Corte de vagas virou rotina do Estaleiro Atlântico Sul

Filas de desempregados no lugar que foi símbolo do desenvolvimento do Brasil e, sobretudo, do Nordeste. O Complexo Industrial Portuário de Suape - onde se instalaram o Estaleiro Atlântico Sul, a Refinaria Abreu e Lima e o Polo Petroquímico e Têxtil - passou rapidamente dos números superlativos de um grande centro de desenvolvimento, para onde foram atraídos milhares de trabalhadores, aos dramáticos números de cortes de mão de obra.

Em 2015, o município de Ipojuca, onde o Complexo está inserido, foi o campeão do desemprego no Brasil, com o encerramento de 28 mil vagas em 12 meses, segundo dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego. Nesse ano, a indústria naval representava 0,5% do Produto Interno Bruto do Estado.

Somente a Indústria de Transformação, segmento que engloba os estaleiros, fechou 6.825 vagas no período do levantamento. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), do fim de 2014 até fevereiro desse ano, o número de empregados no setor teve uma redução de mais de 50%. Mais de três mil vagas foram fechadas somente no EAS, desde 2014.

“Ipojuca era o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco, onde tinha proliferado um comércio e serviços fortes, mas as demissões nos estaleiros (EAS e Vard Promar) e no complexo de refino e petroquímica derrubaram a economia local”, analisa o presidente do Sindmetal-PE, Henrique Gomes. “Muitos voltaram a atividades informais por causa dos quadros perdidos a partir da quebra de contratos dos estaleiros com a Transpetro e a crise da Refinaria Abreu e Lima, no centro das investigações da Operação Lava Jato. Foram chefes de famílias que ficaram sem suas rendas, desamparados, sem alojamentos, sem ter o que comer. Fui abordado inúmeras vezes por esses trabalhadores pedindo socorro e um emprego”, lamenta.

O agravamento do desemprego em Suape é resultado da combinação de três fatores, defende o economista e sócio-diretor da Ceplan- Consultoria Econômica, Jorge Jatobá. “Em primeiro lugar, parte dessa desmobilização já era prevista. Eu mesmo participei de reuniões onde foram tratadas diretrizes para amenizar os impactos econômicos com a conclusão das obras civis, que mobilizam milhares de trabalhadores”, relata.


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O especialista cita ainda dois contextos: a crise da Petrobras e da economia brasileira. “Houve a culminância desses dois fatores com o momento de conclusão das obras civis, tornando o cenário mais dramático. Suape foi fortemente impactado pelas investigações da Lava Jato, com a Refinaria Abreu e Lima que ficou inconclusa e empresas cujas encomendas foram canceladas, a exemplo do Estaleiro Atlântico Sul e do Vard Promar”, analisa.