'BC atua para reduzir volatilidade excessiva'

'BC atua para reduzir volatilidade excessiva'

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi questionado por um senador pelas intervenções realizadas pela instituição no mercado de câmbio nos últimos dias, durante audiência publica nesta terça-feira (18) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
 
A cobrança foi feita pelo senador e ex-ministro da Fazenda Francisco Dornelles (PP-RJ), que já apoiou temas de interesse do BC, como a autonomia formal da instituição. Ele disse não concordar com a venda de US$ 13 bilhões em "swaps" cambiais desde fins de maio para segurar o fortalecimento do dólar num regime de câmbio flutuante.
 
"O BC disse em diversos momentos que nosso regime de câmbio é flutuante", respondeu Tombini. Mas, ponderou ele, a autoridade monetária se reserva o direito de intervir para "reduzir volatilidade excessiva" e quando "há alguma disfunção no mercado de câmbio". Ele também sustentou que o BC não segura o câmbio para evitar mais pressão inflacionária: "Não há no BC a utilização da política cambial nem para incentivar a economia nem para estabilizar a inflação."
 
Dornelles expressou sua preocupação, compartilhada com outros economistas, com o fato de o BC fazer intervenções no câmbio para segurar a cotação do dólar quando, aparentemente, a moeda caminha a um novo patamar. Segundo essa visão, o aperto nas condições monetárias nos Estados Unidos vai reduzir a disponibilidade de capitais estrangeiros para financiar o crescente déficit em conta corrente do Brasil, que já passou da barreira de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), levando a taxa de câmbio a um novo equilíbrio. Alguns economistas acham que intervenções no câmbio, nessa situação, apenas fazem especuladores redobrarem as suas apostas na depreciação do real.
 
Tombini, em sua resposta ao senador, procurou dar evidências de que, no passado, o BC nunca atuou contra movimentos cambiais determinados por mudanças em fundamentos. "O real se valorizou por alguns anos em decorrência da melhora nos termos de troca." Ele não foi explícito, porém, sobre o que ele entende por fazer intervenções no mercado de câmbio para "reduzir a volatilidade excessiva". "Estamos sempre preparados para extrair volatilidade no mercado quando a volatilidade é excessiva", disse Tombini.
 
No passado, o BC explicou que, quando age para reduzir a volatilidade, sua preocupação é conter movimentos excessivos na taxa que tendem a ser revertidos no futuro. Ou seja, evitar uma grande desvalorização do real, causada pelo excesso de nervosismo no mercado, que tende a refluir quando o clima for mais calmo.
 
Em respostas a outros senadores, Tombini deu sinais de que considera temporário pelo menos parte nas pressões sobre o câmbio. "Eu vejo uma situação de curto prazo que precisa ser administrada", disse o presidente do BC. "Estamos administrando, temos instrumentos para isso, para reduzir a volatilidade e os riscos da transição." Para ele, não estamos diante de um "processo de reversão e desaparecimento da liquidez da noite para o dia". Haveria, argumentou, "muita liquidez injetada nos mercados globais e certamente isso demorará muitos anos para ser dissipado".
 
O presidente do BC também procurou, durante a audiência na CAE, reforçar aspectos positivos no movimento de mudança na política monetária dos Estados Unidos. Um deles, afirmou, é que ela só será levada a cabo se houver sinais seguros de retomada da economia americana, o que tenderia a favorecer o comércio mundial e as exportações brasileiras. Outro aspecto positivo destacado é o fato de que as economias desenvolvidas não devem retirar os estímulos de forma sincronizada, já que a recuperação da atividade se encontra em diferente estágio nos Estados Unidos, Europa e Japão.
 
"É uma transição, sempre sujeita a trepidação", disse Tombini. "Nada tira a possibilidade de que, passada essa reacomodação, o mundo esteja em uma posição melhor que a nos últimos cinco anos."
 
Tombini indicou que o BC agirá, com os juros, para minimizar o repasse da desvalorização do câmbio à inflação e voltou a dizer que o BC está vigilante e vai agir de forma tempestiva para colocar a inflação em declínio no segundo semestre."
 
Por Alex Ribeiro e Murilo Rodrigues Alves/ Valor Econômico 

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