse de se instalar no País.

"Não é só o volume de encomendas internas que darão à indústria naval escala de produção para justificar novos investimentos. É preciso que a indústria naval local esteja preparada para atender à demanda estrangeira e para isso ainda há uma longa caminhada", disse Estefen.

"Foi necessária uma primeira fase com subsídios para alavancar a recuperação da indústria naval, mas agora está na hora de o Brasil saber o que quer. A construção naval é eminentemente política e se não houver uma decisão sobre o que fazer, vamos sucumbir aos concorrentes internacionais", analisou Estefen.

Petrobrás
Indagada sobre o tema, a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), criada para fomentar as contratações de máquinas e equipamentos no Brasil, preferiu não se pronunciar, alegando que aguarda estudo encomendado a uma consultoria internacional para avaliar a competitividade dos fornecedores locais. A Petrobrás também não comentou o assunto.

Segundo técnicos do setor de petróleo, a petroleira mantém como estratégia o afretamento de unidades de menor porte ou mesmo as que vão atuar temporariamente em alguns campos, enquanto é construída a unidade que vai operar definitivamente no local.

Desta forma, a Petrobrás acelera a produção de petróleo em alguns campos, colocando-os em operação mais rapidamente do que se fosse aguardar os três anos que levam para a construção de uma unidade.


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