Impsa tenta vender parques eólicos para fazer caixa

A fabricante argentina de turbinas hidrelétricas e de aerogeradores Impsa está negociando a venda de todos os seus parques eólicos no Brasil. O objetivo da companhia é fazer caixa para equacionar a situação financeira no curto prazo. O Valor apurou que a companhia está procurando empresas do setor para oferecer os projetos. A Impsa no entanto, não comenta o assunto.

O que está à venda são os ativos da Energimp, empresa na qual a argentina possui 55% de participação. Os demais 45% pertencem ao FI-FGTS, administrado pela Caixa Econômica Federal. As negociações envolvem a possibilidade da venda apenas da parcela de 55% da Impsa nos parques ou a totalidade da Energimp nos empreendimentos. Ao todo são 803 megawatts (MW) de capacidade instalada de parques em operação ou cujo projeto já possui contrato de longo prazo de fornecimento de energia.

De acordo com um dos executivos procurados pela Impsa, um fator que pode dificultar a conclusão do negócio é a incerteza com relação à rentabilidade dos projetos. Isso porque, os empreendimentos venderam energia nos leilões planejando utilizar aerogeradores da própria Impsa, o que proporcionaria sinergia e redução de custo global.

Grande aposta é manter dois grandes contratos de fornecimento de aerogeradores a Furnas por US$ 750 milhões

Por outro lado, negociar projetos eólicos que já tenham fornecedor de aerogeradores garantido pode ser um ponto positivo. Isso porque a demanda por aerogeradores está aquecida e não há oferta suficiente de máquinas para entrega em curto prazo.

Segundo uma fonte do setor, a situação financeira delicada da Impsa foi provocada pelo atraso no recebimento de receita de um empreendimento eólico da Energimp de mais de 200 MW, em Santa Catarina, no âmbito do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa). O repasse dos recursos do programa, que deveriam ser feitos pela Eletrobras a partir de junho de 2011, só foram realizados em dezembro do ano passado, após determinação da Justiça.


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Segundo uma outra fonte a par do assunto, a Impsa arcou com recursos próprios uma série de compromissos financeiros para garantir a operação dos parques. "Os R$ 330 milhões pagos pela Eletrobras são muito menor do que o prejuízo que a empresa teve", afirmou a fonte, que preferiu não se identificar.

A demora no repasse pela Eletrobras afetou não só o fluxo de caixa da Impsa, mas principalmente o modelo de negócios da empresa, que consiste em construir os parques eólicos e vendê-los após entrar em operação.

Outro obstáculo criado para a empresa foi a falência decretada de sua subsidiária integral Wind Power Energia (WPE), fabricante de aerogeradores instalada no complexo portuário de Suape, em Pernambuco. A falência foi pedida pelo grupo Libra Terminais, por uma dívida de R$ 10,6 milhões. Em agosto, a Impsa quitou a dívida e obteve a revogação da falência, mas o caso gerou ruído no mercado eólico brasileiro.

O Valor apurou que as outras duas áreas de negócio da Impsa no Brasil - a de fornecimento de turbinas hidrelétricas e de fabricação de aerogeradores - não estão à venda e continuam operando. A principal aposta da companhia no momento são dois grandes contratos de fornecimento de aerogeradores para parques eólicos de Furnas com outros sócios, no valor de US$ 750 milhões, que poderão melhorar a situação financeira da empresa.

Procurada, Furnas ressaltou que é sócia minoritária de consórcios responsáveis por quatro complexos eólicos no Rio Grande do Norte e no Ceará, que possuem contratos de fornecimento de aerogeradores da Impsa no total de 462 MW.

"Os projetos encontram-se dentro do cronograma de implantação, que prevê a entrada em operação dos mesmos para o terceiro e quarto trimestre de 2015", disse a estatal, em nota.

Furnas informou ainda que não foi procurada para comprar os ativos da Energimp. A empresa afirmou, contudo, que "está sempre aberta a novas oportunidades de negócio".

A Impsa foi uma das pioneiras a investir no setor no Brasil. A unidade de energia eólica da companhia se instalou no país antes mesmo do primeiro leilão específico para a fonte, em 2009. E, por alguns anos, a fabricante argentina rivalizou com a alemã Wobben Windpower a disputa por contratos de fornecimento de aerogeradores no Brasil, antes da chegada de outras empresas estrangeiras.

O Valor apurou que a holding na Argentina também apresenta dificuldades financeiras.