Siderúrgicas ensaiam alta de preços, lideradas por Usiminas

Empresa já aumentou 10% o preço da chapa grossa de aço

Foto: Divulgação

Depois de amargar consecutivas quedas de preços desde o acirramento da crise internacional, a indústria siderúrgica começa a reverter esta tendência. Além de reduzir os descontos que eram concedidos, o setor já fala na possibilidade de praticar aumentos de preço até o final do ano. Segundo fontes do mercado e distribuidores de aço, a Usiminas elevou o preço da chapa grossa em 10% neste mês, depois de reduzir o preço do produto em 35% neste ano, e deve ser seguida por outras empresas. A tendência se sustenta principalmente na recuperação do preço do aço no exterior, que deve proteger as siderúrgicas brasileiras da concorrência dos importados.

Do lado da demanda interna, a retomada ainda é tímida e seria insuficiente para justificar aumentos, embora os estoques estejam voltando aos níveis usuais. Desde o início do ano, os preços dos aços planos caíram em média 22,9% no mercado interno. No mercado externo, o preço da bobina a quente, usada como referência, chegou a US$ 430 em junho, menos da metade dos US$ 1,2 mil registrados no auge do mercado, em meados de 2008. Agora, os preços chegaram a US$ 580 por tonelada no exterior, impulsionados pela recuperação gradual da economia, não apenas na Ásia mas também em países da Europa e nos Estados Unidos, onde a indústria está passando por um processo de recomposição de estoques.

A volta das alíquotas de importação do aço, definida pelo governo brasileiro em junho, também ajuda a deixar as usinas brasileiras em uma situação mais confortável em relação ao aço importado e abre uma janela para o reajuste. O aço importado passou a ser taxado em 12% a 14% por decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex). "O ambiente necessário para aumentos de preço no Brasil está criado", disse o analista do Santander, Felipe Reis. Ele destacou que a alta do frete nos últimos quatro meses contribui para tirar a competitividade das importações, apesar da apreciação do câmbio.

Segundo uma fonte do setor que não quis ter seu nome revelado, as siderúrgicas estão diminuindo o volume de vendas feitas com descontos à medida que os estoques da cadeia são reduzidos. "As usinas têm retirado os descontos gradualmente", disse a fonte. Os estoques dos distribuidores de aço voltaram ao nível equivalente a três meses de consumo, depois de chegar a seis meses, o que tem dado maior tranquilidade às empresas. Procurada pela Agência Estado para comentar a alta de 10% da chapa grossa, produto usado para tubos de óleo e gás e pela indústria naval, a Usiminas não confirmou nem negou a informação. Por meio de nota, a empresa disse apenas que preserva a "competitividade no preço do aço com flexibilidade para negociar, considerando as demandas e especificidades de cada cliente."

De acordo com Christiano da Cunha Freire, presidente da Frefer, segunda maior distribuidora independente de aço do Brasil, o mercado espera uma alta de cerca de 10% no preço dos aços planos para os próximos meses. Este tipo de produto é usado pela indústria automotiva e pela linha branca. "Esta retomada não está ocorrendo por recuperação da demanda, mas pela oferta mais escassa de aço no mercado externo", disse.

Durante o primeiro semestre, a siderurgia global operou com apenas metade da sua capacidade produtiva para conter o excesso de oferta no mercado. Várias destas usinas anunciaram o religamento de altos-fornos nas últimas semanas, inclusive no Brasil, como é o caso da Gerdau, da CSN e da Usiminas, mas a produção ainda está muito inferior a registrada no ano passado. Os dados mais recentes sobre a produção mundial de aço, divulgados pela Worldsteel Association (Associação Mundial do Aço) em 20 de julho, apontam que no primeiro semestre de 2009 a produção foi 21,3% inferior ao mesmo período do ano passado, passando de 698,195 milhões de toneladas para 549,262 milhões de toneladas. Em junho, houve uma recuperação de 4% em comparação com maio. A China apresentou um crescimento de 6,3%, enquanto Estados Unidos e União Europeia cresceram 3% e 3,5%, respectivamente.

O aquecimento internacional começou a interferir no planejamento de distribuidores brasileiros, como a Açometal, distribuidora de aços especiais, que está apostando na alta dos preços internos. "Tenho comprado o que posso ainda com o preço antigo, com a certeza de que vai subir", disse o diretor geral André Dias. No caso dos aços especiais, que contém outros metais como o níquel, os preços também tendem a ser pressionados pela alta das cotações destes insumos, que também estão em alta. Atualmente, o níquel está cotado a US$ 20 mil por tonelada, mais de duas vezes superior aos US$ 9,5 mil por tonelada registrados em março.

Em relatório divulgado na semana passada, o banco Goldman Sachs informou que o preço do aço plano no Brasil deve subir 5% a 10% em setembro. A instituição financeira, que obteve esta informação com fontes das usinas e da distribuição, disse que a alta em setembro ocorre muito mais cedo do que o esperado. "Nossos modelos previam uma alta de 5% no segundo trimestre de 2010", disse. Segundo o relatório, o aumento deve ocorrer em bobinas a quente, bobinas a frio e chapas grossas. "Acreditamos que é uma questão de tempo para vermos reajustes de preço em galvanizados e folhas de flandres", informou o banco.

Segundo Reis, do Santander, o prêmio do aço nacional em comparação com o produto importado é de cerca de 25%. Enquanto a bobina a quente custa US$ 920 por tonelada no Brasil, o mesmo produto importado custa US$ 730, incluindo todos custos de importação. Em junho, quando os preços externos estavam deprimidos, o prêmio do produto nacional chegou a mais de 45%. Para o analista, este diferencial deve voltar a subir e pode se sustentar próximo dos 30%.

A tendência de alta não foi confirmada pelas empresas, que divulgaram seus balanços trimestrais nos últimos dias, mas tanto a CSN quanto a Usiminas previram estabilidade para o preço do aço, "com viés de alta". De acordo com o diretor comercial da CSN, Luiz Fernando Martinez, existem sinais de retomada na demanda interna, mas a companhia está cautelosa. "É preciso ter certeza absoluta de que os fundamentos estão robustos. Caso contrário, vamos jogar água fria na sopa e ficaria difícil conter as importações", afirmou em teleconferência com analistas Segundo Martinez, a empresa pretende analisar aumentos de preço caso a caso com cada cliente.

O presidente da Usiminas, Marco Antônio Castello Branco, também previu estabilidade com viés de alta para o segundo semestre. O executivo disse a analistas que as cotações no mercado interno tendem a ser beneficiadas pela recuperação do aço no mercado internacional. No segundo trimestre, os preços do aço vendido pela Usiminas caíram, em média, 14% no mercado interno e 35% no mercado externo, segundo a companhia. Segundo a siderúrgica, os estoques dos seus clientes já voltaram aos níveis normais e, em alguns casos, estão mais baixos que o ideal, o que deve gerar novas encomendas.


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