Dívida da indústria recua 14% em 2016 e lucro sobe

Um dos setores que mais sentiram o efeito da crise econômica, a indústria teve ao longo do ano passado um processo significativo de redução de endividamento. Boletim setorial recentemente publicado pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda mostra que em 2016, até setembro (quando foi divulgada a última safra de balanços de empresas de capital aberto), houve queda de 14% na dívida bruta das empresas industriais. 

Com base em números da consultoria Economática, a Fazenda mostra que a dívida dessas companhias saiu de R$ 1 trilhão para R$ 865 bilhões, entre 2015 e o ano passado. 

Apesar da queda, o nível de endividamento industrial ainda se mostrava em um nível elevado, olhando-¬se para a história recente. De acordo com o boletim, em 2014, por exemplo, as empresas abertas do setor tinham R$ 725 bilhões em débitos. Em 2012, foram R$ 516 bilhões, cerca de metade do verificado em 2015. Além do pagamento do principal de dívida, a valorização do real também ajudou, já que diminuiu o valor em reais de empresas industriais devedores em dólar, como a Petrobras. 

Fontes da área técnica explicam que a intenção do boletim é mostrar uma visão mais agregada da saúde financeira dos setores econômicos. "E os dados mostram que a saúde financeira está melhorando", disse uma fonte, explicando que se essa tendência continuar, e outras variáveis econômicas ajudarem, o cenário fica mais favorável para a volta dos investimentos das empresas. 

O boletim ressalta que a indústria representa cerca de 12% do PIB e que as dez maiores empresas em valor de mercado respondem por 80% do setor. O relatório aponta que "o processo de recuperação mostra sinais relevantes" e que "a melhora no mercado de trabalho, do nível de confiança e da estabilidade inflacionária deverão ser forças motrizes em um processo lento e gradual para a retomada da economia". 


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Fontes da área técnica explicam que outras métricas de endividamento do setor também recuaram, como a dívida bruta sobre o valor de mercado (de 1,56 para 1,18 entre 2015 e 2016) e dívida líquida, que considera alguns ativos das empresas, embora no boletim esse dado não apareça. 

Enquanto as empresas industriais se desalavancaram ao longo do ano passado, a lucratividade delas subiu. O lucro líquido conjunto saiu do terreno negativo para o positivo (R$ 11,9 bilhões) e o lucro operacional triplicou, atingindo R$ 64,7 bilhões no acumulado até setembro.

Os números mostram que houve uma redução da distância entre o resultado líquido e o operacional, o que indica um menor peso do endividamento sobre o desempenho das companhias. 

O boletim da Secretaria de Política Econômica também aponta a queda dos investimentos, que foi ainda mais intensa do que a das dívidas. O chamado Capex caiu de R$ 154 bilhões em 2015 para R$ 126 bilhões até setembro do ano passado. 

"As empresas normalmente usam dívida para investir. Como estão reduzindo o endividamento, é consistente a queda do investimento", explica uma fonte. Além desse processo, pesou sobre a decisão de investir o clima de intranquilidade política e a prolongamento da grave recessão econômica.


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