Crise financeira chega aos metais

Fonte: Valor OnLine - 17/08/07

O cenário de volatilidade que tomou conta dos mercados de commodities metálicas no rastro da crise imobiliária nos Estados Unidos, que vem derrubando as bolsas de todo o mundo, divide as mineradoras. A Companhia Vale do Rio Doce avalia que não será afetada pela conjuntura de curto prazo, já que trabalha com contratos longos de minério de ferro e outros metais e tem estrutura financeira para atravessar este período com tranqüilidade, segundo sua assessoria. Já Geraldo Haenel, presidente da Paranapanema, diz que "a volatilidade não é boa para as empresas do setor, pois trás incerteza para a relação fornecedor e cliente". Aldo Albanesi, diretor de alumínio da anglo-australiana BHP Billiton, no Brasil, não esconde a preocupação. "Todo agito em qualquer direção é preocupante, por isso estamos preocupados na dimensão dos nossos negócios."

Para Albanesi, dependendo da dimensão da crise, a seu ver ainda potencial, todas as mineradoras podem ter o faturamento afetado. "A BHP Billiton é pesada em commodities que governam seus contratos e pode ser impactada, pois a exceção do minério de ferro, que tem negociação direta com os clientes, níquel, manganês e cobre, que integram portfólio diversificado, são commodities negociadas em bolsa e mais expostas às oscilações dos mercados especulativos."

Haenel acredita que a queda nas cotações das commodities não altera muito os negócios de cobre da Paranapanema, pois ela importa o metal e exporta seus derivados. "A base dos preços do concentrado de cobre e do minério de cobre é cotada na Bolsa de Londres (LME). Se cair compro mais barato". Mas, as oscilações no estanho, produzido pela mineradora, afeta a Paranapanema. Segundo o executivo, nos últimos dias o preço do estanho caiu do pico de US$ 16.500 a tonelada para US$ 14.000, mas ainda está alto. "Para nós, o que é ruim para nossos clientes é esta volatilidade. Espero que seja passageira e se estabilize". A Paranapanema exporta 55% da produção, equivalente a uma receita de US$ 1,2 bilhão.

Paulo Petrassi, diretor financeiro da Hydro Brasil, subsidiária da norueguesa Norsk Hydro, quarta maior produtora mundial de alumínio, não crê que a empresa sofra por conta do abalo financeiro. Para ele, o preço do alumínio não está em queda em função da crise, mas de um rearranjo do mercado, já que subiu muito. A cotação do alumínio fechou ontem em US$ 2.501 a tonelada, depois de ter chegado a US$ 2.860. Na análise de Petrassi, a China é a grande compradora de alumínio e a crise ainda não afetou a Ásia. Segundo ele, a aposta da Hydro é de que a China será o motor do crescimento mundial de metais básicos nos próximos anos.

Para analistas de mineração ouvidos pelo Valor, ninguém sabe ao certo o alcance desta crise, se é um ajuste técnico ou estrutural. Daí a volatilidade que contamina as commodities metálicas. Neste contexto, a incógnita é a China. No raciocínio dos analistas, se a redução da atividade nos Estados Unidos for maior do que o esperado e o consumo local enfraquecer muito, a China vai exportar menos e, em consequência, crescer menos. Ao invés da previsão inicial de 11%, poderá cresce 8% ao ano. Neste caso, as coisas entram num novo patamar e as mineradoras poderão ser afetadas por demanda mais baixa pelo minério de ferro. O aumento do preço do insumo poderá não ser tão alto em 2008 quanto o esperado (em torno de 20% a 25%).

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