Política industrial do governo vê turbulência até 2009


A política industrial do governo, que deverá ser anunciada no início de abril, não terá como objetivo socorrer as empresas exportadores imediatamente, e sim prepará-las para que estejam competitivas quando a crise financeira nos Estados Unidos se dissipar, informou o Jornal Folha de São Paulo.

Por isso, o principal viés da política industrial será incentivar os investimentos dessas empresas para que aumentem sua capacidade de produção. A Folha apurou que a equipe econômica trabalha com o cenário de que a crise terá acabado na metade de 2009, dado que a recessão na maior economia do mundo já começou.

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, confirmou ontem que os objetivos da política industrial devem ser atingidos em dois anos. Segundo ele, a expectativa é elevar, até 2010, a taxa de investimento do país para 21% do PIB. Atualmente, os investimentos representam 17% da soma de riquezas produzidas pelo país.

"O fato de termos uma situação da economia mundial mais nervosa dá mais importância para esse trabalho que estamos fazendo. Temos que nos preocupar em incentivar e fortalecer a capacidade de exportação da economia brasileira", disse Jorge, que se reuniu ontem com o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Jorge informou que a política industrial foi desenhada com medidas de desoneração tributária, linhas de financiamento mais baratas e o "uso da capacidade de compra do governo". Ele negou que esse último pilar signifique que o governo vai gastar mais para garantir a rentabilidade dessas empresas.

"O governo não vai consumir mais. Vai coordenar a política porque ele já consome hoje, compra fármacos, aparelhos ortopédicos. Vamos fazer um projeto em que a capacidade de compra possa estimular uma produção melhor, com mais qualidade", explicou.

Ao final da reunião no Ministério da Fazenda, Miguel Jorge disse que a política industrial será um pacote com cerca de 50 medidas "de toda natureza". Entre os 25 setores que serão beneficiados pelo pacote está a indústria automobilística, cujo desempenho foi recorde em 2007. O governo quer garantir que a indústria mantenha em alta as exportações de automóveis quando houver mercado.

O ministro espera que, com o apoio da política industrial, o setor automobilístico possa investir para ampliar a capacidade produtiva de 3,5 milhões de unidades por ano para 5,5 milhões de unidades em 2010. Para aumentar os parques industriais, o investimento necessário é de US$ 20 bilhões -metade nas fábricas de autopeças e metade nas montadoras.

Miguel Jorge nega, porém, que seja um auxílio apenas para as vendas externas do setor. "Vemos consumidores esperando até dois meses por um carro. A indústria automobilística já chegou ao limite."

Ele disse que a meta de atingir US$ 180 bilhões em exportações neste ano foi mantida. Coutinho disse que a aprovação do Orçamento tornou mais claro o espaço que o governo terá para conceder benefícios na política industrial.

"É possível para o Ministério da Fazenda avaliar o esforço que pode ser feito em termos de incentivo à política industrial. Estamos rodando várias simulações para ver os instrumentos mais eficientes e o custo deles."

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