Base de fornecedores é eficiente, mas falta competitividade

Montadoras aumentarão as compras locais, mas preço ainda interfere na decisão.

Não falta capacidade produtiva para as fabricantes de autopeças atenderem os altos volumes das montadoras no Brasil. Mas há carência de competitividade. Essa foi a principal reclamação de executivos de compras da Ford, Renault e Volkswagen, que participaram do painel Competitividade na visão de Compras, realizado no terceiro e último dia do 22º Congresso SAE.

João Pimentel, diretor de compras da Ford América do Sul, Pedro Suplicy, gerente executivo de compras de peças, veículos e pós-vendas da Renault, e John Meckien, gerente executivo de compras produtivas de Powertrain da Volkswagen, concordam que o Inovar-Auto servirá para aumentar a adesão de peças produzidas localmente. No entanto, tendem a continuar a importar quando for mais barato. “Não podemos nos acomodar com os incentivos do novo programa. E é evidente que jamais faremos a localização se for mais caro que importar”, declarou Pimentel.

“A base da cadeia produtiva do Brasil não é competitiva. Diversos negócios estão sendo desperdiçados. Muitas peças deixam de ser feitas por aqui. O Brasil já perdeu chances de desenvolver plataformas globais, como tem feito México e Índia, outros países em desenvolvimento”, apontou Suplicy. O gerente acredita que o desenvolvimento tecnológico da cadeia brasileira é mandatório, mas deve-se tomar cuidado para não cair no protecionismo.

Na visão de Meckien, há um paradoxo com o programa. “O Inovar-Auto pede para sermos mais competitivos, mas protege a base local, podendo leva-la ao comodismo e a uma certa incapacidade de inovação. Será um desafio para as montadoras conseguir fazer com que os tiers um, dois e três atendam os mesmos requisitos de fornecedores de outros países.”

A Ford, segundo Pimentel, tem trabalhado em conjunto com parceiros menores, que não têm experiência global, para capacitá-los a entregar maiores volumes. A fabricante está contratando 35 novos engenheiros para compor um grupo de 100 profissionais que lidam diretamente com os fornecedores.

“O Brasil tem cadeia eficiente, o que já cria uma proteção local contra as importações. Só falta ter produção competitiva. De uma forma ou de outra, as fabricantes de autopeças vão ter de investir para entregar o solicitado pelas montadoras. Se não reagirem, outros competidores se instalarão no Brasil”, declarou Pimentel.

Meckien lembrou que a capacitação dos parceiros impacta nos custos. “É preciso criar um processo para evitar que estas despesas sejam passadas para os consumidores finais, que não estão dispostos a desembolsar mais dinheiro pelo mesmo produto.”

Um dos setores menos competitivos da indústria automobilística brasileira é a ferramentaria. Pedro Suplicy, da Renault, disse que esta área está muito atrasada, tem muitas limitações e não consegue atender todos os pedidos a tempo. “Para nós é até mais complicado e caro comprar uma ferramenta de fora do País. Às vezes temos que enviá-la para conserto em seu país de origem e isso leva tempo e dinheiro. Mas somos obrigados a passar por todo este processo por falta de competitividade das ferramentarias locais. Este é mais um desafio que vem à tona com o Inovar-Auto e que demandará altos investimentos.”

“Em compensação, a engenharia brasileira é capaz de testar e validar qualquer produto. Conseguimos atender pedidos de outras fábricas, realizando os mais diversos testes com veículos que sequer rodarão no Brasil”, complementou Pimentel.

Para garantir abatimento no IPI, como prevê o Inovar-Auto, o diretor Pimentel disse que a Ford investirá cada vez mais no seu centro de engenharia na Bahia, responsável pela validação de produtos para Brasil e outros mercados. “Firmamos parcerias com universidades baianas para atrair jovens engenheiros.” A Volkswagen, segundo Meckien, aproveitará os benefícios do programa para capacitar Tiers 1, 2 e 3. Já a Renault aposta no investimento em novas tecnologias. “A nossa principal saída será trazer expertise do exterior”, comentou Suplicy.

Por Camila Franco/ Automotive Business