Mineração a seco é alternativa sustentável

A ocorrência de mais uma tragédia no setor da mineração trouxe ainda mais à tona a urgência do debate sobre opções sustentáveis para o setor. O rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, em 25 de janeiro, foi mais um alerta para que o modelo de mineração nacional seja repensado.

Para o diretor-presidente da Ourominas, Juarez Filho, tanto o caso de Brumadinho como o de Mariana, chamam para uma reflexão sobre o método de mineração a úmido, que produz os rejeitos. “O modelo deve ser repensado principalmente porque já existem alternativas no mercado”, diz.

Ele defende que a sustentabilidade deveria ser prioridade no setor de mineração. Uma das alternativas, afirma, é o beneficiamento a seco. E a avaliação de que a técnica pode ser o futuro da mineração é, inclusive, um dos posicionamentos da Vale.

“Desde 2016 a empresa já vinha adaptando sua forma de trabalho para diminuir a necessidade do uso de barragens. A ideia da Vale é que até 2025, cerca de 70% de todas as minas da empresa funcione com mineração a seco”, informa Juarez.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), o projeto está em funcionamento no Pará desde 2017 e o objetivo da companhia brasileira é que até 2022 o estado tenha 70% da mineração de ferro a partir da técnica a seco. Atualmente pouco mais de 40% é produzido assim, com pouco uso de água.

Tecnologia nacional

Segundo Juarez Filho, o mercado brasileiro já possui uma tecnologia de mineração a seco. Idealizado por ele e Lançado no ano passado, o Eco Gold System Joares – inovador no setor – não utiliza água no processo de separação do ouro e cobre.

“A preservação ambiental não é uma moda, ela veio para ficar. Cada vez mais estamos nos conscientizando que é preciso buscar alternativas ecológicas que respeitem o meio ambiente e sejam benéficas para as pessoas também”, pontua.


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Juarez, que atuou um período no garimpo, ressalta que começou a trabalhar no projeto porque sabia da urgência de melhorar o modelo de produção mineral no Brasil. Ele comenta, ainda, que iniciativas assim trarão retornos incalculáveis para todo o planeta.

O Eco Gold System Joares desidrata a terra para depois moer e posteriormente, através de um avançado sistema, separar o ouro dos demais materiais. Ele também dispensa a utilização de produtos químicos como mercúrio e cianeto, o que impede possíveis contaminações no solo.

Dessa forma, obtêm-se aproximadamente 90% do minério e, com este grau de aproveitamento, não será necessário utilizar agentes químicos para beneficiar os resíduos do ouro.

“A inovação consegue, ainda, eliminar a necessidade de criar barragens de rejeitos, o que pode representar até 80% a menos de custo na comparação com o método tradicional. Além disso há a economia hídrica. Por causa disso, além de evitar a utilização de água, há um benefício financeiro, já que os gastos no processo podem ficar até 50% menor para o empreendimento”, acrescenta Juarez.

A economia de água é, inclusive, um dos fatores que impressiona. De acordo com empreendimentos do setor de mineração, uma tonelada de ouro extraída pode chegar a utilizar 489 litros de água em todo o processo. Ademais, a tecnologia ainda oferece aos empreendimentos uma redução de até 80% nos custos em relação à reserva ambiental.

O diretor da Ourominas ressalta que a questão de controle da contaminação é um dos pontos fortes do equipamento. O assunto é importante porque o passivo tóxico da mineração tradicional pode afetar gerações. “Se daqui a 10 anos uma família for morar na região que serviu para mineração, certamente o solo estará contaminado. Então, cabe ao setor se modernizar”, diz.

Juarez Filho conclui, ressaltando a importância da mineração para o país e defende que o setor precisa se reinventar. “A mineração a seco é a solução, não tem jeito. Ela fica um pouco mais cara no começo, mas depois ela começa a baratear e reduzir muito os custos, sem contar todos os benefícios ambientais”.

Brumadinho poderá ser a pior tragédia humana já ocorrida, aponto relatório da ONU

Uma recente avaliação do relatório da Agência de Meio Ambiente das Nações Unidas, que registra os maiores rompimentos de barragens desde 1985, indica que a tragédia humana de Brumadinho poderá ser a pior já ocorrida no mundo, ficando à frente da que varreu as cidades de Stava e Tesero, no norte da Itália, naquele ano, matando 267 pessoas.

Segundo o geólogo Alex Cardoso Bastos, um dos autores do relatório, “Brumadinho estará, infelizmente, no topo dos desastres, considerando que o número de desaparecidos se aproxima de 300 pessoas”.

Atualmente, o Brasil tem 430 barragens de minério, aponta a Agência Nacional de Águas (ANA). A barragem de Brumadinho – a de Mariana também – é do tipo ‘à montante’, feitas com os próprios rejeitos. Os detritos minerais, rochas e terras escavadas durante a mineração, descartadas por não terem valor comercial, são depositados em camadas num vale, formando a barragem. Esse tipo de ‘lixão de minério’ é mais barato para as empresas. Mas é, também, o que oferece mais riscos.

Para Alex Bastos, que é professor de Geologia da Universidade Federal do Espírito Santo, uma alternativa mais segura a esse tipo de barragem é a armazenagem a seco de rejeitos minerais. Mas a técnica é mais custosa. “O benefício é que os rejeitos não ficam confinados em barragens que podem romper. Mas o custo para secar os rejeitos e armazená-los em silos é muito mais alto”, diz.

O relatório da ONU elenca as principais causas de rompimentos de barragens e afirma que chuvas fortes e prolongadas, furacões e abalos sísmicos podem provocar rupturas ou transbordamentos. Mas, mesmo nesses casos, considera que houve erro humano, já que o planejamento de risco para manutenção e construção da barragem deve levar em conta as condições climáticas do local.