Após PIB, potencial de crescimento do Brasil continua em queda, dizem especialistas

Para alguns analistas, dados divulgados pelo IBGE deixam mercado em estado de alerta.

Longe de indicar o fim da crise econômica, os dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados nesta quinta-feira, 1, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deixaram em estado de alerta parte do mercado. De acordo com economistas entrevistados pelo Estado/Broadcast, a análise fria dos números aponta problemas sérios em áreas estratégicas da economia nacional.

O PIB brasileiro cresceu 1,0% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quarto trimestre de 2016 e interrompe um ciclo de oito quedas trimestrais consecutivas, informou o IBGE. A notícia foi motivo de comemoração do presidente Michel Temer e do ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Ainda segundo o instituto, o PIB do primeiro trimestre do ano totalizou R$ 1,594 trilhão.

Para o economista Claudio Frischtak, da consultoria Inter.B, os números do PIB indicam que o potencial de crescimento do País continua em queda. Ele cita os dados de investimento, que tiveram recuou de 3,7% no primeiro trimestre do ano ante igual período de 2016, completando 12 trimestres de queda. A taxa atingiu 15,6%.

"Nem sei o que dizer desse número", diz. "Possivelmente ele não compensa a depreciação do capital", afirma. Segundo o especialista, há uma "brecha" da ordem de 10% do PIB a ser preenchida para que o crescimento potencial do Brasil chegue à casa dos 3%. Por isso, Claudio Frischtak conta que tem sérias dúvidas sobre o fim da recessão, alardeado pelo governo. "Tem aí um componente de mostrar números bons, por causa da crise política."

Ele avaliou que os sinais das contas nacionais são contraditórios. Ao mesmo tempo em que o setor agrícola se expandiu, o consumo seguiu depreciando. A indústria não mostrou contração - o que, segundo avaliou, pode ser reflexo do desempenho da agricultura, que vem demandando máquinas.

"Mas não vejo nada que impulsione a economia, de fato", afirmou. Apesar da queda da inflação e dos juros, que são positivos, o especialista não vê um "motor" capaz de puxar a economia brasileira.


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"A crise política aumenta muito o grau de incerteza na economia e isso tem um efeito deletério na economia real", diz. "As empresas não deixam de fazer estudos, mas travam os investimentos."

Fator Político

Já o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, avalia que os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre vieram, no geral, bons, mas a crise política pode atrapalhar o cenário de recuperação da economia. Segundo ele, se o imbróglio em Brasília se prolongar, a expansão do PIB pode ficar perto de zero em 2017.

Sem a crise política, observou Schwartsman, havia chances até de elevar a projeção de PIB para 2017. Mas, com a turbulência, a possibilidade agora passou a ser de piora dos números. Dependendo do tempo de duração da crise e de como ela se resolve, o PIB pode crescer perto de zero este ano. "Se a crise se resolver rápido, é um outro cenário", destaca.

Outro que sugere cuidado com o entusiasmo é o economista-chefe e estrategista da Azimut Brasil Wealth Management, Paulo Gomes. "Não dá para comemorar, até porque temos 14 milhões de desempregados e o PIB ainda caiu 0,4% ante o mesmo período do ano passado", observa.

Segundo ele, o alívio com a alta do PIB pode não durar muito tempo, principalmente devido às incertezas políticas atuais.

Segundo suas projeções, um recuo do PIB no segundo trimestre, frente ao período de janeiro a março, tem 60% de probabilidade de acontecer. O motivo é o menor efeito do PIB agropecuário, que foi o grande destaque desta leitura, com crescimento de 13,4%.

"Mas acho que é cedo para dizer que vamos voltar à recessão no segundo semestre [trimestres seguidos de recuo no PIB], vai depender muito dos fatores políticos. A tendência é que a própria alta observada agora dê mais confiança que evite a retração no 3º trimestre", explica.


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