Indefinição de PSI afeta planejamento dos fabricantes

A 14 dias do fim do ano, fabricantes de máquinas e equipamentos amargam a indefinição sobre a renovação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). O programa garante juros subsidiados junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na compra de bens de capital.

Embora as empresas tenham divergências sobre os efeitos que o fim do programa pode ter sobre o desempenho das vendas, é consenso que o governo precisa deixar claro se vai manter o anúncio de renovação feito no meio do ano e sob quais condições.

Ontem (17), o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, reafirmou a renovação do programa com novas condições, mas disse que os questionamentos devem ser feitos ao Ministério da Fazenda.

Para algumas fabricantes, como a BMC - Hyundai, a indefinição dificulta o planejamento da fábrica. O presidente da empresa no Brasil, Felipe Cavalieri, conta que esteve reunido por três dias na semana passada com um executivo do alto escalão da parceira coreana para definir a atuação da empresa no Brasil. "Ele foi embora de mãos abanando", disse.

O estudo de viabilidade da fábrica no Brasil foi feito, explica, considerando a taxa de juros praticada pelo PSI - que varia de 4% a 6%. "Com juros a 8%, por exemplo, talvez não compense manter 60% da produção local". Em torno de 40% das vendas da empresa são feitas por meio do programa.

Para a Case Construction, que tem 70% de suas vendas com financiamento do PSI, as incertezas quanto ao andamento de obras de infraestrutura têm um peso muito maior sobre o planejamento da companhia no longo prazo. Até o efeito do programa como catalisador de vendas é questionado pelo vice-presidente da companhia, Roque Reis.

"O PSI deu uma alavancagem nas vendas quando foi lançado, porque eram juros muito baixos e havia um expectativa de crescimento do mercado, de que haveria obras", disse Reis. Para o executivo, o difícil é planejar os últimos meses do ano por conta da incerteza de até quando o BNDES vai trabalhar.


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"O banco depende de repasse de verba do governo. No fim do ano ele tem de controlar o balanço, trava tudo e começa a analisar caso a caso e isso atrapalha nossa vida. Se eu tenho um Finame normal, que não vai parar, para mim é bem melhor."

Um estudo do banco concluiu que, no primeiro ano de vigência, 2009, para cada R$ 1 gasto com o programa, foram gerados R$ 1,18 de novos investimentos. Já no ano seguinte, a geração de novos investimentos na mesma base de comparação caiu para R$ 0,58.

Uma fonte ligada ao banco teceu críticas severas ao programa e afirmou que o BNDES "já mostrou para a Fazenda que o PSI é inócuo em induzir investimento". "O PSI está simplesmente gerando aumento de custo fiscal, sem produzir resultados."

Segundo a fonte, foram sugeridas outras alternativas para o setor de máquinas, como o programa de renovação do parque fabril, batizado de Modermaq, que estaria no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, aguardando aprovação do governo.

"Sair do PSI é um passo importante para liberar verba", disse a fonte, lembrando, porém, que a decisão final sempre foi do Ministério da Fazenda.

Um dos pontos levantados são as sinalizações da nova equipe econômica de que pretende reduzir a atuação do banco e diminuir o montante de repasses. "Se houver renovação, o governo vai ter que repassar verba", afirmou.

As entidades mais envolvidas na negociação, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estão confiantes de que o programa será renovado, porém, com um reajuste na taxa.

De 2009 a outubro deste ano, o BNDES desembolsou R$ 312,8 bilhões, dos quais 41%, ou R$ 128 bilhões, foram destinados ao segmento de bens de capital. Os desembolsos totais do banco com o programa atingiram um pico no ano passado, de R$ 81 bilhões. Até outubro deste ano, o banco já gastou R$ 66 bilhões com o PSI.

Para o presidente da inglesa JCB, Carlos Hernandez, o efeito de uma não renovação do programa não seria tão grande sobre as vendas. "Os clientes compram máquinas porque precisam, porque há demanda, então a taxa ajuda em algumas decisões, mas não é o determinante".

Hernandez concorda que algumas linhas ficariam menos competitivas, mas argumenta que, neste momento, isso seria em parte compensado pela disparada do dólar, que também encarece a importação.

O problema maior para a empresa é não saber o que vai acontecer. "Se o governo diz que não vai ter PSI, vamos procurar outras alternativas, mas se não fala nada, isso vai postergando as decisões de compra. A indefinição é a pior coisa", disse o diretor comercial da JCB, Nei Hamilton.