PSA quer comprar mais R$ 1,5 bi no Mercosul

Volume servirá para aumentar nacionalização de 58% para 80%.

“Nossa meta até 2018 é adquirir na região 80% do valor total em reais de nossas compras no Brasil e na Argentina. Hoje esse índice é de 58% Contamos com vocês para atingir nossos objetivos de competitividade na América Latina.” Assim o diretor mundial de compras do grupo PSA Peugeot Citroën, Jean Baptiste Formery, abriu a cerimônia de premiação dos 11 melhores fornecedores que abastecem as duas fábricas da montadora na região. “Traduzindo em valores, esses 22 pontos vão significar mais R$ 1,5 bilhão por ano que queremos pagar aos senhores”, destacou Carlos Gomes, presidente da PSA na América Latina. “Isso só com a nossa gama atual de produtos, sem contar as novidades que virão mais adiante”, acrescentou. 

O volume atual de compras do grupo na América Latina soma cerca de R$ 3 bilhões nos dois países onde tem fábrica no Mercosul, sendo que 78% são gastos com peças e serviços fornecidos por empresas instaladas no Brasil, que abastecem tanto a planta de El Palomar, na Argentina, como Porto Real (RJ). Ao todo, na região a PSA trabalha com 350 fornecedores de partes para a produção. 

Não será fácil, no entanto, aumentar as compras no Brasil e Argentina em 50% e chegar aos R$ 4,5 bilhões nos próximos quatro anos. Para isso a PSA vai precisar elevar também bastante suas vendas na região, que nos últimos meses apresentaram quedas maiores do que a média do mercado. “Vai continuar a ser complicado. Não vemos crescimento nos próximos três anos. Por isso precisamos focar nossos esforços nos segmentos mais rentáveis”, explicou Carlos Gomes. Ele estima que, daqui por diante, não será mais a expansão da classe C que garantirá o avanço dos negócios no Brasil. “O que veremos é a elevação do poder de compra das classes A e B. É aí que podemos crescer, pois temos produtos para isso”, avalia.

Plano de recuperação


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Gomes também falou sobre o plano de recuperação da PSA, chamado sintomaticamente de “Back in the Race” e apresentado há cerca de um mês, após uma operação de salvação que envolveu a venda de participação de 14% da companhia para a chinesa Dongfeng e outra parte igual a um fundo do governo francês. “Lembro que aqui mesmo no evento de premiação do ano passado tive de dizer que não iríamos morrer, apesar dos momentos extremamente difíceis que passamos em 2012 e 2013”, disse. “A PSA esteve fora da corrida nesse período e agora está de volta, com espírito de combate.” 

O executivo lembrou dos objetivos principais do plano: alcançar a partir de 2016 fluxo de caixa livre positivo de € 2 bilhões, atingir margem operacional de 2% até 2018 e chegar a 5% entre 2019 e 2023, levar adiante a diferenciação das marcas Peugeot, Citroën e da DS em separado da Citroën, promover o crescimento rentável, melhorar a competitividade, reduzir o número de plataformas e modelos, reduzir o peso dos salários de 15% para 12,5% dos gastos e cortar custos em € 500 por carro produzido, o que deve gerar economia de € 1 bilhão até 2016. As melhores perspectivas estão na China, onde calcula-se que a associação com a Donfeng deve elevar as vendas das três marcas do grupo das atuais 500 mil unidades/ano para 970 mil até 2016. 

América Latina

Gomes disse que a operação na América Latina também será afetada pelo plano de recuperação global da companhia. “Hoje não há mercado mais complicado no mundo, em que o doente não sabe que está doente. Mas assim mesmo a PSA continua com objetivos sólidos e vai ficar para sempre na região, temos de ficar, porque sabemos que mais adiante as vendas vão voltar a crescer”, ressaltou. Somando todos os países latino-americanos, as projeções da PSA indicam avanço do mercado total de 7 milhões de veículos por ano em 2013 para 7,3 milhões em 2016, e para 9,6 milhões em 2022. 

O executivo revelou que o plano na região é até 2018 é diminuir o número de plataformas de carros fabricados no Brasil e na Argentina das atuais três para apenas uma. “Vamos focar no segmento que mais vende, de compactos, e complementar o resto da gama com importações”, disse. Aos fornecedores, ele destacou que a PSA quer cortar custos de produção na região em € 450 por carro, reduzir seus custos fixos em 14%, todo o powertrain dos veículos será localizado e o portfólio de produtos vendidos na América Latina deve cair de 29 para 17 modelos. 

Gomes afirmou que a localização maior de componentes usados na produção será fundamental para os planos da PSA no Brasil e Argentina. “Como ainda usamos grandes volumes de componentes importados, as recentes desvalorizações do real e do peso argentino impactaram diretamente nossos resultados na região, mais do que outros concorrentes.” 

Em uma análise franca, Gomes mostra-se decepcionado com o rumo e o ritmo do mercado brasileiro. “Tivemos um grande crescimento da concorrência nos últimos anos que não foi acompanhado pelo número de consumidores. No passado recente fizemos investimentos pesados para atender um tamanho de demanda que infelizmente até agora não aconteceu. Esperávamos para este ano um mercado de 4 milhões de veículos, não é o que vemos. Ao invés disso deveremos ter o segundo ano seguido de queda nas vendas”, admite. 


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