Fiat passa a comprar mais componentes da Índia e China

Foto: Ricardo Benichio/Valor

A Fiat vai elevar o volume de compras de componentes nos países de baixo custo para abastecer as fábricas da companhia italiana em todo o mundo. A novidade é que o Brasil não faz mais parte do grupo de países de baixo custo. Ao contrário, as fábricas brasileiras serão também cada vez mais supridas por peças vindas principalmente da China e Índia, mais baratas do que no mercado local, segundo a direção mundial da empresa.

O valor anual das compras de todo o grupo Fiat no mundo soma 31 bilhões de euros. Desse total, 7 bilhões de euros são gastos nas regiões de baixo custo de produção, em que se destacam China, Índia e Leste Europeu.

O plano da companhia é elevar esse gasto anual em um adicional de 1,5 bilhão de euros até 2010. Isso significa que em dois anos a participação dos países de baixo custo nas compras anuais do grupo italiano passará dos atuais 28% para 34%.


Brasil está fora desse mapa. "Os custos no Brasil chegam a ser até mais elevados do que na Europa Ocidental", explicou durante um seminário ontem, dia 13, o diretor global de compras do grupo Fiat, Gianni Coda, a uma atônita platéia de fornecedores habituados a um passado em que as montadoras intermediavam as suas exportações para a Europa.

  Gianni Coda, diretor global de compras do grupo Fiat

Mas agora o câmbio e custos de maneira geral atrapalham, segundo Coda, que foi presidente da Fiat Automóveis no Brasil entre 1999 e 2002. É por isso que ao invés de ajudar os fornecedores brasileiros a exportar desta vez a filial brasileira do grupo começa a importar mais peças.

A fábrica de automóveis no Brasil, a maior operação da companhia fora da Itália, começou a participar mais ativamente das importações dos países asiáticos com as rodas de liga leve.

Segundo o diretor de compras da Fiat na América Latina, Osias Galantine, rodas chinesas estão chegando a preços 20% mais baixos. A empresa começou com encomendas de 10 mil a 15 mil peças por mês. Mas pretende dobrar o volume em seis meses. Daqui a algum tempo, segundo cálculos do executivo, mais de 30% das compras anuais de rodas de liga leve usadas nos carros produzidos no Brasil virão da China.

Pneus é outro caso, com preços 10% mais baixos, segundo a empresa. E até o aço, vindo da Coréia do Sul, começará a ser importado pela Fiat, segundo Galantine. O aço coreano poderá chegar custando até 15% menos que o produto nacional, garantiu o executivo.

Pouco a pouco, o índice de nacionalização nos carros fabricados pela montadora líder do mercado brasileiro começará a cair. Hoje, entre 95% e 97% do custo de um automóvel fabricado pela Fiat no Brasil é formado por autopeças nacionais. Galantine estimou que daqui um ano a participação dos itens importados chegará a 10%.

Esse quadro acaba se refletindo também no mapa global das linhas de montagem. Segundo Coda, na Índia o custo de produção do Punto é, em média 10% a 15% menor do que no Brasil. "Há casos de diferenças de preços de até 25%", afirmou o executivo.

Depois de passar por uma crise financeira, mais intensa entre os anos de 2004 e 2005, a direção da Fiat está em pleno processo de fortalecimento das suas finanças globais. Após fechar 2005 com uma margem operacional negativa de 1,5%, a companhia deverá alcançar um resultado positivo de 3,6% ainda neste ano e previsão de 3,9% em 2010.

Esse processo passa também pela redução de custos com o fornecimento. As mudanças incluem a racionalização do parque de fornecedores e sinergias para a área de criação de novos projetos. Daqui a dois anos, a empresa deverá diminuir o número das plataformas dos carros de nove para quatro.

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