Chery chega com planos de exportar e montar SUV

Luis Curi, vice-presidente da empresa, prevê exportações do Celer até para a Venezuela a partir do próximo ano.

Ampliar o portfólio local com a produção de um utilitário esportivo, avançar rapidamente na nacionalização dos carros e exportar esses veículos a mercados vizinhos que incluem, até mesmo, a Venezuela, um parceiro político da China. Esses são alguns dos planos que a Chery traz junto com o início de suas operações industriais no Brasil.

No fim deste mês, a montadora chinesa fará a inauguração de uma fábrica erguida em Jacareí, no interior paulista, para recuperar o espaço perdido nos últimos anos com as medidas de protecionismo no mercado brasileiro.

Mais do que celebrar a conclusão de um projeto lançado há três anos - e que consumiu nesse período investimentos de US$ 530 milhões -, o evento vai marcar a chegada da primeira montadora de origem chinesa no Brasil. Será também a primeira marca a desembarcar no país na esteira do Inovar-Auto, o regime automotivo que fechou portas para importações e forçou empresas a investir em fábricas para acessar o quinto maior mercado de automóveis do mundo.

A produção, como já havia sido divulgado, começa com o compacto Celer. A partir do segundo trimestre do ano que vem, o subcompacto QQ - carro mais barato do país, mesmo importado da China - soma-se à linha. Com os dois modelos, inseridos na faixa de consumo mais popular no Brasil, a Chery prevê produzir 50 mil automóveis no primeiro ano da fábrica, o que significa superar 1% do mercado, saindo de um percentual de apenas 0,3%.

Após tanto dinheiro investido, é claro que os objetivos não param por aí. Gradualmente, e se o mercado ajudar, a fábrica vai evoluir para a capacidade plena de 150 mil carros por ano, o suficiente para cobrir entre 4% e 5% do consumo nacional.

Nesse período, a montadora também vai trabalhar para, de um lado, aumentar o uso de peças brasileiras em seus carros e, de outro, criar uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento no país, atendendo dessa forma às exigência de nacionalização e inovação tecnológica impostas pelo novo regime automotivo.


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Luis Curi, vice-presidente responsável pelos negócios da Chery no Brasil, diz que a empresa corre para iniciar ainda neste ano a produção de motores numa fábrica instalada perto da linha de montagem de veículos. Já a partir do segundo semestre do ano que vem, transmissões também serão fabricadas no local. Com isso, a Chery, que estima um índice de peças nacionais próximo de 50% no início da produção, elevaria esse percentual para 70% em menos de dois anos de operação.

Paralelamente, a empresa planeja investir, até o início do ano que vem, mais R$ 20 milhões ou R$ 25 milhões em um centro tecnológico no país. Curi diz que ainda não foi definido o local desse empreendimento, mas a tendência é que leve o "laboratório automotivo" para algum parque tecnológico. Nesse caso, surgem como candidatos São José dos Campos, município vizinho de Jacareí, e Sorocaba - duas cidades paulistas que já abrigam complexos desse tipo. "Mas também não descartamos levar isso para fora de São Paulo", afirma o executivo.

Diferentemente da estratégia de concorrentes como a coreana Hyundai, que preferiu dedicar apenas aos consumidores brasileiros toda a produção de sua fábrica em Piracicaba (SP), a Chery pretende usar o Brasil como plataforma de exportação a mercados vizinhos na América do Sul, a começar por embarques do modelo Celer. Além dos países tradicionalmente explorados por montadoras brasileiras, como Argentina, Colômbia e Uruguai, carros produzidos pela Chery em Jacareí devem ser vendidos para Equador, Peru e Venezuela, onde a montadora já tem uma linha de montagem em regime de CKD.

Embora o mercado automotivo venezuelano esteja em baixa, dada a falta de divisas para importações, o grupo planeja complementar com carros brasileiros a linha de produtos oferecidos no país. "A Chery vai muito bem na Venezuela", diz Curi, que prevê para o ano que vem o início das exportações.

Mesmo antes de começar a produzir no Brasil, a matriz da Chery na China já começa a traçar a segunda etapa de investimentos no país. Está nos planos a produção do Tiggo, um utilitário esportivo (SUV, na sigla em inglês) que atualmente é montado no Uruguai. Seria a forma de entrar com mais força em um dos segmentos que mais cresceram no mercado brasileiro nos últimos anos. De acordo com Curi, se tudo der certo, o carro começa a ser montado no Brasil em 2016.

A cerimônia de inauguração das instalações da Chery em Jacareí está marcada para 28 de agosto, com atraso em relação ao cronograma original, que previa o início da produção no fim do ano passado.

A direção da empresa cita adversidades climáticas e atrasos na implementação da infraestrutura de transmissão de energia ao explicar por que o projeto não saiu dentro do prazo previsto. Fora isso, o governo federal demorou mais de um ano para flexibilizar barreiras do novo regime automotivo a montadoras que decidissem investir no país, o que colocou diversos projetos, inclusive o da Chery, em compasso de espera. A montadora diz já ter contratado 250 pessoas para trabalhar na nova fábrica.