Cingapura mira a América Latina

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Cingapura espera ampliar o número de Tratados de Livre Comércio com a América Latina até meados do ano que vem, para aproveitar a boa recuperação que o continente vem mostrando diante da crise econômica mundial. Segundo autoridades do país, o TLC com o México, cujas negociações se arrastam desde 2000, deve ser concluído ainda em 2009 e um acordo com a Costa Rica deve ficar pronto no começo do ano que vem. Hoje, o país asiático tem na região acordos com Chile, Peru e Panamá.

"Estamos adotando várias medidas para diminuir nossa dependência de nossos parceiros asiáticos. Num momento de crise internacional, nada melhor que estreitar relações com uma região como a América Latina, que vem mostrando um vigor e uma recuperação impressionantes", disse Natalie Choo, gerente de operações para as Américas do International Enterprise Singapore, a agência oficial de promoção comercial.

A opção pela América Latina pode ter sido reforçada pela decisão recente dos EUA de suspender negociações de adesão a uma área de livre comércio no Pacífico, que incluiria Cingapura.

Uma ilha com 4,6 milhões de habitantes e um PIB de US$ 160 bilhões, Cingapura é um importante porto de ligação entre os países do Sudeste Asiático e o Ocidente. Fabricante de produtos petroquímicos, farmacêuticos e eletrônicos, tem também indústrias tradicionais de construção naval e de equipamentos de exploração de petróleo, além de empresas de serviços aeroportuários e portuários.

Dos US$ 260 bilhões que o país exportou no ano passado, mais da metade foi para países asiáticos, principalmente Malásia, Indonésia, China e Japão. A América Latina recebeu menos de 7%. As importações, de quase US$ 220 bilhões, também vieram majoritariamente dos vizinhos asiáticos.

Os reflexos dessa dependência podem ser vistos no porto de Cingapura - o maior do mundo em manejo de contêineres. "Os efeitos da crise sobre os países da Ásia podem ser sentidos aqui, só de olhar para o porto. Numa época normal, não daria nem mesmo para ver o mar direito. Agora, os guindastes parados são um sinal triste de que as coisas não vão bem", lamenta Jeffrey Wu, gerente do setor de comunicações da PSA, agência que administra o porto cingapuriano.

A crise atingiu fortemente o país este ano e deve provocar a primeira queda do PIB em mais de uma década, no que já é considerada a pior recessão desde a independência cingapuriana, em 1965. Cingapura cresceu 8,2% em 2006; 7,7% em 2007; e 1,2% em 2008. Segundo o Ministério da Indústria e Comércio, o país deve ter contração de 4% a 6% em 2009. Muitos analistas creem que isso já seria um bom resultado, pois a previsão inicial do governo era de contração de 9%.

O governo cingapuriano não adotou nenhum pacote de estímulo, diferentemente de outras grandes economias asiáticas. Segundo as autoridades do país, Cingapura é tão aberta que, para cada US$ 1 que entra na economia, US$ 0,60 acabam indo para outros países. Por isso eles alegam que não valeria a pena injetar fundos públicos e que o melhor é atrair investimentos e melhorar o fluxo comercial.

Para atrair investimentos, o conservador governo cingapuriano está disposto até a passar por cima de alguns de seus rigorosos preceitos morais: liberou, por exemplo, a abertura de cassinos. Dois grandes empreendimentos estão em curso hoje, um na ilha de Sentosa, pólo turístico local, e outro bem diante do centro financeiro da cidade.

Esse tipo de investimento e a recuperação da China estão deixando os analistas otimista. Olhando para as três torres que abrigarão os hotéis do cassino diante do setor financeiro, Robert Prior, economista-chefe do HSBC em Cingapura, se mostra confiante. "A economia de Cingapura está de volta", diz, quase que em tom de torcida.

Outros entretanto são mais cautelosos. Para Paul Jacob, editor de política do jornal "Strait Times", as pessoas estão muito preocupadas com seus empregos. "Não adianta só falar de recuperação. Ela tem de aparecer."

O jornalista do Valor Econômico, Rodrigo Uchoa, viaja a convite do governo de Cingapura.


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