Montadoras aceleram uso de autopeças nacionais

A Nissan pretende encurtar em um ano uma das primeiras metas colocadas à sua fábrica recém-inaugurada no sul do Rio de Janeiro: elevar para 80% o índice de nacionalização - ou seja, o uso de peças locais - dos carros produzidos no local. Quando abriu as portas do parque industrial numa cerimônia de inauguração realizada em abril, a empresa anunciou que o objetivo era alcançar a marca em três anos.

A montadora, porém, está correndo para chegar aos 80% no exercício fiscal de 2016, que começa em abril do ano que vem. A pressa tem um motivo. Desde que a fábrica entrou em operação, o dólar subiu e a Nissan quer reduzir o quanto antes a exposição ao câmbio nas importações de peças.

François Dossa, presidente da empresa no Brasil, diz que repassar esse custo extra ao consumidor é quase impossível porque o mercado, além de estar em baixa, ficou mais concorrido com a chegada de novas marcas. "Estamos numa indústria em que cada elemento de custo é importante e pode jogar a margem de lucro para perto de zero", disse o executivo ao Valor durante evento de apresentação à imprensa do salão internacional do automóvel de São Paulo, que abre as portas ao público amanhã no pavilhão de exposições do Anhembi, na zona norte da capital.

Os primeiros passos da Nissan em busca da maior nacionalização foram investir na produção de motores em Resende, onde está sua fábrica, e levar para lá seis fabricantes japonesas de componentes, como assentos automotivos, suspensão e borrachas de vedação. Segundo Dossa, o índice de nacionalização já chegou a 66%. A aliança com a Renault em compras de peças será intensificada para elevar esse percentual no próximo ano.

O movimento da Nissan faz parte de uma estratégia comum de uma indústria que tem investido mais na produção local como resultado de um regime automotivo, o Inovar-Auto, que colocou barreiras a veículos importados e estabeleceu exigências de uso de peças locais que vão crescer até 2017, no término do programa.


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A Audi, do grupo Volkswagen, anunciou durante o salão que o sedã A3, primeiro carro a ser produzido na fábrica da marca no Paraná, será equipado com motores bicombustíveis da fábrica da Volks em São Carlos (SP). A meta da Audi é alcançar 40% de peças nacionais nos veículos montados no Brasil.

No evento, a Honda confirmou a produção de um utilitário esportivo compacto, o HR-V, na fábrica de Sumaré (SP) a partir do primeiro trimestre de 2015. "Com todos os tributos cobrados na importação, o carro se tornaria inviável se não fosse produzido no Brasil", disse Issao Mizogushi, presidente da Honda na América do Sul.

A expectativa da marca japonesa é fabricar 50 mil carros por ano do novo modelo, que vai disputar um segmento que segue em crescimento, mesmo diante da crise na indústria automobilística nacional. O HR-V, que no mercado japonês chama-se Vezel, soma-se a outros três modelos já produzidos em Sumaré: Civic, City e Fit. Seu preço não foi revelado ontem.

A General Motors, por sua vez, informou ontem que o projeto de ter um novo carro compacto popular para mercados emergentes segue em desenvolvimento. Mas, caso o plano receba sinal verde da matriz nos Estados Unidos, a decisão é produzir o veículo no Brasil.

A informação, dada pelo presidente da montadora na América do Sul, Jaime Ardila, representa uma mudança em relação ao discurso de que o projeto vinha sendo disputado entre o Brasil e outros dois países. "É uma questão de produto e não de onde ele vai ser produzido", disse Ardila durante conversa com jornalistas. "Não vemos um cenário em que esse carro não seja feito no Brasil se decidirmos produzi-lo", afirmou.


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