Leilão vai definir futuro da geração eólica no país

Relação de empresas e quantidade de Megawatts a ser leiloada ainda eram dúvidas na sexta-feira

Fotos: Divulgação

Uma das maiores empresas que produz pás eólicas no mundo fica hoje em Sorocaba, no Estado de São Paulo. Apesar disso, a Tecsis não tem nenhuma das suas pás sendo usadas em parques eólicos no Brasil. A expectativa é de que isso mude a partir de segunda-feira, quando acontece o primeiro leilão de energia eólica no país e, a depender da quantidade de megawatts (MW) a serem leiloados, os negócios podem começar a se firmar. "No Brasil teríamos uma posição imbatível, pelo poder para atender os clientes", diz o presidente da Tecsis, Bento Koike.

A expectativa não é só da Tecsis, mas de toda a indústria de equipamentos e dos empreendedores que reivindicam um programa do governo de leilões de eólicas, pelo menos a cada dois anos. Por enquanto só está marcado o evento de segunda-feira,14, e a competitividade ainda é dúvida. Projetos com cerca de 10 mil MW foram habilitados para o leilão, mas nem todos os empreendedores depositaram garantias para participar da disputa. A empresa portuguesa EDP, por exemplo, que vinha mostrando todo o apetite para fincar pé nesse mercado não depositou as garantias e não vai concorrer no leilão. Outras empresas importantes como a CPFL e a Cemig também são dúvida. Elas foram procuradas pelo jornal Valor Econômico mas não quiseram confirmaram se pretendem participar.

Também existe a dúvida de quanto o governo irá contratar de energia. O diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner, diz que não se pode comprar demais como aconteceu no Proinfa, que contratou 1.600 MW a R$ 250, a valores já corrigidos. A expectativa da associação das eólicas era de que o governo contratasse cerca de 2.000 MW, o que geraria investimentos da ordem de R$ 5 bilhões. O preço-teto desse leilão é de R$ 189 e foi um dos motivos que levou a EDP a desistir de participar. Hubner explica que é importante que o governo vá com calma nessa área, pois as tecnologias vão se aprimorando e a tendência é que o custo dessa energia cai no futuro.

Mark Argar, diretor-geral da empresa australiana Pacific Hydro, que comprou alguns parques eólicos que tiveram a energia vendida pelo Proinfa, diz que os custos entre aqueles projetos e os novos caíram 15%. Ele diz que esse primeiro leilão será muito importante para atrair indústrias de equipamentos para o país, mas lembra que o leilão vai acontecer com muitas indefinições. Os custos com transmissão, por exemplo, ainda não são conhecidos pelas empresas que vão participar. De qualquer forma, os australianos vão concorrer com parques eólicos com capacidade de gerar 147 MW.

O presidente da MPX Energia, Eduardo Karrer, diz que de fato o preço de R$ 189 limita a participação no leilão e só os projetos com maior capacidade de geração terão competitividade. A empresa vai ao leilão com 30 MW de projetos. A MPX tem em seu portfólio uma série de termelétricas, mas entende que é preciso diversificar os negócios em geração.

Uma outra competidora será a Eletrosul, que pretende negociar 90 MW. Seu presidente, Eurides Luiz Mescolotto, diz que a empresa está se preparando para ser uma das grandes em geração de energia eólica do país.

As estatais são inclusive apontadas como as grandes competidoras. Na habilitação de projetos, além da Eletrosul, Chesf e Petrobras também cadastraram seus parques eólicos. Apesar das indefinições, o presidente da Abeeólica, Lauro Fiúza, acredita que esse leilão será um marco importante e diz que o governo está se preparando para realizar disputas a cada dois anos, dando assim a medida certa para instalar a indústria eólica no país. O Brasil tem um potencial eólico de 140 GW.