Indústria atrai menos investimento externo


As previsões de crescimento acima da média para a economia brasileira neste ano ainda não foram suficientes para convencer os investidores estrangeiros a direcionar recursos para o parque industrial do país.

O nível de investimentos estrangeiros diretos para a indústria no primeiro trimestre deste ano foi o menor desde 2005, quando o setor atraiu US$ 1,1 bilhão do exterior. O fraco desempenho levanta dúvidas sobre a previsão do governo para a entrada de aportes estrangeiros neste ano.

Os dólares que ingressam do exterior para o setor produtivo contribuem para financiar o crescimento da economia brasileira. Os investimentos no parque industrial aumentam a produção, criam empregos e geram demanda por fornecedores e serviços locais.

Os recursos também ajudam a cobrir o deficit em transações correntes gerado por maior gasto dos brasileiros no exterior, remessa de lucros para o exterior e pagamento de juros.

No primeiro trimestre de 2010, o resultado negativo de US$ 12 bilhões nas contas externas foi o pior para o período desde 1947.

Do total de ingressos nos três primeiros meses do ano, US$ 1,6 bilhão foi para o setor industrial. O número representa queda de 52,6% em relação ao mesmo período de 2009.

No ano passado, o mundo ainda vivia os reflexos da crise que enxugou investimentos estrangeiros no planeta.

Segundo Daniela Magalhães Prates, pesquisadora do Cecon (Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica) da Unicamp, o resultado negativo da indústria no primeiro trimestre foi influenciado pelo real valorizado.

Os investidores estrangeiros diminuem os aportes na indústria ao perceber que o produto fabricado no país vai enfrentar forte concorrência dos importados. Prates crê em recuperação dos investimentos estrangeiros no segundo semestre, mas reitera que os efeitos do dólar barato ainda vão pesar.

Pela última revisão do Banco Central, a expectativa é que o país atraia US$ 45 bilhões líquidos em investimentos estrangeiros neste ano.

Para o chefe de Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, a queda dos investimentos na indústria no primeiro trimestre reflete os impactos da crise.

"O que se espera é a retomada dos investimentos diretos para a indústria, mesmo porque a indústria automobilística está muito bem e o Brasil é plataforma de exportações para a América Latina."

Lopes descarta que a baixa tenha sido causada pela cotação do câmbio. "Não pode ter influência [do câmbio], pois teria afetado o setor de serviços também."

Os investimentos estrangeiros diretos para o setor de serviços no primeiro trimestre somaram US$ 2,9 bilhões, com leve alta em relação a 2009.

Os ingressos voltados para agropecuária e extração mineral -US$ 1,3 bilhão- quase dobraram em relação a 2009.
 


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