Crise no setor automotivo não afugenta montadoras

Após crescer regularmente por mais de uma década, produção de automóveis diminui no Brasil. Mesmo assim, fabricantes mantêm planos de investir 45 bilhões de reais em novas linhas de montagem nos próximos dez anos.

Após crescimentos consecutivos na produção e venda nos últimos 12 anos, o setor automotivo desacelerou em 2014. Mesmo assim, montadoras mantêm os planos de investir no Brasil e, até 2024, devem desembolsar mais de 45 bilhões de reais.

Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entre 2013 e 2014, houve diminuição de 7,1% no licenciamento de carros, veículos comerciais leves, caminhões e ônibus (de 3,7 para 3,5 milhões de unidades) no Brasil e retração de 40% nas exportações (de 565 para 334 mil unidades).

Apesar disso, a Audi, por exemplo, está investindo 525 milhões de reais numa fábrica em São José dos Pinhais (PR), e a BMW, mais de 600 milhões na construção de sua linha de montagem em Araquari (SC), que já foi em parte inaugurada. A parte de soldagem e pintura deve fica pronta até o fim de 2015, e a fábrica terá capacidade de produzir até 32 mil carros por ano.

A BMW diz que está consciente de que o mercado brasileiro diminuiu de tamanho nos últimos meses. Apesar disso, afirma a companhia, a confiança no potencial do setor a longo prazo continua.

"Especialmente o mercado para veículos Premium cresceu de forma constante, e as vendas em 2014 foram um sucesso. No ano passado o grupo BMW vendeu 17.190 carros no Brasil, o que significa um crescimento de 1,1% em comparação com o ano anterior", afirma a empresa em nota.

A Jaguar Land Rover desembolsará 750 milhões de reais até 2020 para erguer sua fábrica em Itatiaia (RJ), enquanto a JAC Motors deve inaugurar sua linha de montagem em Camaçari (BA) em 2016 e, até lá, investir 1 bilhão de reais. A Toyota, por sua vez, constrói uma fábrica de motores em Porto Feliz (SP).
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Entre as que já estão plenamente instaladas no Brasil, Fiat, Ford, General Motors, Honda, Mercedes-Benz e Nissan investem para aumentar a capacidade de produção, modernização e desenvolvimento de produtos.

"Os planos das montadoras de se estabelecerem no país não se alteram, pois já foram traçados há muitos anos, quando o mercado vivia um ótimo momento", diz Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria de carros JATO Dynamics do Brasil.

Para o especialista, espera-se num médio prazo um "horizonte melhor" para as montadoras instaladas no Brasil. "Sendo bem otimistas, prevemos uma queda de 2,5% na venda de automóveis em 2015. O mercado automotivo vai começar a se recuperar a partir do segundo semestre de 2016", afirma.

Razões para queda

Entre os motivos para a desaceleração do setor estão a expressiva queda nas vendas internas de automóveis em 2014; a crise econômica na Argentina – principal destino das exportações brasileiras de carros e autopeças; aumento do rigor na concessão de crédito pelos bancos; um pior cenário macroeconômico nacional; e o endividamento de famílias.

"Em 2014 enfrentamos uma série de desafios, como a forte seletividade na concessão de crédito, feriados em razão de grandes eventos e cenário complexo no comércio exterior. Contudo, o segundo semestre de 2014 já apresentou recuperação do licenciamento e produção", afirma Luiz Moan Yabiku Junior, presidente da Anfavea.

Ele diz que a associação espera um primeiro semestre de 2015 difícil. "Mas os ajustes promovidos nos levarão a um resultado equilibrado, no mínimo com desempenho igual a 2014", analisa. Para 2015, a Anfavea espera estabilidade no licenciamento em relação a 2014, pequena elevação nas exportações e, consequentemente, ligeira alta na produção.

No início de março, a Anfavea divulgou que o licenciamento de carros nos dois primeiros meses de 2015 caiu 23,1% frente as 572 mil unidades registradas no mesmo período de 2014. A associação diz que os 158,9 mil unidades comercializadas em fevereiro de 2015 representam queda de 28,3% frente a fevereiro de 2014 e 26,7% em comparação a janeiro deste ano.

A diminuição da produção se refletiu também no mercado de trabalho no setor metalúrgico. Desde o início da crise, diversas montadoras realizaram demissões, anunciaram férias coletivas, suspensões temporárias, reduções de turnos de trabalho ou paradas técnicas.

"É forte a tendência de regulação dos postos de trabalho, algo que não ocorre há tempo", afirma Kalume Neto, da JATO Dynamics do Brasil.

Segundo a Anfavea, o ano de 2014 apresentou a maior queda absoluta de empregos desde 1999. Em 2014, houve cerca de 12.400 demissões do total de 156.970 trabalhadores que estavam empregados em 2013.


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