Entidades se unem contra protecionismo ao aço brasileiro

Para Abimaq, Sindipeças e Anfavea, medida prejudicaria cadeia produtiva.

A Abimaq, que representa os fabricantes de máquinas e equipamentos, reuniu outras 10 entidades industriais em sua sede na quarta-feira (25). Entre as presenças, estavam dirigentes do Sindipeças, Abifer e Abipeças. O objetivo do encontro foi reforçar o posicionamento contra o aumento do Imposto de Importação (II) do aço, que está em discussão entre as siderúrgicas e o governo. “Este debate deixou de fora outros elos da longa cadeia de transformação do insumo”, enfatiza Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq. 

Ele acredita que, ao proteger as fabricantes de aço no Brasil com a elevação do imposto, o governo prejudica imediatamente a indústria que usa a matéria-prima, que ficará sujeita a aumentos dos preços do material. Atualmente a alíquota para importar aço varia de 8% a 12%. O objetivo do setor siderúrgico é elevar o patamar para perto de 18%. Segundo Pastoriza, isso compromete a competitividade dos produtos manufaturados justamente no momento em que o mercado interno está contraído. “Proteger as fabricantes de insumos é uma distorção inaceitável”, aponta.

Há alguns dias o setor siderúrgico mantém conversas com o governo federal em busca do aumento do Imposto de Importação do aço. Na quarta-feira (25), enquanto a Abimaq se reunia com outras entidades em São Paulo, em Brasília a presidente Dilma Rousseff recebia o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes. 

Ao pedir proteção dos concorrentes internacionais, as facricantes do segmento teriam enfatizado que há uma “inundação de aço importado” no Brasil. Pastoriza desmente a informação. Segundo ele, o insumo trazido do exterior tem participação de apenas 15% no mercado total de aço no Brasil. A proporção é bem menor do que a vista em outros setores. Ele indica que no mercado de máquinas industriais a presença de importados chega a 50%. 


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O executivo é contundente ao afirmar que é um erro o governo olhar apenas para as siderúrgicas para ponderar sobre conceder o não o aumento do II. Pastoriza calcula que o setor do aço reúne 11 grupos empresariais, tem faturamento anual de R$ 30 bilhões e emprega 120 mil pessoas. “Se somarmos o peso das entidades reunidas aqui hoje chegamos a um faturamento de R$ 700 bilhões, com 4 milhões de empregos diretor e 73 mil empresas, a maioria de pequeno e médio porte." 

Obstáculo à recuperação 

A Anfavea, associação que representa as montadoras – grandes compradoras do insumo, não participou do encontro na Abimaq. Procurado por Automotive Business, Luiz Moan, presidente da organização, apontou apenas que a entidade é “contrária ao aumento do imposto de importação de alguns tipos de aço, ainda não especificados, pelo impacto que pode causar na cadeia produtiva”. 

O dirigente evita se aprofundar na questão do preço do aço sempre que é questionado. Ele costuma dizer que os contratos são firmados individualmente por cada montadora e, portanto, cabe a elas negociar o preço. Ainda assim, neste caso, a Anfavea confirma ter se posicionado no governo federal contra o aumento do imposto de importação. 

Paulo Butori, presidente do Sindipeças, que representa os fabricantes de autopeças, participou do encontro na Abimaq. Ele defendeu que, se acontecer, a elevação da alíquota pode ter efeito devastador na indústria nacional. “A matéria-prima representa 60% do custo de produção das nós. A desvalorização cambial era a fagulha para que as empresas do setor voltassem a exportar e, assim, caminhassem para uma recuperação. O protecionismo poderia gerar aumento de preço, o que frearia este processo”, avalia.

O dirigente considera incoerente que o imposto de importação do insumo se torne mais caro do que a alíquota para trazer do exterior produtos manufaturados. “Isso não existe em nenhum outro país”, critica. Segundo ele, hoje o tributo cobrado sobre a importação de autopeças é de 16%.

Pastoriza está seguro de que, se conseguirem aumento do imposto de importação, os fabricantes de aço instalados no Brasil subirão os preços rapidamente. “Por muito tempo o insumo nacional foi muito mais caro do que o vendido no exterior. Agora essa diferença não é tão gritante porque o mercado interno está contraído, o que afeta a demanda pelos nossos produtos e não deixa tanta margem para aumentos”, esclarece. 

Outro fator que impede as fabricantes de aço de vender mais caro é a forte concorrência internacional. Segundo Pastoriza, há expressivo excesso de capacidade produtiva na China, que faz ofensiva para vender o insumo a outros mercados.