Siderúrgicas retomam níveis de produção

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A indústria siderúrgica retornou, neste mês, aos melhores níveis de produção desde o baque imposto às vendas do setor pelos efeitos da crise financeira mundial. As usinas do grupo ArcelorMittal em João Monlevade e Juiz de Fora, e a trefilaria de Sabará, em Minas Gerais, voltaram a trabalhar ao ritmo de 95% de sua capacidade produtiva, portanto bem próximo da velocidade com que as máquinas trabalhavam antes do estouro das bolsas de valores no mundo, em setembro de 2008.

As operações da Usiminas, em Ipatinga, que chegaram a baixar a 40% da sua capacidade entre fevereiro e abril de 2009, estão, agora, em compasso de 85% a 90%. A reação fez estancar as demissões que assustaram em 2009 não só nas fábricas como nos cinturões de fornecedores e as empresas começaram a readmitir pessoal, embora ainda de forma tímida.

Gerdau
O grupo siderúrgico Gerdau não informou sobre o nível da produção na Gerdau Açominas, de Ouro Branco, mas os reflexos da recuperação já são sentidos no trabalho dos prestadores de serviços e no comércio do município, segundo o presidente do sindicato local dos metalúrgicos, Raimundo Nonato Roque de Carvalho. "As demissões cessaram por completo e alguns trabalhadores demitidos estão sendo recontratados", afirma o sindicalista.

Os próximos meses indicam curva ascendente dos níveis de produção, confirmou o vice-presidente de negócios da Usiminas, Sérgio Leite. Há recuperação, de acordo com o executivo, em praticamente todos os segmentos de consumo de aço, em particular nas compras das indústrias automotiva e de eletroeletrônicos. A maior expectativa, no entanto, está na demanda de produtos da indústria de petróleo e gás. "Torcemos por um crescimento de 6% da economia brasileira. Certamente, 2010 será um ano de recuperação, com pelo menos 5% de expansão", afirma.

Outro ramo de atuação da siderúrgica que carrega forte promessa, nesse cenário, é o da distribuição, aliada aos centros de serviços. A companhia uniu, no ano passado, quatro empresas do grupo dedicadas ao segmento (Rio Negro, Fasal, Dufer e Zamprogna) e duas unidades (Usicort e Usial) num só guarda-chuva, batizado de Soluções Usiminas.

A elevação do nível de produção tem relação direta com a cadeia de produção do minério - principal matéria-prima - ao aço. Tanto é que há cerca de duas semanas, o diretor de Ferrosos da Vale, José Carlos Martins, disse que a companhia pretende voltar a operar no limite de sua capacidade este ano e está fazendo algumas recontratações.

Obras
Pedro Galdi, analista de mineração e siderurgia da SLW Corretora, acredita num ciclo de crescimento muito positivo até 2016, impulsionado pela construção civil, a indústria de petróleo e gás, além da geração de investimentos em torno da Copa 2014 e da Olimpíada de 2016. "Se vê obras por todo lado no Brasil. Teremos renda e consumo muito fortes e a expansão vai continuar", diz Galdi, que trabalha com projeções entre 5% e 6% de expansão da economia neste ano.

Empenhadas em recuperar projetos interrompidos em 2009, as construtoras não imaginam crescimento inferior aos 5%, segundo Geraldo Jardim Linhares Júnior, vice-presidente da Área de Materiais, Tecnologia e Meio Ambiente do Sindicato da Indústria da Construção de Minas Gerais (Sinduscon-MG). "Parece pouco, mas não é. Trata-se de um cenário muito melhor que a instabilidade provocada por aqueles picos de alta e fortes depressões da economia", afirma.

Um novo movimento de contratações é sinal de que a retomada da produção nas siderúrgicas começa a mover a cadeia das empresas fornecedoras e os prestadores de serviços, que sofreram, em 2009, com a interrupção ou cancelamento de contratos, afirma Luiz Carlos da Silva, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade. "As prestadoras de serviços estão voltando ao ritmo normal e temos notícias de contratações, uma situação bem diferente do ano passado."Retomada também no segmento de aços longos

O chamado segmento de aços longos, destinados à construção civil e à agropecuária, explicam a retomada dos níveis de produção das usinas da ArcelorMittal. As linhas de produção de aços longos da multinacional, que logo depois da crise perderam fôlego, descendo a 65% da produção, têm capacidade para fabricar 3,9 milhões de toneladas por ano.

A recuperação da produção, entretanto, deve ser encarada com otimismo moderado, na avaliação de Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr). A siderurgia brasileira chegou a trabalhar ao ritmo de 46,8% no começo de 2009 e no acumulado do ano passado ficou no nível de 64% de sua capacidade. Dos 14 altos-fornos, seis paralisaram, dos quais quatro voltaram a operar nos últimos meses.

Preocupação adicional está na oferta bem superior à procura por aço; afinal, no mundo existe um excedente de produção monumental, estimado em 600 milhões de toneladas. "A perspectiva do setor é de que 2010 seja, de fato, um ano melhor, mas historicamente as empresas dependem das exportações e a situação do mercado no exterior ainda é muito ruim", observa.

As usinas brasileiras têm capacidade de produzir 41 milhões de toneladas de aço por ano. O IABr prevê consumo 21% maior este ano, em comparação a 2009. É necessário observar, entretanto, que a base de comparação está influenciada por uma queda estimada de 20,8% da produção, frente a 2008. A V&M do Brasil (antiga Mannesmann) não informou o atual ritmo da produção.


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