Instalação de rastreadores em carros é adiada

Empresas do setor de autopeças que investiram na tecnologia deverão esperar mais seis meses.

A instalação obrigatória de rastreadores antifurto em veículos vendidos no Brasil foi adiada pela nona vez, prolongando ainda mais a ociosidade em linhas de empresas que investiram nessa tecnologia, como as gigantes do setor de autopeças Continental e Magneti Marelli.
 
O cronograma para a instalação desses dispositivos, a começar por 20% da produção de carros, mudou de 30 de junho para 31 de dezembro. Como resultado de uma política de prevenção ao roubo de veículos editada há mais de sete anos, os rastreadores, originalmente, começariam a ser instalados em agosto de 2009, já incluindo o prazo para adequação das empresas. Contudo, de lá para cá, o cronograma teve de ser revisto diversas vezes por conta de um imbróglio jurídico envolvendo o direito de privacidade e, após isso, atrasos no desenvolvimento do sistema de telecomunicações do governo que vai monitorar e ativar os equipamentos.
 
No início do ano, os rastreadores começaram a ser testados com alguns carros na pista, mas em sua última resolução, editada em 25 de junho, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) considerou a necessidade de estender em mais seis meses o prazo para a conclusão desses testes, assim como para validar de forma definitiva o funcionamento de todo o sistema.
 
De acordo com o Denatran - responsável pela operação da infraestrutura de telecomunicações por onde vai passar o processo de registro dos dispositivos -, a alteração do prazo aconteceu porque as montadoras ainda precisam concluir os testes. O órgão informa que seu sistema, entregue no dia 16 de dezembro, foi testado por quase toda a cadeia envolvida - entre operadoras de telefonia, prestadores de serviços de rastreamento e empresas de equipamentos antifurto -, exceto pelos fabricantes de veículos.
 
Preocupadas com o impacto do custo desse novo produto em um mercado sensível a preços, as montadoras - já pressionadas pela obrigatoriedade de dispositivos de segurança como airbags e freios ABS - são resistentes à instalação também compulsória de rastreadores.
 
Wayne Alves, diretor de engenharia da Kostal, fabricante de origem alemã que vai produzir esses dispositivos em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, conta que a falta de veículos disponíveis para testes prejudicou o andamento da etapa final de implementação do programa. Segundo ele, entidades envolvidas chegaram a discutir a realização de testes em 50 veículos, mas o número de carros testados até agora é desprezível para validação do sistema.
 
Em janeiro, o Denatran informou ao Valor que vários carros de marcas distintas já tinham sido testados e que, na época, quatro veículos, de duas marcas diferentes, estavam em teste. Procurada, a Anfavea, que representa as montadoras instaladas no país, disse que, assim como outras entidades envolvidas no programa, sentiu a necessidade de continuar os testes.
 
Se sair do papel, a obrigatoriedade da instalação de rastreadores valerá a todos os veículos, desde motocicletas a caminhões e ônibus, passando por automóveis de passeio - o que cria, de forma imediata, um mercado potencial de quase 6 milhões de veículos. De olho nessa demanda, a Continental, um dos três maiores no setor de autopeças do mundo, investiu cerca de R$ 150 milhões para produzir o equipamento em Manaus (AM). A Magneti Marelli, do grupo Fiat, também vai disputar esse mercado com uma linha capaz de montar 1,5 milhão de rastreadores para carros, caminhões e ônibus em Hortolândia, no interior paulista.
 
Os sistemistas já têm instalações industriais preparadas para produzir esses dispositivos há mais de dois anos, mas, até agora, não tiveram nenhum retorno financeiro do investimento. Alves, da Kostal, diz que nem todos os equipamentos podem ser aproveitados em outras linhas e, por isso, ficam parados à espera dos pedidos das montadoras.
 
O novo cronograma, assim como os anteriores, prevê que a instalação dos rastreadores será feita de forma gradual. Para carros, caminhões e ônibus, começa por 20% da produção, chega a 50%, em 30 de agosto de 2014, e alcança 100% a partir de 31 de dezembro do ano que vem. No caso das motos, os prazos e percentuais são diferentes: começam por 5% da produção, em 31 de março, e só chegam à totalidade do mercado em 28 de fevereiro de 2015.
 
Os veículos sairão da fábrica com o equipamento antifurto instalado, mas o proprietário só terá seu carro rastreado se contratar uma prestadora desse tipo de serviço. Estima-se, contudo, que essa adesão será baixa, em torno de 5% do total nos primeiros dois anos.
 
Por Eduardo Laguna/ Valor Econômico