Indústria de alumínio vive pior fase em 30 anos

Após atingir recorde, em 2008, produção deve voltar aos níveis de 1985 neste ano.

O alto custo da energia elétrica e a competição maior de importação chinesa ameaçam as indústrias nacionais de alumínio. Segundo Milton Rego, presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), o setor vive seu pior cenário dos últimos 30 anos. “Estamos no limite da sobrevivência. Se essa situação não mudar logo, em até dois anos podemos chegar ao ponto de não ter mais uma indústria sequer de alumínio no País”, disse ao ‘Estado’. 

Brasil possui a terceira maior reserva mundial de bauxita, minério usado na produção do alumínio. No centro dessa crise está o elo mais sensível da cadeia: os produtores do “alumínio primário”, que é matéria-prima usada parar fabricar carros e suprimentos da construção civil, por exemplo. Até 2011, havia sete grandes produtores de alumínio no País. De lá para cá, ano após ano, uma grande fábrica fechou suas portas. O mais recente episódio foi em março, quando a Alcoa, uma das maiores produtoras mundiais, anunciou a demissão de 650 funcionários em sua unidade de São Luís (MA), e encerrou a produção do alumínio primário no País. 

Hoje, aos trancos e barrancos, essa produção é tocada pela Albras, empresa da companhia norueguesa Norsk Hydro, que atua em Barcarena (PA), e pelo Grupo Votorantim, que está no município de Alumínio, interior de São Paulo. 

Depois de atingir um pico de produção de 1.661 toneladas de alumínio primário em 2008, o setor passou a experimentar uma queda constante na fabricação do metal, até chegar às 962 toneladas entregues no ano passado. Para este ano, o que se espera é uma situação ainda pior, com apenas 780 toneladas produzidas, mesmo volume que o Brasil entregava em 1985. A indústria nacional emprega cerca de 150 mil pessoas e fatura aproximadamente R$ 40 bilhões por ano. De janeiro para cá, 15 mil pessoas foram demitidas. “Começamos este ano prevendo uma queda de 3% na produção nacional. Agora essa redução mais que dobrou e está estimada em pelo menos 7%”, diz Milton Rego. 


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O preço da energia e seu peso crescente na produção do alumínio é apontado como o principal vilão da indústria. Em 2008, a conta de luz respondia por 43% dos gastos operacionais para produzir o alumínio primário. Desde então essa participação só cresceu. Hoje, de cada R$ 100 injetados na produção de alumínio, pelos menos R$ 60 são destinados à conta de energia. “Isso é insustentável. O governo diz que está sensível a nossa situação, mas na realidade não tem feito nada”, afirma o presidente da Abal. 

Apesar do drama na indústria, o consumo nacional de alumínio tem crescido, em média, 5% ao ano, e hoje chega a 1,4 milhão de toneladas. Apesar de parte dessa demanda ser atendida por alumínio “secundário”, resultado de reciclagem, uma boa parcela já é suprida por importação.

Desde o ano passado, segundo informações da Abal, o Brasil passou a ser mais importador de alumínio primário, em vez de exportador. O saldo negativo na balança comercial foi de US$ 643 milhões em 2014. Neste ano, esse desequilíbrio vai passar de US$ 1 bilhão, podendo atingir o dobro de 2014. 

No longo prazo, a previsão do setor é de que a demanda por alumínio primário chegue a 3,2 milhões de toneladas em 2025. Dadas as condições atuais, porém, a produção nacional atravessaria esta década com a previsão de entregar cerca de 600 toneladas por ano. 

A situação não é desconhecida do governo. No plano decenal de energia, documento do Ministério de Minas e Energia que orienta as prioridades do segmento para os próximos dez anos, é reconhecido que “nesse horizonte, o Brasil deverá se consolidar como um importante exportador de alumina, insumo intermediário para a obtenção do alumínio primário”, enquanto este último deverá ter a sua importação ampliada. 


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