Atividade manufatureira no Brasil desacelera a mínima em 16 meses

A atividade no setor manufatureiro do Brasil engatou marcha lenta e desacelerou em outubro ao menor ritmo em 16 meses, pressionado por retrações na produção e nas encomendas em meio a escassez de materiais básicos, enquanto a confiança desceu a uma mínima em quase um ano e meio com ameaças ao cenário vindas de instabilidade política e de preços.

As informações da sondagem conduzida pela provedora de dados IHS Markit foram coletadas entre 12 e 22 de outubro, período de forte volatilidade nos mercados domésticos que gerou um salto nas expectativas de inflação, num momento em que o aumento dos preços também preocupa outros países.

O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês, uma medida da percepção de empresários sobre a atividade no setor) caiu a 51,7 em outubro, bem abaixo da marca de 54,4 de setembro.

Números acima de 50 ainda indicam expansão da atividade no setor fabril, mas o patamar do índice em outubro foi o mais baixo desde junho de 2020 (ainda no início da retomada do baque da pandemia meses antes), apontando esfriamento na expansão dos negócios.

“Os resultados do PMI mostraram que problemas prolongados na cadeia de suprimentos, destacados pelos fabricantes brasileiros nos últimos meses, aumentaram consideravelmente de proporção em outubro após recuo em setembro, tendo impacto negativo na produção e nos pedidos das empresas”, disse Pollyanna De Lima, diretora associada de Economia da IHS Markit.

O crescimento da atividade manufatureira foi sustentado pelo aumento de compras pelo setor e por contratações de trabalhadores, bem como por atrasos nos prazos de entrega dos fornecedores –normalmente um reflexo do fortalecimento das condições de demanda.

“Embora os postos de trabalho continuem a crescer no momento, uma queda continuada nas vendas, o aumento das despesas operacionais e reduzidas expectativas dos negócios podem prejudicar a recuperação do mercado de trabalho”, alertou De Lima.


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Os fabricantes de produtos registraram a primeira queda na produção desde abril, associada por eles a vendas apenas moderadas, escassez de matéria-prima e severas pressões sobre os preços.

Na mesma linha, as novas encomendas caíram pela primeira vez também em seis meses. Segundo a IHS Markit, as empresas notaram uma redução nos volumes da carteira de pedidos em outubro, resultante de preços mais altos de bens finais, confiança menor e demanda fraca. Algumas firmas sugeriram que as vendas caíram devido à falta de matéria-prima para realizar a produção dos pedidos programados.

Uma medida de novos pedidos de exportação engatou a terceira queda mensal, que foi ainda a mais intensa desde agosto do ano passado, indicando fraca demanda por parte de clientes internacionais.

Com o contexto inspirando mais cautela, a confiança recuou. A medida dentro da pesquisa do PMI para o sentimento empresarial declinou a uma mínima em 17 meses em outubro. Quem vê desaceleração na atividade do setor fabril cita instabilidade política e nos preços como ameaças às perspectivas.

Embora a inflação de produtos básicos tenha desacelerado para uma mínima em 15 meses, conforme números do PMI, a taxa ainda mostrou leitura mais alta do que qualquer uma vista antes desse período –a série começa em fevereiro de 2006.

Os participantes da pesquisa citaram preços mais altos em uma ampla gama de itens, incluindo produtos químicos, componentes eletrônicos, energia, tecidos, metais, papel, embalagens, plásticos e borracha. A escassez de contêineres e de matéria-prima, a seca extrema e a força do dólar também foram apontadas como razões por trás dos aumentos de preços.

Com isso, os valores cobrados pelos manufatureiros por seus bens intensificaram a alta em relação a setembro e tiveram a maior leitura para qualquer mês antes de agosto de 2020.

A IHS Markit informa às 10h (de Brasília) da próxima quinta-feira (4) dados do setor de serviços de outubro, bem como o PMI composto para o mês. (Com Reuters)