Pequenas indústrias são mais afetadas, diz CNI

Pequenas indústrias são mais afetadas, diz CNI

A forte oscilação mostrada pela produção industrial nos cinco primeiros meses de 2013 reflete basicamente o desempenho das grandes empresas do setor. Se o corte for feito por tamanho, o quadro é ainda mais desolador. Estudo exclusivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), indica que as empresas de pequeno porte - que têm entre dez e 49 funcionários - não vêm conseguindo acompanhar a reação, ainda que inconstante, das grandes indústrias no ano.
 
Segundo a CNI, enquanto o índice de evolução da produção das grandes empresas (com mais de 250 funcionários) está acima de 50 pontos por três meses seguidos até maio, o mesmo indicador das pequenas empresas se mantém abaixo dos 50 pontos desde dezembro de 2012. Valores acima de 50 pontos indicam que a produção aumentou e abaixo disso, diminuiu. Os dados fazem parte da pesquisa da CNI, a Sondagem Industrial. O recorte, comparando os dois extremos, no entanto, foi obtido com exclusividade pelo Valor.
 
Em maio, levantamento feito com 700 empresas de pequeno porte mostra que a baixa da produção industrial neste segmento foi ainda mais intensa do que no mês anterior - o indicador ficou em 47,8 pontos, abaixo dos 48,9 pontos de abril. Já o indicador das grandes ficou em 53,4 em maio, ante 55,3 em abril, o que indica alta, ainda que menos acentuada, no período.
 
A explicação para o descompasso, diz Marcelo Azevedo, especialista de políticas e indústria da CNI, está justamente na oscilação da retomada da produção entre as grandes empresas e nos estoques mais altos por elas registrados. No geral, as pequenas empresas são fornecedoras e precisam de sinais mais firmes de recuperação das maiores para que se disponham a produzir mais. "Um estoque muito alto para as pequenas é mortal. Elas não podem arriscar aumentar a produção, ficar com estoque elevado e acabar quebrando", diz Azevedo.
 
Entre outros indicadores, como o referente a emprego, essa disparidade entre pequenas e grandes empresas também aparece. Neste item, as grandes estão acima de 50 pontos desde janeiro, enquanto as pequenas permanecem abaixo disso durante todo o ano. Segundo Azevedo, embora seja difícil que o índice de emprego fique acima de 50 pontos por muito tempo entre as pequenas - por definição, elas apresentam menos fôlego para contratações - os números apresentados ao longo do ano, "são um claro indício de desaquecimento". Em maio, foram 48,1 pontos, ante 47,5 em abril.
 
A Pesquisa de Atividade, divulgada ontem pelo Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi), também aponta desafios para o grupo. Os custos aumentaram em junho para 54% das micro e pequenas pesquisadas (até 50 trabalhadores), ante 40% em maio. Para julho, a expectativa é de novas altas de custos para 40% dos entrevistados.
 
De olho nesse cenário, a CNI apresentou em junho à Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa documento pedindo uma revisão da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. A entidade defende a criação de um período de transição, com tratamento fiscal diferenciado, para as empresas que ultrapassam o limite máximo de faturamento estabelecido pelo Simples Nacional. Quando isso ocorre, o valor dos impostos devidos aumenta até 34%. Além disso, propôs a revisão periódica e sistemática do teto do Simples com ajustes baseados na inflação. A última atualização ocorreu em janeiro de 2012, quando o valor máximo subiu de R$ 2,4 milhões para R$ 3,6 milhões para pequenas empresas, e de R$ 240 mil para R$ 360 mil para microempresas.
 
Segundo a CNI, as indústrias com menos de 49 funcionários representam 95% do total de empresas do setor e empregam 31,3% dos trabalhadores ocupados do segmento. Dados da confederação mostram que, historicamente, elas usam um percentual menor de capacidade instalada. Em maio, o nível de aproveitamento ficou em 65%, contra 78% das grandes.
 
Por Flavia Lima/ Valor Econômico