Com fábrica atrasada, JAC Motors passa a ser controlada por chineses no Brasil

Sócio majoritário no projeto da montadora chinesa, com 66%, o brasileiro Sérgio Habib passará a ter fatia-minoritária na unidade de Camaçari, que deveria iniciar a produção no fim do ano.

O empresário brasileiro Sérgio Habib, presidente do Grupo SHC e até agora sócio majoritário da fábrica de veículos da JAC Motors do Brasil, passará a ter participação minoritária no projeto. Ele detém 66% das ações e os chineses os 34% restantes, mas a sociedade será invertida.

Além de colocar mais dinheiro no projeto - orçado em R$ 1 bilhão (R$ 900 milhões para a produção de carros e R$ 100 milhões para caminhões) -, os chineses vão gerir a fábrica, cujas obras em Camaçari estão atrasadas. O início da produção estava previsto para o fim do ano, mas foi adiado para o 2º semestre de 2015.

Segundo a empresa, a mudança na composição acionária é um pedido dos próprios chineses. Quando anunciou a fábrica, em 2011, o executivo que comandou a Citroën do Brasil por oito anos informou que 80% do investimento seria bancado por capital brasileiro e 20% pelos chineses. A empresa não informou como ficará essa divisão após a mudança acionária, que está sendo concluída com a JAC chinesa.

Segundo Eduardo Pincigher, diretor de assuntos corporativos do Grupo SHC, as obras civis da fábrica devem começar em um a dois meses, quando será liberado um empréstimo da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia). Ele não revela valores, mas, segundo citou o secretário da Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, James Correia, em entrevista ao jornal A Tarde, seriam R$ 110 milhões.

Pincigher afirma que os atrasos na obra de terraplenagem ocorreram em razão da demora em obter licenças ambientais e pelas fortes chuvas que ocorreram na região no ano passado. "Em 30 a 60 dias também deveremos definir a construtora para a obra civil, após licitação".

A fábrica baiana terá capacidade para 100 mil automóveis ao ano e, futuramente, 10 mil caminhões. Inicialmente serão produzidos três modelos de uma mesma família, entre os quais as versões hatch e sedã da próxima geração do J3. Hoje o modelo é importado e vendido a partir de R$ 34 mil.


Continua depois da publicidade


Parte dos equipamentos para a linha de produção serão trazidos da China, mesma estratégia adotada pela Chery, outra montadora chinesa que está construindo fábrica em Jacareí (SP) e também teve a inauguração adiada.

Quando foi anunciado, o projeto era para o fim de 2013, mas, em agosto, foi estendido para o primeiro semestre deste ano e, agora, para o segundo. Todo o investimento da Chery foi assumido pelo grupo chinês.

Dificuldades

No mercado, comenta-se que Habib, um dos maiores concessionários do País - dono de cerca de 50 revendas da JAC, 40 da Citroën, duas da Volkswagen, duas da Jaguar e uma da Aston Martin -, passou a enfrentar dificuldades quando o governo estabeleceu alíquota extra de 30 pontos porcentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)para carros importados, o que fez as vendas despencarem.

A JAC vendeu 23,7 mil automóveis no primeiro ano de operação no País, em 2011, volume que caiu para 15,9 mil em 2013 e deve ser repetido neste ano. Depois de aderir ao Inovar-Auto e confirmar a fábrica na Bahia o grupo teve direito a uma cota de importação sem a taxa extra.

A Chery também teve problemas após o novo imposto. As vendas caíram de 21,6 mil unidades em 2011 para 8 mil no ano passado.

No início de 2013, Habib mudou a estratégia de marketing da JAC, muito agressiva nos dois primeiros anos de chegada ao País, e dispensou seu garoto-propaganda, o apresentador Faustão, que tornou a marca chinesa conhecida no Brasil. Também se desfez de alguns imóveis e de uma locadora, mas está prestes a adquirir a bandeira de uma nova marca.

Por Cleide Silva/ O Estado de S.Paulo


Tópicos: