Volks busca alternativa para elevar sua produção no país

Foto: Anna Carolina Negri - Valor

A Volkswagen pode decidir em breve por novos investimentos de peso para ampliar a capacidade industrial no Brasil. Os programas em curso não estão dando conta do aumento de demanda de produção. O dilema ocorre num momento histórico para a maior montadora do país: a Volks está em plena renovação da família de modelos da sua linha de produto mais importante, o Gol, que será lançado no domingo. Um pedido de reforço na estrutura da filial pode ser bem recebido pela matriz. O volume de vendas da Volks no Brasil superou este ano o da própria Alemanha, passando para o segundo lugar, atrás da China.

Thomas Schmall, presidente da Volks no Brasil

A direção da montadora no Brasil tem feito o que pode na área de processos para aumentar a produção e suprir o crescimento de mercado. Uma das providências em curso é o deslocamento de parte da produção do modelo Fox da fábrica de São José dos Pinhais (PR) para Pacheco, na Argentina. O presidente da Volkswagen no Brasil, Thomas Schmall, diz que o ideal seria concentrar determinadas linhas de modelos em uma única fábrica. Como seria o caso do Fox no Paraná. "Mas ninguém imaginava que o mercado ia crescer tanto."

A unidade argentina ajudará a abastecer o mercado brasileiro. As três fábricas do Brasil operam praticamente a plena capacidade. Em Taubaté (SP) a capacidade está toda ocupada e toda a fábrica está funcionando em três turnos. Em São Bernardo do Campo (SP), a unidade mais antiga da companhia e que esteve a ponto de fechar as portas durante enxugamento há três anos, ainda resta um pouco de fôlego, segundo Schmall.

Mas isso é por pouco tempo. No segundo lugar no mercado brasileiro, a Volks espera que a renovação da linha Gol renda um aumento de participação. Para vender mais, precisa produzir mais. Os planos da área de desenvolvimento estão acelerados. Embora a empresa não revele detalhes, está previsto para o final do ano o lançamento de uma versão nova do Gol, um sedã, o que significa voltar a participar de um segmento de mercado ocupado pelo velho Voyage na década de 80.

O ritmo de crescimento de produção surpreende o próprio presidente da companhia, que veio da Alemanha para assumir, em janeiro de 2007, a presidência da subsidiária. Ele conta que quando chegou a produção anual da Volks no Brasil era de 600 mil carros por ano. Para 2008 está previsto volume de 800 mil e para o próximo ano, 900 mil. "São 300 mil unidades a mais por ano em um período de três anos." No mesmo período, a empresa que, quando Schmall chegou acabara de encerrar um processo de corte de pessoal, abriu 2,8 mil novos empregos, num total hoje de 21 mil funcionários.

Os programas já em curso prevêem investimentos de R$ 3,2 bilhões no período entre 2007 e 2011. A decisão de investir mais pesado ou não é delicada. Schmall diz que mexer em qualquer estrutura para aumentar a capacidade significa retomar negociações com os sindicatos dos trabalhadores, fábrica por fábrica, uma tarefa sempre difícil nas bases dos metalúrgicos onde estão as unidades da Volks.

Além disso, o executivo lembra que o mercado brasileiro de veículos ainda conta com a proteção de um Imposto de Importação alto. A alíquota do tributo para carros vindos de fora do Mercosul e México é de 35%. Para Schmall é preciso preparar-se e estar em dia com os altos padrões de competitividade para enfrentar a concorrência externa no momento em que o setor não estiver tão protegido.

A solução do dilema que cerca Schmall poderá seguir por duas direções: ampliar a capacidade das fábricas ou fazer acordo com um parceiro, que pode ser um grande fabricante de componentes. Essa é uma prática comum na Europa. Schmall diz que a primeira opção conta com 80% de chances e a segunda com 20%.

Lidar com uma forte expansão em um momento em que se renova a principal linha de produtos é tarefa para poucos. O período de transição entre a saída de um modelo e a chegada de seu substituto acarreta em alguma perda de vendas. No caso da Volkswagen o impacto e o risco são ainda maiores.

O Gol tem uma participação de 12,6% no mercado de carros, o que significa que sozinho o modelo vende tanto quanto a Ford. Trata-se do automóvel até hoje mais produzido no Brasil, com 5,7 milhões de unidades desde o lançamento da primeira versão, em maio de 1980. Mexer em um campeão de vendas não foi tarefa fácil. As equipes de desenvolvimento e de vendas do produto dizem que o maior desafio foi conseguir uma drástica transformação sem que o carro perdesse os atrativos.

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