Empresários do setor de importação de máquinas se manifestam contra o mercado brasileiro

Juros altos e escassez nas vendas causam demissões e diminuem perspectivas até o ano que vem.

Os importadores do setor de bens de capital (que inclui máquinas), dependentes dos fabricantes nacionais, diminuíram drasticamente suas vendas e compõem o rol dos estão sofrendo com a crise no Brasil.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria brasileira opera 12,2% abaixo do pico histórico, atingido em junho de 2013. Isso aconteceu devido a ausência de demanda, que freou a produção.

O diretor presidente da Trumpf do Brasil - fabricante de máquinas-ferramenta, tecnologia laser e eletrônica -, João Carlos Visetti, comenta que a falta de confiança e a completa ausência de sinais de melhora têm contribuído para o desemprego. "A primeira coisa que a indústria corta em tempos de dificuldades são os investimentos. Dentro da atual conjuntura, o setor sofre muito, e torna-se necessário fazer os ajustes para se adaptar a realidade do mercado".

A necessidade de reduzir custos e enxugar a estrutura para poder driblar a crise fez com que a Bener - distribuidora multimarcas de máquinas-ferramenta importadas - reduzisse seu quadro de funcionários. De acordo com o diretor técnico da empresa, Ricardo Lerner, a empresa trabalha com 30% de sua capacidade, o que causa tem causado um cenário de incertezas por lá. "Não se sabe quanto tempo a crise pode durar e se quem ainda está saudável vai continuar saudável, sem perspectivas de quando o mercado vai retornar", esclarece Lerner.

"A paralisia é tão grande, que já chegou ao consumo das famílias", menciona o diretor geral da Junker do Brasil  - mercado de fabricação de retíficas de alta velocidade -, Dirk Huber. Para ele, esse é um grande problema porque, se nada for feito, acaba virando uma bola de neve: a produção para porque ninguém está comprando, e como ninguém está comprando e a produção está parada, começam as demissões.


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Desafios de ser importador no Brasil

A batalha diária para manterem-se vivos durante os momentos de crise é um desafio constante para os empresários.
Os impostos e a variação cambial contribuem para inibir o mercado, já que o dólar aproxima-se dos R$ 3,50. O diretor da Makino do Brasil - indústria japonesa do ramo de usinagem CNC de alta tecnologia -, Carlos Eduardo Ibrahim, explica que os empresários estão em busca de produtos de última geração para fabricar suas peças, itens que são apenas vendidos no exterior. Entretanto, houve um aumento nos impostos de importação de importação em 20% para uma família de máquinas de usinagem e, somados às outras taxas, esses números chegam a 55%. Isso acaba desmotivando qualquer um que esteja atrás de tecnologia e derruba o mercado do setor.

"Os empresários estão com medo de investir! Hoje, eles preferem correr o risco de perder o serviço e continuar na morosidade por conta da insegurança econômica", diz Ibrahim. O diretor da Makino assegura que, em 25 anos de atuação no comércio de máquinas, nunca se deparou com um mercado tão escasso quanto em 2014 e 2015.

No caso da Trumpf, a conversa com a matriz de que o mercado e as regras brasileiras são particularmente únicas. "Sempre digo que as normas mudam sem aviso prévio, e que nem sempre o 'preto é preto e o branco é branco', pois muitas coisas são passiveis de interpretação tanto no campo normativo, vide a NR-12, como no campo fiscal", menciona Visetti.

Perspectivas do setor

Acompanhando o cenário nacional, com a política econômica como está, os empresários se veem sem perspectivas. A Trumpf encerrou o ano fiscal em 30 de junho e, pela primeira vez desde 2010, sofreu com queda de 30% em sua receita.

Ricardo Lerner, da Bener, comenta que, enquanto não existir uma política concreta, séria e direcionada aos verdadeiros problemas que enfrenta, o país vai continuar parado. Dirk Huber, da Junker, salienta que a indústria essa crise começou há 8 meses e que a indústria está certa quando pede soluções ao Governo e o Governo deveria ouvir os apelos da indústria o mais rápido possível. "Ninguém vê perspectivas de mudança no curto prazo. Algo tem que ser feito rapidamente, porque quando o ciclo de retomada da indústria não é imediato", elucida.

O diretor da Makino do Brasil é enfático ao tratar-se do futuro da economia do setor em 2016. "Nosso objetivo é sobreviver, já que dependemos de nossas matrizes. Se não recebêssemos um aporte financeiro de fora, não estaríamos vivos", finaliza Ibrahim.