Salvador ganha supercomputador de R$ 27 milhões que vai monitorar petróleo

AIRIS é equivalente a 5 mil computadores pessoais funcionando em conjunto

A máquina mais potente do país dedicada à pesquisa em indústria está na Bahia. Com 800 TeraFLOPS de capacidade de processamento, o supercomputador AIRIS é equivalente a 5 mil computadores pessoais funcionando em conjunto. Se ele fosse um carro, teria a velocidade e eficiência de um automóvel de Fórmula 1. Com um investimento de R$ 27 milhões o computador foi inaugurado na tarde desta quinta-feira (24), no Senai-Cimatec, em Piatã.

A princípio ele atenderá demandas de big data do setor de petróleo e gás. O maior exemplo de uso dela nesta indústria é o mapeamento de subsolos marítimos por meio de sondas em navios. As sondas geram dados que são processados pelo supercomputador e que ajudam a identificar a existência e as características de reservas de petróleo. O AIRIS consegue trabalhar informações em 26 GB por segundo.

O equipamento completo, que ocupa duas salas do Cimatec, é interessante para viabilizar tomadas de decisões com maior retorno econômico para a indústria. Assim, imaginemos uma situação prática em que uma empresa precisa saber se existe combustível fóssil num determinado lugar.

“Imagine, perfurar um poço e não encontrar petróleo?”, rebate Adhvan Furtado, gerente de computação do Senai. Então, em situações como a citada, as máquinas ajudam empresas a simular e prever coisas, de forma rápida e eficiente, antes da tomada de decisões. Ainda segundo Furtado, é possível afirmar que se não fosse por computadores como o AIRIS, o pré-sal brasileiro sequer seria descoberto. 

Os especialistas presentes na inauguração apontaram que a indústria de petróleo e gás vem passando por uma transformação digital, que é considerada tardia, mas muito promissora. Com dados em mãos é mais fácil prever situações que poderão trazer maior retorno econômico e melhor redução de custos para o setor petrolífero.


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O AIRIS é fruto de uma parceria entre o Senai Cimatec e a petroleira espanhola Repsol Sinopec. De acordo com Tamara García, gerente de P&D da Repsol, o supercomputador ajudará a impulsionar pesquisas internacionais e que, por causa dele, já está em andamento uma colaboração entre Brasil, Espanha e China.

Com esta inauguração, o AIRIS é agora o quarto supercomputador instalado na instituição. De acordo com Leone Peter Andrade, diretor de Tecnologia e Inovação do SENAI Cimatec, esta nova máquina tem mais capacidade do que as outras três juntas. Ao todo, o investimento em High Performance Computing (HPC) implantado no Cimatec chega a mais de R$ 60 milhões.

“Nós visamos aumentar a competitividade das empresas brasileiras. Atualmente, faz parte de todas as corporações avançar na digitalização. A Inteligência Artificial (IA) demanda alto poder computacional e isto só vai aumentar ao longo dos anos”, explica Andrade. 

Para se ter uma noção, a vida útil de um supercomputador é de apenas cinco anos. Um investimento altíssimo e de baixa durabilidade. É que neste prazo, novas tecnologias vão sendo criadas, o que impõe a substituição da máquina por outras mais rápidas e cada vez mais baratas. 

Com cerca de 3,6 metros de comprimento por 1,2m de altura, o AIRIS é fabricado pela multinacional francesa Bull e demorou dez meses para ficar pronto. Para tomar conta dessa belezinha, que já está em funcionamento, existe uma equipe de oito pessoas que se reveza para monitorá-la 24 horas, sete dias na semana. 

Embora o supercomputador seja voltado prioritariamente para o tratamento de big data (grande volume de dados) do setor de óleo e gás, ele também pode beneficiar outros segmentos que demandam alta capacidade de processamento, como os de energias renováveis, biotecnologia e mineração.

"Foi um desafio montar uma arquitetura de configuração específica para problemas complexos de petróleo e gás, mas ao mesmo tempo genérica o suficiente para realizar atividades em outros setores", explica o Gerente do Centro de Supercomputação do SENAI CIMATEC, João Marcelo Silva.

O trabalho que o AIRIS terá que executar é baseado no conceito de Digital Twin (do inglês, gêmeo digital). Por meio de modelos virtuais criados pelo computador, os especialistas conseguem dimensionar com máxima precisão o resultado de uma situação ou projeto. 

De acordo com o Senai, em relação às versões mais antigas de supercomputadores, o AIRIS representa avanços em termos de sustentabilidade, com uma melhor eficiência térmica e custo de energia menor. 

“Na indústria do petróleo, sempre falamos de ser auto-suficientes e, sem dúvida, o caminho é a digitalização. Não tenho dúvidas de que estamos criando um futuro brilhante na indústria global. Tudo isso é benefício para empresas, universidades e a sociedade como um todo”, discursou Mariano Ferrari, CEO da Repsol Sinopec Brasil. 

Ele acrescentou ainda que as imagens sísmicas geradas pelas super máquinas terão qualidade cada vez melhor para analisar operações complexas como as do pré-sal. Adhvan Furtado explica que o sal marítimo distorcia os sinais das sondas e que os supercomputadores criaram algoritmos para lidar com essas distorções, corrigindo-as.

Presente no evento, o secretário da Casa Civil do Estado da Bahia, Bruno Dauster, valorizou a iniciativa e disse que a digitalização é um processo que precisa ser ampliado. O gestor prevê a adoção da medida na administração pública para agilizar serviços para o governo e para a sociedade.

Embaixador da Espanha no Brasil, Fernando Garcia Cassas lembrou que no mundo inteiro tem surgido novas demandas e conflitos sociais. E que por isso, desafios como migrações, mudanças climáticas e crime organizado requerem soluções novas.

“As sociedades americanas e da península ibérica precisam de melhor educação, segurança, saúde e melhor produtividade. É aí que soluções como o AIRIS entra na história. Precisamos de mais pesquisa e inovação. Se precisamos de tudo isso, é tempo de AIRIS”, finalizou Cassas.

Confira as capacidades dos supercomputadores do Cimatec

TeraFLOPS: Trilhões de operações por segundo

OMOLU (10 TeraFLOPS): montado em parceria com a Fiocruz para processamento de dados de pesquisas na saúde pública através do Data SUS. Faz previsões de comportamentos, gera dados de tendências sobre hanseníase e tuberculose.

ÒGÚN (104 TeraFLOPS): utilizado por um centro de computação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), ele aprimora simulações relacionadas a cálculos estruturais, dinâmica dos fluidos, conformação de materiais, entre outras. Já criou um mapa da energia solar da Bahia para identificar potenciais de investimento.

YEMOJA (400 TeraFLOPS): utilizado em pesquisas de geofísica. Simula extrações de grande profundidade na área do pré-sal.

AIRIS (800 TeraFLOPS): voltado para pesquisas no setor de petróleo e gás através de Digital Twin.


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