Investimentos na indústria naval migram para o Nordeste

As idas e vindas do estaleiro Promar - que anunciou sua instalação em Pernambuco ontem, após ter a licença rejeitada no Ceará, confirma uma tendência: é no Nordeste que estão as melhores oportunidades para a nova geração da indústria naval, acostumada historicamente ao Rio de Janeiro.

Ao menos é o que mostram os dados. Após um ostracismo de duas décadas, os investimentos no setor voltaram com força, e é para o Nordeste que vão 80% deles.

Segundo levantamento do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), os projetos somam hoje R$ 7,6 bilhões, dos quais R$ 6,1 bilhões se dividirão entre Bahia, Pernambuco e Alagoas. Serão pelo menos 17 novos estaleiros nos próximos anos, sendo nove deles, inclusive o Promar, no Nordeste.

É um avanço e tanto para uma região que, até o ano passado, quando foi inaugurado o estaleiro Atlântico Sul, em Suape (PE), nunca tinha tido nenhum empreendimento voltado para a indústria naval ou petroleira.

Só o Atlântico Sul, com suas 160 mil toneladas de capacidade anuais de processamento de aço, já alcança sozinho mais da metade de toda a capacidade do Rio, que com a dezena de estaleiros instalada ali desde a década de 1950 pode processar hoje até 298 mil toneladas.

O Atlântico Sul, ao lado do Eisa Alagoas - também com capacidade para 160 mil toneladas e só à espera das últimas licenças para começar a ser construído na praia de Coruripe - está entre os maiores do mundo.

Juntos, só não deixarão o polo fluminense para trás porque este também tem um plano grande de ampliações: há entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões em investimentos aguardados, o que inclui a retomada pela Petrobras do hoje desativado Ishibrás e a possível migração do estaleiro da EBX para o Porto de Açu, após ter a licença negada em Santa Catarina.

"O Rio continua sendo o principal polo do Brasil", aponta o presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha, "mas Pernambuco e Rio de Grande do Sul surgem como novos centros.

O preço dos terrenos, bem mais atraente que Rio ou São Paulo, e o apoio dos governos locais são elementos que pesam."

E de fato, a competitividade do Nordeste está nos baixos custos - já que o grosso da demanda continuará no Sudeste, onde se concentram as principais atividades de extração de petróleo e gás.

Além do desconto de 75% no Imposto de Renda que o governo federal oferece às empresas que vão para lá, há ainda uma disputa aquecida de isenções municipais e estaduais. Em Pernambuco, por exemplo, estas taxas ficam cerca de 50% menores para os empreendimentos navais.

"O mercado está no Sudeste. Então para atrair investimentos para o Nordeste ou tem que ter incentivo, ou a empresa não vem", diz Silvio Leimeg, diretor do Suape Global, projeto do governo pernambucano de transformar o estado em um polo naval mundial.

"De qualquer forma, se as empresas estão vindo não é só porque o 'governo quer'. São empresas privadas, elas vão onde é vantajoso para elas", conclui.


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