BMW reafirma aposta de crescer no Brasil

Apesar do mercado em queda, para empresa País continua estratégico.

A queda do mercado brasileiro já chegou às vendas da BMW, que até agora vinha passando imune pelas retrações dos últimos dois anos. Em 2014 a marca emplacou 15 mil carros e registrou crescimento de 7% sobre 2013, mas no primeiro bimestre de 2015 o resultado virou para o campo negativo: as pouco mais de 2 mil unidades vendidas representaram declínio de quase 12% em comparação com o mesmo período do ano passado. “Sentimos o vento de proa no Brasil, mas o País continua sendo um mercado grande e estratégico para nós”, resumiu Ian Robertson, membro da diretoria executiva do Grupo BMW responsável por vendas e marketing.

Robertson foi o executivo do grupo que, em 2012, veio ao Brasil anunciar oficialmente à presidente Dilma Rousseff o investimento de € 200 milhões para construir a fábrica da BMW em Araquari (SC), a primeira da empresa abaixo da linha do Equador, que começou a operar sua linha de montagem final em setembro passado e deve inaugurar os setores de soldagem de carrocerias e pintura até setembro próximo. A capacidade inicial máxima é de montar até 32 mil unidades/ano de cinco modelos diferentes, os BMW Série 3, X1 e Série 1 já em produção, além do e X3 e Mini Countryman que entram em linha nos próximos meses.

O executivo garante que, mesmo com a operação de pequena escala de produção para padrões mundiais, a planta brasileira será rentável. “Fizemos o investimento porque acreditamos no potencial de crescimento e rentabilidade do mercado de carros premium no País (hoje de menos de 2% das vendas totais), ainda muito pequeno quando comparamos com 30% na Alemanha ou 15% nos Estados Unidos. A venda de veículos premium é maior mesmo em países parecidos, onde essa fatia chega a 10%.”

Sobre a perspectiva do mercado brasileiro em 2015, o executivo afirma que “ainda é cedo para dizer, não vemos crescimento no momento, mas isso não muda em nada nossos planos para o País”, garante. “Claro que não esperamos utilizar toda a capacidade de 32 mil agora, mas a tendência é que ela seja atingida rapidamente assim que a economia se recuperar no Brasil. Já tivemos exemplos disso em países como Índia e Rússia”, avalia.


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“Todos os investimentos do grupo são muito conservadores e de longo prazo, olhamos para 20 a 30 anos à frente. Investimos no Brasil porque é um mercado de tremendo potencial, onde vemos mais possibilidades (de crescimento) do que riscos”, afirma outro membro do board, Peter Schwarzenbauer, responsável pelas marcas Mini, BMW Motorrad (motos) e Rolls-Royce e pelo pós-vendas na diretoria executiva do Grupo BMW. Segundo ele, todo o investimento feito na fábrica brasileira vem do saudável e sólido caixa próprio da empresa, que não costuma recorrer a bancos para se financiar. “Essa é uma das vantagens que temos, podemos investir e esperar. Uma fábrica leva em torno de cinco a dez anos para dar retornos.”

Instabilidade e nacionalização

“Existe atualmente um movimento de volatilidade maior do que vimos em outros tempos, que está afetando mercados em todo o mundo, como Rússia e até na China”, destaca Robertson. “Temos de nos adaptar a isso, porque é a ordem do dia. Nesse cenário compensamos as grandes variações cambiais com produção local. É o que estamos fazendo no Brasil”, acrescenta.

Segundo Robertson, com as variações cambiais que ocorrem no País, nacionalizar o maior número possível de componentes não é só uma obrigação para abater impostos conforme as regras do Inovar-Auto: “Essa é também uma necessidade nossa. Tudo que não seja fácil de importar temos de comprar no local onde produzimos”, afirma.

Em Araquari, a BMW vem fazendo a montagem dos carros com grandes quantidades de componentes importados, pois encara dificuldades em encontrar fornecedores locais para certos tipos de peças e fechar acordos para compras de pequenos volumes. Até os pneus, um dos primeiros itens que costumam ser nacionalizados, vêm do exterior, pois os BMW utilizam pneus run flat, que podem rodar mesmo com furos, e no Brasil ainda não há fabricação local para fornecimento. Recentemente a montadora conseguiu um fornecedor de bancos, que são difíceis de transportar.