Ação do BC e do Tesouro não evita que dólar suba a R$ 2,414

Banco Central e Tesouro não impedem nova alta e dólar fecha em R$ 2,414.

O Tesouro fez leilão de recompra de papéis pré-fixados e o Banco Central vendeu US$ 3,6 bilhões para conter a valorização do dólar, mas a operação fracassou e a moeda fechou em R$ 2,414 - a maior cotação desde 21 de março de 2009. A corrida por títulos dos EUA, provocada pelo temor de redução dos estímulos monetários pelo Fed, provocou uma disparada dos juros pagos pelos títulos do Tesouro americano e fez o dólar subir fortemente ante moedas de países emergentes.

Depois dos ruídos na semana passada causados pelas declarações do ministro da Fazenda Guido Mantega, ao dizer que o câmbio atual torna o setor produtivo brasileiro mais competitivo, o Tesouro Nacional e o Banco Central atuaram de forma coordenada ontem (19) para conter a valorização do dólar, cuja força pressiona a inflação. A operação conjunta, no entanto, fracassou e a moeda fechou em R$ 2.414 - maior cotação desde 21 de março de 2009.

Com o câmbio e os juros futuros em alta, o BC lançou mão de uma bateria de leilões de contratos de swap cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro - 110 total, foram US$ 3,6 bilhões. Ao mesmo tempo, o Tesouro fez um leilão extraordinário de recompra de papéis do governo prefixados para diminuir a volatilidade e a pressão sobre os juros e o dólar.

O alívio nas cotações foi temporário. A estratégia fracassou e o dólar fechou o dia no maior valor desde março de 2009. Contaminado pelo câmbio, o mercado de juros também fechou com taxas mais salgadas, apesar da ação do Tesouro. Ou seja, os investidores apostam que o Banco Central terá de elevar mais os juros no futuro.

A contaminação mais forte dos dois mercados foi provocada pelo aumento das incertezas em relação às taxas de juros dos EUA e das desconfianças em relação ao futuro da economia brasileira. O nervosismo do mercado foi ampliado pela expectativa da divulgação da ata da Fed, o banco central dos EUA, na quarta-feira (21), quando se espera uma sinalização mais clara da retirada dos estímulos da economia americana. A iminência de retirada desses estímulos tem afetado várias moedas, mas, sobretudo o real. Ontem (19) à noite, em São Paulo, durante o evento Valor 1000, que premia empresas que mais se destacaram em 25 setores da economia brasileira, o ministro Mantega atribuiu a disparada do dólar a uma situação provocada pelos EUA, e voltou a dizer que o câmbio é flutuante e "não tem teto nem tem piso". "É preciso tomar cuidado para não se entusiasmar ao falar que o câmbio vai muito longe."

Com a subida do dólar, os investidores enxergaram risco maior para a inflação e a possibilidade de o BC acelerar o ritmo de alta da Selic na próxima reunião do Copom. Para se protegerem da possibilidade de alta dos juros, eles aumentaram a procura por proteção no mercado futuro, o que pressionou ainda mais a taxa.

A volatilidade levou até mesmo o presidente do BC, Alexandre Tombini, numa ação pouco usual, a divulgar uma nota oficial no fim do dia, advertindo que o movimento de alta dos juros futuros incorporou "prêmios excessivos". Ele também alertou para o risco de perdas dos investidores que apostam numa única direção de alta do dólar, e não descartou vender parte das reservas.

Em sintonia com o BC, o Tesouro informou que atuou para reduzir os prazos de vencimentos dos títulos e a procura por operações de hedge. Segundo uma  autoridade do Tesouro, como há grande correlação entre o mercado de juros e o dólar, a ação conjunta alivia a pressão sobre os juros. “É uma ação que ajuda a normalizar o mercado disse a autoridade”.

De acordo com o Tesouro, depois de dois ou três dias de leilão, a demanda pela recompra tende a diminuir. Para o governo, há uma pressão muito mais de demanda por hedge (proteção) do que de saída de recursos do País.

Por Adriana Fernandes Renata Veríssimo/ O Estado de S. Paulo


Tópicos: