Bancos sustentam maior fuga de dólar em 15 anos

Bancos sustentam maior fuga de dólar em 15 anos.

O Brasil registrou, em agosto, a maior fuga de recursos para esse mês desde 1998. As retiradas somaram US$ 5,85 bilhões, o que criou desconforto no governo, por difundir a ideia de desconfiança em relação ao país. Para evitar mais desgaste, assessores da presidente Dilma Rousseff trataram de explicar que as saídas de dólares decorrem do pagamento de dívida contraídas pelos bancos em 2011, logo depois de o Banco Central exigir mais capital das instituições operarem com moedas estrangeiras (aumento dos depósitos compulsórios) e de o Ministério da Fazenda instituir o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empréstimos no exterior com vencimento em até dois anos. As dívidas pagas foram contraídas por dois anos e um dia.
 
Nos cálculos da equipe econômica, os bancos pagaram US$ 1 bilhão em dívidas em julho e R$ 6 bilhões, em agosto. A maior parte dos desembolsos ocorreu na última semana do mês passado. Tanto que, até então, o fluxo cambial do país estava positivo. Assim, no entender do Palácio do Planalto, não há com o que se preocupar, pois não se esperam fugas maciças de recursos, mesmo depois de o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, anunciar, provavelmente em 18 de setembro próximo, como será a redução dos estímulos dados à principal economia do planeta.
 
A equipe de Dilma Rousseff assegura ainda que as ações tomadas pelo BC de Alexandre Tombini para conter a disparada da moeda norte-americana estão surtindo efeito. Desde 22 de agosto, quando foram anunciadas as vendas diárias de dólares nos mercados futuros — cerca de US$ 60 bilhões até o fim de dezembro —, o real já acumula alta de 3,2% ante a divisa dos EUA. Em outros países, que recorreram às vendas de reservas internacionais, o quadro é diferente. No mesmo período, a lira turca registrou baixa de 3% na comparação do dólar. Já a rúpia indiana desabou 4,6% e a rúpia indonésia, 5%.
 
Entre os economistas, há divergências se realmente o Brasil está sendo vítima da fuga de capitais, pois, nos oito primeiros meses do ano, a entrada de recursos superou a saída em US$ 2,2 bilhões. De qualquer forma, agosto foi o terceiro mês consecutivo de perda líquida de dinheiro — US$ 9,9 bilhões. "Mesmo sendo um movimento forte de saída de dólares, ainda é cedo para afirmar que isso continuará a ocorrer nos próximos meses. Talvez seja algo específico, apenas para o pagamento de dívidas dos bancos", analisou o economista-sênior do Espirito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.
 
Mesmo com o fluxo cambial negativo em agosto, a moeda norte-americana recuou 0,14 % ontem, para R$ 2,356 na venda. O movimento de perda de valor do dólar ocorreu em todo o contexto internacional, devido à recuperação do índice de compras dos gerentes do setor de serviços chinês, medido pelo HSBC, que subiu para 52,8 em agosto, em comparação com os 51,3 em julho. O sinal de recuperação do ritmo da atividade no país asiático ajudou a fortalecer as moedas de países emergentes exportadores de commodities, como o Brasil. Também pesou o fato de a Zona do Euro, finalmente, ter saído de um longo processo recessivo.
 
Mais pessimista, o economista-chefe do Rabobank Brasil, Robério Costa, acredita que, daqui por diante, o Brasil assistirá a uma saída mais forte de dólares e, por consequência, o fluxo ficará negativo. "Por isso, o encarecimento da moeda norte-americana, que está cada vez mais escassa no mercado", disse. Ele detalhou que os bancos têm recorrido às divisas que detêm no exterior para atender os clientes brasileiros.
 
Serviços em baixa
 
Principal motor da economia brasileira, os serviços já começam a dar sinais de perda de fôlego. Em agosto, o Índice de Gerente de Compras (PMI) do setor registrou 49,7 pontos, caindo, pela primeira vez, desde agosto de 2012, abaixo de 50 pontos. Pelo indicador, organizado pelo banco HSBC e pela consultoria financeira Markit, números abaixo desse patamar indicam desaceleração da atividade. Pesou para o fraco resultado o menor ritmo de contratações no mercado de trabalho. Para analistas, caso persista esse comportamento, já em meados de 2014, poderá ocorrer uma onda de demissões, colocando mais pressão sobre o governo de Dilma Rousseff, candidata à reeleição.

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