FMI vê PIB minguar e alerta sobre inflação

Fundo Monetário Internacional reduz previsão de crescimento para o Brasil neste ano e no próximo, avisa sobre os riscos da carestia e admite que os manifestantes estão certos de irem às ruas cobrar que o governo ofereça serviços públicos melhores.

Apesar do discurso otimista do governo, ninguém mais acredita na possibilidade de o crescimento econômico deste ano ser igual ou superior a 3%. Com a indústria capengando, o consumo das famílias perdendo força e os investimentos produtivos escasseando, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu, pela segunda vez em três meses, a estimativa de expansão para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2013 e de 2014. Em vez de incremento de 3% e 4%, respectivamente, agora o organismo fala em aumento de 2,5% e de 3,2%, números ainda considerados otimistas pelo mercado.
 
Nas contas do FMI, mais uma vez, o Brasil crescerá abaixo da média mundial, ainda que a expansão do PIB global também tenha sido revista para baixo: neste ano, a estimativa cedeu de 3,3% para 3,1%; em 2014, de 5,3% para 5%. No entender dos economistas do Fundo, o planeta está encarando as “dores do crescimento”, título do documento no qual descreve um quadro mais difícil para as economias emergentes. Brasil, Rússia e China, particularmente, são os principais responsáveis pela perspectiva pessimista. No ano que vem, a situação só não será pior graças ao desempenho dos países ricos, em especial os Estados Unidos e os da Zona do Euro.
 
Ao mesmo tempo em que reduziu as projeções para o Brasil, o FMI mandou vários recados ao governo da presidente Dilma Rousseff. O principal deles: não brincar com a inflação. Segundo o conselheiro do Departamento de Pesquisa do órgão, Thomas Helbling, é extremamente preocupante que o custo de vida se mantenha, insistentemente, no teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. Desde que Dilma tomou posse, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já estourou o limite de tolerância 10 vezes, disseminando, entre investidores e empresários, a visão de que, por determinação do Palácio do Planalto, o BC está sendo leniente no combate à carestia.
 
Farra fiscal
 
Nesse contexto, destacou Helbling, “recorrer a um estimulo monetário adicional (para incrementar o PIB) seria inadequado”. Ou seja, em vez de dar mais incentivos ao consumo, o governo brasileiro deveria colocar freios na demanda, inclusive por meio do aumento dos juros — a perspectiva é de que a taxa básica (Selic) passe hoje de 8% para 8,50% ao ano. Conforme ele, infelizmente, o país tem muitas restrições para avançar. “Após uma década de expansão, o Brasil alcançou limitações, como as de infraestrutura e do mercado de trabalho, que limitam seu potencial de crescimento”, afirmou.
 
Diante dessa realidade, o técnico do FMI alertou: “O governo brasileiro precisa estimular os investimentos em infraestrutura e, sobretudo, manter seus objetivos da política fiscal”. Há um desconforto generalizado com a incapacidade da administração Dilma de executar obras que deem maior competitividade ao país e com os truques fiscais comandados pelo secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustim. Ele é apontado pelos investidores como o símbolo da desconfiança que minou o crescimento da economia.
 
Em relação aos protestos que tomaram as ruas das principais cidades do Brasil, Helbling afirmou que eles não foram incorporadas ao relatório nem pesaram na piora das previsões para o PIB. “Mas é importante deixar claro que as manifestações refletem o descontentamento da população com o baixo crescimento econômico do país e com a má qualidade dos serviços públicos”, frisou.
 
Tempos difíceis
 
Para o FMI, o Brasil é o retrato de que a festa dos países emergentes está chegando ao fim. “Apareceram novos riscos, em particular de um maior período de desaceleração do crescimento de economias emergentes. E esses riscos aumentaram”, destacou a instituição. O país sofrerá, principalmente, por causa da perda de vigor da China, que sustentou, nos últimos anos, preços altíssimos para as commodities, produtos agrícolas e minerais com cotação internacional. O Fundo estima que o país asiático terá uma expansão de 7,8% neste ano e de 7,7% em 2014. Na médias, os emergentes vão avançar 5% em 2013 e 5,4% em 2014.
 
Na visão de Rober Wood, da Economist Intelligence Unit (EIU), com a China enfraquecida, o Brasil será obrigado a se reinventar. “A economia brasileira terá de gerar crescimento do PIB a partir de suas fontes internas. Para isso, precisará apresentar ganhos de produtividade, uma vez que o desempenho da indústria é decepcionante”, afirmou. “Daqui por diante, os investidores vão olhar para os países emergentes com estrutura política mais sólida e que estiverem avançando nas reformas estruturais para impulsionar o crescimento”, explicou. “O Brasil ainda tem oportunidades atraentes, mas terá de fazer a lição de casa”, completou.
 
O FMI destacou ainda que a expansão global foi afetada por uma crescente volatilidade nos mercados financeiros. “Os países emergentes foram os mais afetados. Os recentes aumentos das taxas de juros nas economias avançadas e a volatilidade nos preços dos ativos — por causa do aviso do Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos, de que reduzirá estímulos à maior economia do planeta — provocaram fuga de capitais das economias mais frágeis, provocando a desvalorização das moedas locais”, afirmou. No Brasil, o dólar subiu quase 10% no acumulado do ano, apesar de o BC já ter vendido US$ 27 bilhões para conter a desvalorização do real.
 
Por Rosana Hessel/ Correio Braziliense

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