Automotivo e metalurgia são os principais focos dos estrangeiros

Veja como a crise mudou o perfil do investidor no Brasil

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A crise mudou o perfil do Investimento Estrangeiro Direto (IED) no País. Neste ano, os investimentos estão mais pulverizados e direcionados para setores nos quais o mercado, na prática, não foi tão afetado pela retração da atividade econômica. Juntas, a indústria automotiva e a metalurgia, por exemplo, absorveram mais de um terço (35,3%) dos investimentos estrangeiros diretos que ingressaram no País de janeiro a maio deste ano. No mesmo período do ano passado, a participação de destaque nos investimentos estava concentrada na extração de minerais metálicos e no setor financeiro, que detinham 35,4% do total de ingressos de capital no País.

O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, explica que a mudança de perfil está atrelada às alterações recentes que a crise provocou na economia. Veículos e metalurgia, por exemplo, diz ele, são setores que têm potencial de crescimento excepcional no mercado brasileiro, quando comparados com as perspectivas dos mercados desenvolvidos, onde estão localizadas as matrizes das empresas.

"O Brasil continua crescendo mais rapidamente do que as economias maduras da Europa e da América do Norte", afirma o presidente mundial da Pirelli Pneus, Francesco Gori. A companhia projeta queda de 6% a 7% nos resultados globais deste ano.

Para o Brasil, no entanto, a expectativa é de repetir já neste ano o faturamento de 2008. "O mercado global de pneus só deverá atingir níveis
recordes do ano passado dentro de quatro a cinco anos", prevê. Sustentado pela volta do crédito e pela redução de impostos, o mercado doméstico de automóveis deve bater novo recorde de vendas este ano e atingir 3 milhões de veículos, segundo estimativas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Atentas para esse potencial de consumo, as montadoras mantêm os investimentos programados. Entre 2008 e 2012, serão aplicados US$ 21 bilhões no País, segundo um mapeamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nos próximos dias, a General Motors, que acabou de sair da concordata nos Estados Unidos, deve anunciar investimentos de US$ 1 bilhão na fábrica de Gravataí (RS) e no centro de desenvolvimento de São Caetano (SP) para uma nova família de veículos.

Além das montadoras e da metalurgia, os setores químico e farmacêutico tiveram um aumento da participação nos investimentos estrangeiros neste ano. Eles representavam menos de 3% dos ingressos de capital entre janeiro e maio de 2008. Essa fatia foi multiplicada por quatro no mesmo período deste ano (11,1%).

A multinacional alemã Bayer, por exemplo, vai investir no País US$ 70 milhões em 2009. Os recursos são para atualização tecnológica e expansão da capacidade nas áreas de saúde, agroquímicos e química. "O País é o maior mercado para a Bayer na América Latina, com 36% das vendas na região", disse recentemente o presidente da Bayer S.A. no Brasil, Horstfried Laepple.

O laboratório farmacêutico Boehringer Ingelheim do Brasil planeja investir neste ano US$ 55 milhões na ampliação da capacidade produtiva e em marketing. O País é o nono maior mercado da empresa no mundo e vai ficar entre os cinco principais destinos de investimentos em 2009. "Nós aumentamos em 10% os investimentos no Brasil neste ano na comparação com 2008, por causa do crescimento do mercado interno em comparação com os demais", afirma Fernando José Martins, diretor de Marketing e Vendas da empresa.

Pulverização
Além de mudanças nos setores que estão mais absorvendo investimento, Lima, da Sobeet, observa que há neste ano uma melhor distribuição no ingresso de recursos estrangeiros. Isso significa que há mais investimentos de menor porte. Os ingressos de capital estrangeiro inferiores a US$ 10 milhões responderam entre janeiro e maio deste ano por 20,7% do IED. No mesmo período do ano passado, essa fatia era 16,5%. Na outra ponta, a participação no IED dos aportes acima de US$ 1 bilhão caíram para 16,4% este ano, contra 18% no mesmo período de 2008. "A decisão dos estrangeiros de pulverizar os investimentos em projetos de menor porte dá mais flexibilidade para reagir a possíveis choques externos", observa.

Origem
A crise mudou não apenas o pote dos investimentos, mas também a origem do capital. Os Estados Unidos, por exemplo, que foram o principal país investidor no Brasil entre janeiro e maio do ano passado, com 15,9% do total de ingressos, segundo dados do Banco Central (BC), caíram para a terceira posição neste ano. De janeiro a maio de 2009, o país respondeu por 13,4% dos investimentos estrangeiros no Brasil. A liderança ficou com os Países Baixos (24,7%), seguidos pela Alemanha (18,7%).

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