Brasil é o 2º país emergente mais vulnerável, diz Fed

Relatório enviado ao Congresso cita o Brasil 11 vezes e o coloca no grupo de países que mais sofreram com a recente fuga de capitais.

O Brasil é a economia emergente mais vulnerável depois da Turquia, na avaliação do Federal Reserve americano, que atribui a recente turbulência nesses países a "desenvolvimentos adversos" não relacionados com sua decisão de iniciar o processo de retirada de estímulos monetários da maior economia do mundo, o chamado tapering.
 
No relatório semestral sobre política monetária enviado ontem ao Congresso, o Fed cita o Brasil 11 vezes e o coloca no grupo de países que mais sofreram com a recente fuga de capitais de ativos "arriscados". O documento de 49 páginas traz um "índice de vulnerabilidade" de 15 países emergentes, na qual a Turquia aparece na pior posição, seguida do Brasil, Índia, Indonésia e África do Sul - o grupo batizado de "cinco frágeis". No outro extremo estão Taiwan, Coreia do Sul, Malásia e China.
 
O índice é composto por seis indicadores que revelariam a capacidade do país enfrentar choques econômicos ou financeiros, entre os quais o resultado das transações com o exterior, a dívida pública bruta, a expansão do crédito para o setor privado nos últimos cinco anos e o tamanho das reservas internacionais, todos considerados em relação ao PIB. Os outros dados são a inflação média dos últimos três anos e a relação entre dívida externa e exportações.
 
Na avaliação do Fed, os investidores estão "diferenciando" entre os mercados emergentes e castigando aqueles vistos como mais vulneráveis, entre os quais o Brasil.
 
O relatório reconhece que a turbulência nos mercados emergentes no fim do primeiro semestre "parece" ter sido provocada pela indicação do Fed de que poderia dar início à retirada do estímulo monetário no fim do ano.
 
Mas a volatilidade vista em janeiro decorre de outros fatores, sustenta o documento. Em dezembro, o banco central americano anunciou que começaria o processo de redução da compra mensal de ativos pela qual mantém as taxas de juros de longo prazo próximas de zero.
 
"Diferentemente do último verão, houve pouca mudança nas expectativas em relação à política monetária dos EUA desta vez", observa o relatório, em relação à decisão de dezembro. Na avaliação do Fed, a turbulência nos emergentes foi provocada por "desenvolvimento adversos" nesses próprios mercados, entre os quais a desaceleração da atividade industrial na China, a desvalorização de peso argentino e a intervenção da Turquia para sustentar sua moeda.
 
Os países vulneráveis sofreram saída de capital, depreciação cambial e aumento das taxas pagas pelos bônus que emitem. Alguns emergentes "continuam a ter vulnerabilidades econômicas e financeiras significativas e mesmo economias com posição de certa forma forte enfrentam o desafio de reforçar a confiança dos investidores em um ambiente tenso", pondera o relatório.
 
Reação
 
O Fed ressalta que o Brasil e outros países emergentes reagiram à volatilidade verificada desde o primeiro semestre e adotaram medidas para tentar estabilizar suas economias. O Banco Central brasileiro aumentou a taxa básica de juros em 3,25 pontos porcentuais desde abril, para 10,5%. Também flexibilizou restrições adotadas para conter a entrada de capital no País no momento em que a política monetária superexpansiva americana aumentava a liquidez internacional.
 
Esse movimento começou a ser revertido em dezembro, com o anúncio do Fed de que reduziria de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões a quantidade de títulos do Tesouro e bônus lastreados em hipoteca que compra a cada mês. Novo corte de US$ 10 bilhões foi aprovado em janeiro. Apesar de as aquisições terem por objetivo reduzir a taxa de juros de longo prazo, um de seus efeitos colaterais foi o aumento da quantidade de dinheiro no mercado, o que estimulou a entrada de capitais nos países emergentes. Com a redução do estímulo, esse movimento começa a se reverter.
 
O relatório afirma que os emergentes devem ir além das medidas de curto prazo voltadas para conter a volatilidade e defende a adoção de reformas monetárias, fiscais e estruturais que reduzam vulnerabilidades e os tornem mais resistentes a choques. "Essas reformas vão demandar tempo e os investidores globais vão acompanhar de perto o seu progresso."
 
Por Cláudia Trevisan/ O Estado de S.Paulo

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