BMW, Renault e Nissan esperam incentivos para elétricos

Montadoras defendem desoneração urgente para tecnologias mais modernas

A redução do imposto de importação para veículos híbridos, de 35% para até zero, anunciada pelo governo há dez dias decepcionou BMW, Renault e Nissan. Aguardando uma medida que contemplasse todas as tecnologias alternativas de propulsão, incluindo os carros 100% elétricos, a partir da proposta da Anfavea entregue ao governo em 2013, para viabilizar as vendas destes modelos no mercado brasileiro, as montadoras foram pegas de surpresa com a decisão:

“Infelizmente não trata das tecnologias mais modernas, com emissão zero, porque exclui os modelos plug-in”, lamenta Carlos Cortes, gerente sênior da BMWi, divisão responsável pela produção e venda de carros elétricos, durante o painel “Carro Elétrico: veículo do futuro ou presente?”, realizado no Congresso SAE Brasil, na quarta-feira, 1º, em São Paulo.

“Há de se reconhecer que é um primeiro passo: é louvável que haja essa valorização para a inovação. Por outro lado, decepcionou não entrar na desoneração”, desabafa Silvia Barcik, gerente de relações institucionais e governamentais para veículo elétrico da Renault.

Os representantes das montadoras que debateram sobre o presente e o futuro do carro elétrico no Congresso SAE concordaram que apesar da medida atual, o Brasil não ficará de fora do grupo de mercados que ofertam veículos com baixas emissões. “Toda nova tecnologia precisa de incentivo, até ganhar peso e participação suficientes para que possa caminhar com suas próprias pernas. E isso depende do poder público”, ressalta Silvia.

Cortes lembra que as montadoras, por meio da Anfavea, mantêm o diálogo com o governo, sobre a forma de viabilizar a entrada desses veículos no País: “Trabalhamos em conjunto para que saia o mais breve possível [desoneração para elétricos], porque a tecnologia está lançada”, diz, se referindo ao i3, o primeiro elétrico a ser vendido no País, que sem incentivo de importação, chega por R$ 225,9 mil.


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Para Anderson Suzuki, gerente de veículos elétricos da Nissan, apesar de decisão atual do governo, a evolução do projeto de tornar viável e alavancar as vendas de híbridos plug-in e elétricos no Brasil dependerá do novo governo.

“As negociações devem permanecer após as eleições. De qualquer forma, acreditamos que estamos evoluindo para o plano original, de contemplar as demais tecnologias.”

Bandeira do elétrico

BMW, Renault e Nissan são as montadoras na dianteira da causa do veículo elétrico no Brasil. Apesar de a BMW ser a primeira a vender um modelo deste tipo por aqui, a Renault é pioneira no desenvolvimento de parcerias para apresentar a tecnologia ao País. Desde 2006, mantém acordo com a usina hidrelétrica de Itaipu, para análise e testes de veículos elétricos. Há um ano, as duas empresas assinaram um acordo de montagem do modelo urbano Twizy, no sistema de SKD, o que será concretizado neste mês: 

“Com o objetivo de estudar a mobilidade da área interna, iniciaremos este mês a montagem do Twizy na linha instalada nas dependências da usina. Serão 32 veículos de uso exclusivo interno – não serão vendidos – ,mas o projeto servirá para identificar componentes passíveis de nacionalização”, explica Marcos Massakiti, engenheiro da assessoria de Mobilidade Sustentável de Itaipu. 

Segundo Massakiti, os estudos com uma frota elétrica também ajudarão a desmitificar a fama que ganhou o carro elétrico de “beberrão de energia”: em um estudo preliminar com seis modelos elétricos mostrou que a redução de emissões de CO2 chegou a 1.908 quilos, com mais de 8 mil horas de rodagem e 1,8 mil trechos de viagem, equivalentes a 15,2 mil quilômetros rodados. Foram necessárias 870 horas de recargas no total.

Em uma outra simulação da própria Itaipu, considerando que 100% da produção anual de 3,4 milhões de veículos no Brasil fosse de veículos 100% elétricos, o consumo de energia desses carros não ultrapassaria os 3,3% do total disponível para o País. Na hipótese de 10% da frota circulante ser de veículos elétricos – o que representaria um grande avanço – esse índice cairia para 0,33% do consumo total da energia elétrica no País. 

“Portanto, o veículo elétrico não será um monstro de consumo. O chuveiro puxa de 3 a 4 vezes mais energia do que um carro na tomada. Ele não vai passar de um ‘ar-condicionado’ em termos de consumo”, alerta.
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