Indústria projeta maior expansão desde 2010

O avanço da produção industrial acumulado até novembro - de 2,3% frente ao mesmo período do ano anterior - indica que o setor encerrou o ano passado com seu maior crescimento desde 2010 (10,2%), após três anos consecutivos no vermelho.

Para analistas, o setor deve acelerar seu ritmo em 2018 e passar a contribuir positivamente para o resultado do Produto Interno Bruto (PIB).

Divulgada na sexta-feira pelo IBGE, a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) de novembro mostrou crescimento de 0,2% na produção do setor, na comparação a outubro, pela série com ajuste sazonal. Embora modesta, essa alta segue-se a outras duas de 0,3% registradas em setembro e outubro. Ante ao mesmo mês de 2016, houve alta de 4,7%.

Assim, a alta preliminar esperada para dezembro, em torno de 1% nas contas do Itaú Unibanco, seria mais do que suficiente para garantir um crescimento da indústria acima de 2% no ano passado. O Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV) estima alta de 2,7% em 2017, enquanto a consultoria Tendência calcula um avanço de 2,4% em 2017. Para o banco Haitong, a alta seria de 2,3%.

Segundo Thiago Xavier, economista da consultoria Tendências, o crescimento do setor deu-se na esteira da queda da inflação, o que favoreceu o ganho real salarial; a melhora do emprego; a redução da taxa básica de juros; a liberação de recursos das contas inativas do FGTS; a safra recorde, que gerou um efeito demanda sobre outros setores; demanda externa; entre outros.

O aumento na fabricação de automóveis foi o principal destaque positivo, ao crescer 16,6% de janeiro a novembro de 2017, frente ao mesmo período do ano anterior. Outras contribuições relevantes vieram de indústrias extrativas (5,3%), de eletrônicos e eletrodomésticos (19,6%) e da metalurgia (3,7%). Dos 26 ramos da indústria, 19 tiveram aumento de produção.

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"É claro que a recuperação se dá sobre uma base bastante deprimida, após três anos de queda da produção do setor industrial", pondera Xavier, referindo-se ao recuo de 16,7% da produção industrial acumulada entre 2014 e 2016. "A indústria está recuperando apenas uma pequena parcela da queda dos últimos anos, mas o início da recuperação é positivo e ela deve se acelerar ao longo deste ano."

Para Xavier, a produção da indústria deve crescer em torno de 5% neste ano, com ajuda novamente do setor automotivo e da indústria extrativa. A Fundação Getulio Vargas prevê alta ligeiramente maior, de 5,3%. Para o banco Haitong, o avanço será um pouco menos expressivo, na ordem de 3%.

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), acredita que uma recuperação mais consistente do setor deve começar apenas após as eleições presidenciais. Para ele, o resultado de 2017 marca o início de recuperação do setor, mas com um "nível de fragilidade". Nas contas do Iedi, a indústria automotiva contribuiu sozinha por metade (1,2 ponto percentual) da alta de 2,3% do setor no ano.

"A parcela restante veio da atividade extrativa (0,7 ponto) e da produção de eletrônicos e eletrodomésticos (0,4 pontos). Os outros segmentos, por sua vez, tiveram altas moderadas ou pequenas baixas. Ou seja, houve em 2017 uma forte desproporcionalidade entre os ramos da indústria, o que mostra um recuperação ainda frágil", disse Cagin, que prevê alta "pouco acima de 2%" do setor em 2017.

Apesar disso, a expectativa é que a alguns ramos da indústria contribuam positivamente para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2017. É o caso do PIB da indústria de transformação (1,3%), da indústria extrativa (5,3%) e da eletricidade (1,1%), segundo Julio Mereb, consultor da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

"O PIB da indústria como um todo ainda deve encolher 0,2% em 2017, mas porque a construção civil deve recuar 5,3%. A construção civil tem peso grande no PIB da indústria e foi contaminado, além da recessão que afetou a economia como um todo, pelos desdobramentos da operação Lava-Jato. A própria questão fiscal dos governos pesa, afetando investimentos", disse Mereb. Para ele, o PIB da indústria deve crescer 3,7% em 2018.