Sindipeças pede taxação de importações

Entidade quer mesma proteção dada às montadoras.

O Sindipeças, que reúne cerca de 500 fornecedores de componentes automotivos, vai pedir ao governo a sobretaxação de peças importadas, nos mesmos moldes do que foi feito para carros importados no Inovar-Auto. Este é um dos principais pontos da proposta de política industrial para o setor de autopeças que a entidade entrega ao ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) nesta terça-feira (3). Outros pilares do plano são o refinanciamento de dívidas com o governo, criação de linhas de crédito e inclusão das empresas no Reintegra, que compensa impostos incidentes sobre as exportações com devolução de porcentual sobre o valor exportado.
 
“Nós já pedimos isso ao governo antes, mas agora nos pediram para apresentar nossa proposta de novo”, diz Paulo Butori, presidente do Sindipeças. Essa será uma contraproposta em relação ao que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) pretendia apresentar no programa batizado Inovar-Autopeças, cujo lançamento foi marcado para de 26 de agosto e cancelado após desconforto com o Sindipeças, que não tinha sido consultado sobre o programa. 
 
Na sexta-feira passada (30), representantes do MDIC visitaram a sede da entidade em São Paulo e mostraram o plano, que segundo Butori não tinha nada além de oferta de financiamentos do BNDES – que a maioria dos sócios não pode tomar porque têm dívidas com o Fisco – e certificação de peças. “É baboseira, não serve para nada, é mais do mesmo”, afirmou o dirigente sobre o conteúdo do Inovar-Autopeças, em tom de desabafo, durante sua apresentação no Simpósio SAE Brasil de Inovação Tecnológica e Tendências Globais, realizado nesta segunda-feira (2), em São Paulo. 
 
Mais cedo, no mesmo evento, Luiz Moan, presidente da Anfavea (associação dos fabricantes de veículos), havia dito que a entidade estava empenhada na criação de políticas de incentivo aos fornecedores, sem os quais a indústria não poderia crescer, mas jogou a culpa da falta de investimentos na insegurança do setor. “Falta confiança das empresas de autopeças para investir em modernização”, disse. 
 
Proteção só para montadoras
 
Para Butori, o que falta são incentivos reais. “Ficamos até assustados quando ouvimos que a Anfavea está envolvida em gerar políticas de incentivo para autopeças, porque não vemos nada”, assegurou. “No passado existia o reconhecimento de que era necessário ter uma indústria de autopeças forte no País. Hoje parece que isso foi deixado em segundo plano. Com as medidas do Inovar-Auto as montadoras estão protegidas, deixamos de importar carros para importar peças”, disse, em referência à desindustrialização vivida pelo setor, com intensa substituição de componentes nacionais por importados, que deve resultar em déficit da balança comercial do segmento de mais de US$ 10 bilhões este ano, configurando-se em segunda ou terceira maior pauta de importações do País. “O setor está com hemorragia que precisa ser urgentemente estancada”, compara. 
 
Butori defende que os fabricantes de autopeças precisam da mesma proteção que o governo deu com o Inovar-Auto às montadoras, que usam grande quantidade de peças importadas nos carros produzidos atualmente – o dirigente calcula o índice médio de componentes nacionais na montagem em apenas 30%. Ele garante que o setor voltará a investir e não tem problemas em assumir contrapartidas, como compromissos de desenvolvimento, se o governo criar barreiras à concorrência estrangeira e linhas de financiamento. “É bom lembrar que a maioria das inovações hoje está nas autopeças, não nas montadoras. Se o setor não fornecer isso aqui teremos de importar tudo”, alerta. 
 
O presidente do Sindipeças concorda, no entanto, em criar uma lista de exceções, como quer a Anfavea, para componentes sem similar nacional. Neste caso, os fabricantes defendem que o imposto de importação seja baixado para 2%. “Concordamos com isso desde que exista o compromisso de elevar a alíquota assim que começar a produção local das peças beneficiadas com a redução”, pondera. “Mas essa não é a situação da maior parte das importações. Hoje se importa qualquer coisa que seja mais barata lá fora, e isso é muita coisa.” Ele lembra que o custo do trabalho é muito elevado no Brasil, com evolução abaixo dos ganhos de produtividade, por isso é difícil enfrentar a concorrência estrangeira. “Precisamos compensar essa desvantagem de alguma forma”, defende. 
 
Para Butori, a receita para incentivar a inovação tecnológica está na criação de políticas para atrair investimento internacional, com obrigação de introduzir certas tecnologias no País. Além disso, na visão dele são necessários intensivos investimentos em educação, “para que possamos absorver esses conhecimentos”.
 
Por Pedro Kutney/ Automotive Business