Fed faz dólar cair a R$ 2,19

Fed faz dólar cair a R$ 2,19

Investidores e analistas foram surpreendidos ontem (18) com a decisão do Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, de manter o seu programa de estímulos monetários, o Quantitative Easing (ou afrouxamento quantitativo, na tradução do inglês), que injeta US$ 85 bilhões na maior economia do planeta todos os meses. Desde maio, o presidente da instituição, Ben Bernanke, ameaça iniciar a retirada dos incentivos, provocando verdadeiras convulsões nos mercados emergentes, especialmente no Brasil.
 
A garantia de que a redução do programa ficou para o ano que vem fortaleceu o real e tornou os papéis de empresas brasileiras mais atrativos. Ontem, o dólar recuou 2,89%, cotado e R$ 2,194, o menor patamar desde 26 de junho, quando a moeda fechou em R$ 2,18. A Bolsa de Valores de São Paulo também comemorou: teve ganhos de 2,64%, ao cravar os 54.702 pontos, com movimento financeiro de R$ 8,2 bilhões. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, avançou 0,95%, para 15.676 pontos, enquanto a Nasdaq subiu 1,01%.
 
"Bernanke desarmou a expectativa do mercado. O Fed está se sentindo muito inseguro para fazer a redução dos estímulos à economia norte-americana, que ainda não dá sinais efetivos de forte recuperação. Isso é bom para os mercados emergentes porque mantém a liquidez mundial. Ou seja, não haverá tanto fluxo de dinheiro fugindo de países como o Brasil para os EUA", disse o economista-chefe do Espirito Santo Investment Bank, Jankiel Santos. Diante desse quadro, já existem especialistas revisando as projeções para dólar no fim deste ano para R$ 2,10.
 
Juros zero
 
Depois de dois dias reunidos, o Fomc, comitê monetário do Federal Reserve, decidiu esperar por mais evidências de progresso na atividade econômica dos EUA e de força no emprego, antes de sair do mercado. Atualmente, a instituição compra, todos os meses, US$ 45 bilhões em títulos do Tesouro norte-americano em poder dos bancos e US$ 40 bilhões em papéis do mercado imobiliário. Com isso, injeta recursos para estimular o crédito e o consumo. Em relação ao juros, o Fed assinalou que permanecerão próximos de zero enquanto o desemprego estiver acima de 6,5% e a inflação, abaixo de 2,5%. A maioria dos integrantes do Fomc acredita que os juros serão elevados somente em 2015.
 
"Enquanto os juros dos EUA se mantiverem baixos, os mercados emergentes se tornarão menos arriscados aos olhos dos investidores. No Brasil, a perspectiva é de que a taxa básica (Selic) tenha pelo menos mais um aumento neste ano, de 9% para 9,5% ao ano. Isso ajuda a atrair recursos", explicou o gerente da Fair Corretora, Mário Battistel.
 
Muitos analistas anteviam que, nesta reunião de setembro, Ben Bernanke iniciasse o primeiro passo de abrandamento do programa de estímulos. O mercado chegou a especular que a redução seria entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões. No entanto, o comandante do Fed garantiu que os estímulos permanecerão e enumerou três motivos para a prudência: a valorização dos títulos do Tesouro de longo prazo, de 1,66%, em 2 de maio, para um pico de 2,98%, em 5 de setembro; a inflação persistentemente abaixo de 2%; e eventos negativos que surjam caso o Congresso norte-americano prejudique o financiamento da administração federal a partir de outubro e dificulte a ampliação do teto da dívida federal, criando a ameaça de calote.
 
Bernanke não considerou "errado" ter anunciado, ainda em maio, a possibilidade de mudança de estratégia do Fed, apesar da alta dos títulos do Tesouro norte-americanos e do verdadeiro massacre nas bolsas e mercados da dívida das economias emergentes. Ele sublinhou que o aviso apontava no sentido da "probabilidade de começar ainda neste ano", e não de uma certeza. "A decisão dependerá dos dados e não do calendário", reiterou.
 
Na avaliação do gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, a notícia é boa para o Brasil, pois alivia a pressão sobre o real ao atrai recursos para o país. Segundo o BC, as saídas de dólares superaram as entradas em US$ 702 milhões neste ano até 13 de setembro.
 
Por Simone Frafuni/ Correio Braziliense

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