Mercado de motos cai, mas ainda atrai novos fabricantes

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Mesmo tendo sido fortemente atingido pela crise financeira, o mercado de motocicletas brasileiro continua atraindo novas fabricantes - principalmente asiáticas. Nos últimos 12 meses, nada menos que 19 novas marcas chinesas fincaram bandeira no Brasil, elevando para 49 o número de grupos chineses no mercado. A gigante Zongshen foi uma das últimas a anunciar a entrada no País, com a abertura de uma fábrica em Manaus, prevista para começar a operar em outubro. Outra asiática, a japonesa Kawasaki, deve iniciar a produção local de suas motos também em outubro, em Manaus.

A chegada desses grupos ocorre em um momento difícil para o setor. De janeiro a maio, as vendas caíram 30% ante o mesmo período de 2008, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicleta (Abraciclo). Com o crédito ainda escasso para os financiamentos, que respondem por metade das vendas de motocicletas, a expectativa é que 2009 fique longe das 1,8 milhão de unidades vendidas no ano passado. "O mercado está em retração", diz o diretor executivo da Abraciclo, Moacyr Alberto Paes.

Apesar do cenário difícil, as marcas chinesas avançam. Elas já respondem por cerca de 10% das vendas do setor. Ao mesmo tempo, a líder Honda perde terreno - sua participação nas vendas caiu de 85% para 70% nos últimos cinco anos, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Há 37 anos no País, a japonesa Honda divide espaço agora com outras asiáticas e novatas como a Dafra, do grupo Itavema, que começou a operar em fevereiro de 2008 e fechou o primeiro semestre deste ano com 4,75% do mercado.

A CR Zongshen, resultado da joint venture da chinesa com o grupo CR Motors, pretende ter 5% do mercado em cinco anos. Segundo o presidente da CR Zongshen, Cláudio Rosa Júnior, a empresa veio para brigar com grandes fabricantes, como Honda e Yamaha. "Não somos uma montadora de peças chinesas", afirma. O grupo está investindo US$ 80 milhões na nova fábrica e na formação da rede de concessionárias.

Das 49 marcas chinesas presentes no mercado hoje, apenas 13 produzem nacionalmente - as demais importam ou montam 100% do produto com peças importadas. Além da CR Zongshen, fazem parte desse grupo a Motor Traxx, que decidiu abrir fábrica no País após dez anos atuando só como importadora. No ano passado, produziu 29 mil motocicletas. Este ano, segundo o gerente de marketing e vendas, Filipe Pereira, a meta era dobrar esse número, mas a crise mudou os planos. "Ainda assim, esperamos crescer 10% este ano."

As motos de baixa cilindrada, principal produto das chinesas, não estão no foco da Kawasaki. "Nesse momento, não pretendemos brigar com as outras asiáticas no (segmento) popular", diz o gerente de marketing, Ricardo Suzuki. O grupo não revela as expectativas de vendas com a abertura da unidade em Manaus. "Nosso objetivo é ganhar espaço no mercado brasileiro, o que ficava limitado atuando apenas como importador."

Na semana passada, outro sinal da ofensiva asiática no setor veio com o anúncio da parceria entre a Dafra e a indiana TVS. O acordo prevê transferência de tecnologia e fabricação de produtos da TVS, uma das três maiores na Índia, na fábrica da Dafra em Manaus. "Com a parceria, vamos ampliar nossa linha de produtos e poder disputar 80% do mercado nacional de motocicletas, em vez dos 48% atuais", diz Creso Franco, presidente da Dafra.

O provável novo desenho do setor não deve mudar a estratégia da Honda, de acordo com o diretor comercial da empresa, Roberto Akiyama. "Vamos continuar focando no relacionamento com nossos fornecedores e no pós-venda", afirma. Segundo ele, o interesse de novos competidores mostra que a Honda acertou ao apostar no País, 37 anos atrás. "Isso mostra o quanto o mercado é promissor."

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