PSA renova aposta na América Latina após resultados fracos

Vendas menores e crise argentina interromperam três anos de lucro na região

O balanço de 2018 do Grupo PSA divulgado na terça-feira, 26, trouxe à tona rentabilidade recorde, mas desta vez a divisão América Latina não conseguiu contribuir com os bons resultados. Após três anos de lucros de 2015 a 2017 (a companhia não divulga resultado financeiro regional), no ano passado a operação latino-americana ficou próxima da estabilidade, não lucrou nem perdeu, sob impacto de queda de 15% nas vendas (175 mil unidades no total) e forte crise na Argentina. Apesar do desempenho fraco e expectativa de nova retração de 1% este ano, a direção da empresa segue renovando sua aposta na região, com promessa de investimentos e lançamentos que deverão colocar a divisão de volta ao caminho do crescimento rentável e sustentável. 

A expectativa da PSA em 2019 é de crescimento em torno de 10% das vendas de modelos Peugeot e Citroën no Brasil. Em 2018, com mudanças no mix de produtos e o lançamento do Citroën C4 Cactus só no último trimestre do ano, as duas marcas juntas do grupo registraram apenas 44 mil emplacamentos no País, em queda de quase 11%, fazendo a participação de mercado descer a 1,8%. Na Argentina, onde a PSA tem a maior participação da América Latina (11,8%) o tombo foi mais profundo e este ano é esperada nova retração. 

Patrice Lucas, presidente do Grupo PSA na América Latina, afirma que o objetivo principal segue sendo o crescimento com rentabilidade. Mesmo com a esperada retração das vendas este ano na região, ele pontua que cortes de custos e modelos mais rentáveis em linha deverão manter o balanço no azul. Lucas garante que as duas fábricas na região, Porto Real no Brasil e El Palomar na Argentina, receberam investimentos que as colocam nos melhores níveis de produtividade e competitividade do mundo, o que comprova, segundo ele, o comprometimento da companhia em continuar fortalecendo as operações no Mercosul, onde a PSA está no meio do plano de 16 lançamentos no período 2017-2021. 


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“Esses investimentos e lançamentos comprovam que estamos aqui para ficar, não há risco [de fechar a operação] neste momento. Investimos porque acreditamos que a situação vai melhorar, que tanto Brasil como Argentina vão tomar as decisões necessárias para tornar a região mais competitiva”, disse Patrice Lucas.

Lançamentos, nova plataforma e mais eficiência

Dos 16 lançamentos prometidos, nove já foram feitos, incluindo uma ofensiva de SUVs com os importados Peugeot 3008 e 5008 e o nacional Citroën C4 Cactus. Este ano o Peugeot 2008 deve passar por alguma renovação. Também foi iniciada com sucesso a investida no mercado de utilitários com os Citroën Jumpy e Jumper e Peugeot Expert e Boxer. Dentro do plano, falta apresentar sete novos modelos de 2019 a 2021 e a maioria deles, confirma Lucas, será construída sobre a nova plataforma modular global CMP do grupo. 

A CMP deve começar pela Argentina, onde a fábrica de El Palomar recebe investimentos de US$ 320 milhões e passa por profunda modernização. Lucas confirmou que a nova plataforma será introduzida na planta argentina no fim deste ano e o primeiro produto construído sobre ela chega aos mercados do Mercosul em 2020. O executivo evita o quanto pode dar pistas de quais serão esses carros, mas fica claro que a intenção é aproveitar ao máximo a onda SUV que invade os mercados. Portanto, a tendência é que um novo utilitário esportivo seja lançado antes de qualquer outro modelo fabricado sobre a CMP – que em 2020 também terá uma variante no Brasil e possivelmente dará origem a outro SUV de maior porte. 

A planta brasileira de Porto Real também recebeu investimentos recentes, de R$ 580 milhões entre 2016 e 2018 para modernizar a unidade e iniciar a produção do SUV compacto Citroën C4 Cactus, lançado no fim de setembro do ano passado com grandes expectativas de dobrar as vendas da marca no Brasil – que já é o segundo maior mercado mundial do modelo – e conquistar novos mercados externos. O Cactus brasileiro começa este ano a ser exportado para fora do Mercosul, devem ser enviadas 2 mil unidades para a Colômbia e serão embarcados em breve os primeiros lotes para a África, ainda em definição de volumes e países. 

“Porto Real é hoje uma das mais eficientes fábricas do grupo no mundo. É por causa dos investimentos que fizemos, da eficiência em custos e qualidade que conquistamos que hoje conseguimos exportar o C4 Cactus para fora do Mercosul”, destaca Lucas. Ele avalia que o SUV Citroën será este ano a principal mola impulsora da produção do grupo na América Latina. Em 2018 foram produzidas em Porto Real 77,6 mil unidades, em queda de 19% sobre 2017. O resultado negativo pode ser creditado à forte retração na Argentina, para onde segue perto de metade dos produtos fabricados pela PSA no Brasil, que só este ano começa a prospectar novos mercados. A fábrica brasileira tem 1,9 mil empregados e atualmente opera em dois turnos. 

“Quando cheguei aqui (no início de 2018) fiquei chocado ao saber que era mais barato importar um carro da PSA na Europa para vender no Chile do que mandar para lá um veículo produzido no Brasil”, pontua Lucas. “O País precisa decidir se quer continuar grande no mundo automotivo. Para isso precisa buscar reduzir tributação, burocracia e custos logísticos, ter fornecedores competitivos, para aumentar sua competitividade internacional”, defende. 

Em busca da rentabilidade

Lucas avalia que ter fechado 2018 no empate de zero a zero nas contas da PSA na América Latina pode ser considerado uma vitória. “Foi um ano com muitas dificuldades. No Brasil tivemos a greve dos caminhoneiros. Na Argentina a situação ficou muito complicada, com inflação de 48% e forte desvalorização cambial. Tivemos queda nas vendas nos nossos maiores mercados na região (pela ordem, Brasil, Argentina, México e Chile). Por isso o desafio de manter a rentabilidade foi grande”, diz. 

“Mas fizemos avanços, fomos rentáveis de 2015 a 2017, continuamos com nossa ofensiva de lançamentos de SUVs e utilitários comerciais, seguimos com a modernização e digitalização das fábricas, mantivemos nossa eficiência operacional de custos e elevamos a satisfação dos clientes. Assim criamos as bases para crescer de forma rentável nos próximos anos”, pondera. 

O executivo reconhece que a região sob sua supervisão ainda “não atingiu os objetivos de rentabilidade” propostos pelo plano estratégico da PSA, o “Push to Pass”, lançado em 2016 e que agora entra em sua segunda fase até 2021. “Mas a trajetória é positiva e avaliamos que vamos ajustar os resultados na América Latina até o fim do plano nos próximos três anos”, confia. 

“Claro que nosso objetivo é voltar ao balanço azul em 2019. Apesar de nossa projeção ser de queda de 1% nas vendas na América Latina este ano, vamos defender nossa posição com rentabilidade”, afirma Freddy Audebeau, vice-presidente financeiro do Grupo PSA na região. 

Audebeau destaca que, apesar de o Brasil continuar a apresentar prejuízo, o grupo teve lucro operacional na América Latina em 2018, mas precisou contabilizar no balanço efeito negativo de € 83 milhões da “hiperinflação” na Argentina, o que causou efeito contábil de jogar para perto do zero o resultado na região no ano passado. “Com tudo que aconteceu tivemos de defender nossa rentabilidade, não entramos em guerra de preços, o que prejudicou o resultado (em volumes)”, avaliou.


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