O mundo é insustentável, afirmam especialistas

Figura: istockphoto

Inspirados nos princípios da Carta da Terra, os debates realizados no I Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade, que ocorreu entre os dias 11 e 12 de junho, em Brasília (DF), mostraram de forma realista que o mundo se deteriorando. "Respeitar e Cuidar da Comunidade de Vida", "Integridade Ecológica", "Democracia, Não Violência e Paz", "Justiça Social e Econômica", como dita o documento ambiental, são conceitos que o mundo está longe de alcançar.

O presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC), Rajendra Pachauri, o planeta corre em um movimento insustentável. “É necessário mudar nossos valores. Pensar sobre a imprescindibilidade do consumo, hoje, excessivo. As pessoas comem tanto e depois vão para a academia queimar as gorduras. Isso não faz sentido”, afirmou o e vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2007.

Com os hábitos de consumo na ponta do iceberg, os palestrantes concentraram seus esforços em mostrar que, sem uma mudança radical, coletiva e sistêmica, não há saída. “Devemos educar nossas crianças para uma vida mais sustentável, pois já temos conhecimento suficiente para passar para as gerações mais novas para que elas desenvolvam um pensamento mais sustentável e que façam escolhas mais inteligentes”, argumentou.

Um exemplo claro veio da presidente da Ecoar, organização que promove projetos socioambientais desde 1992, Miriam Dualibi. Em pleno debate, sentada no palco do auditório, começou sua fala com uma sonora reclamação. “Estou passando frio aqui na frente. Não há motivo para um ar-condicionado tão forte. Somos obrigados a vir agasalhados, sendo que faz 40º do lado de fora. Não dá para baixar a potência?”, questionou. Aí a escolha inteligente.

No entanto, o antropólogo Eduardo de Castro, do Instituto Socioambiental, mostra que a questão não está apenas nesse ponto. Segundo ele, o mundo precisa de uma nova matriz civilizatória. “Defende-se o crescimento econômico, mesmo o sustentável. Mas de que crescimento estamos falando? Afinal ele pode ser antônimo de desenvolvimento, o realmente importante”, afirmou.

Castro alegou que não é preciso crescimento para erradicar a pobreza. “Sempre falou-se em fazer o bolo crescer para dividi-lo. Ele cresceu e muita coisa foi erradicada: as árvores, o ar puro, os animais, tudo, menos a pobreza.”

As fortes opiniões do antropólogo ainda foram mais longe, ao falar sobre as iniciativas dos setores privado e governamental sobre o impacto que geram no meio ambiente. “Essa idéia de não se faz omelete sem quebrar os ovos, para justificar o impacto é um completo absurdo. O problema de hoje é que pretendemos fazer o omelete matando a galinha”, brincou.

Miriam Dualibi fez coro ao Castro e disse que o engajamento com o tema sustentabilidade já é balzaquiano, com seus trinta anos de discussão. Ele lembra que, durante todo esse tempo, seus defensores sempre se apegaram na idéia de que o movimento caminha; que levaria alguns anos, mas que ele “engatinhava”.

“O problema é que, como o IPCC já demonstrou, não há mais tempo. O sistema faliu e precisa ser reformulado. Mesmo o Triple Bottom Line (que concerne os negócios envolvendo preocupações ambientais, sociais e econômicas) está velho. Ele não funciona porque, na pirâmide, o aspecto econômico sempre está no topo. Os três devem estar juntos”, disse.

Um exemplo dado por Miriam se referem à tecnologia de chuveiros elétricos, que na opinião dela, é ultrapassada. De patente brasileira, o produto funciona com um sistema de resistência que dispersa a energia, tornado o consumo maior. “Ao todo, 60% da conta de luz de casas mais pobres vêem do uso dessa peça.”

Com esse contexto, ela questiona a administração pública por baixar as alíquotas de ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e prestação de serviços) para que seja mais fácil comprar o produto. “Por que facilitar a difusão de algo ruim?”

Nesse momento, ela lembrou da construção das as usinas do complexo do Rio Madeira (Santo Antônio e Jirau), em Rondônia, e a de Belo Monte, na volta do Rio Xingu, no Pará. Com grandes impactos à região, juntas, as três hidrelétricas somam capacidade instalada de 17,6 mil MW. A valor é similar ao que o brasileiro gasta apenas com o chuveiro elétrico.

Uma idéia que qualquer um pode seguir é pensar todo o dia em que há escolhas. Ela é condizente com os nossos discursos e valore? A questão fica tão aberta quanto a real possibilidade de, na opinião dos convidados, mudar radicalmente para outro lado.

“Até quando as pessoas vão agüentar criticar o trânsito cada vez mais caótico das grandes cidades e reclamar e depois pensar que o recorde de vendas de carros é uma boa notícia para o país, que é parte do crescimento brasileiro”, exemplificou Eduardo de Castro.