Mitsubishi quer atrair seus fornecedores para Goiás

Desde 2010, a montadora toca um programa que prevê investimentos de R$ 1,1 bilhão para dobrar a 100 mil veículos por ano a capacidade de produção.

Da janela de um escritório, o presidente da Mitsubishi no Brasil, Robert Rittscher, aponta a um terreno que está sendo preparado para receber o futuro prédio dos departamentos administrativos da montadora. Ao lado, ficará a sede da engenharia e, não muito longe dali, a construção da nova linha de pintura entra na reta final para o início das operações em março.
 
Assim, para onde quer que se olhe no parque industrial da Mitsubishi em Catalão, sul de Goiás, é muito difícil não encontrar alguma obra. E quando há espaços vagos, a empresa, na maioria das vezes, tem previsto algum projeto de expansão. Uma área de 50 mil m2 , por exemplo, já foi reservada para abrigar um parque de fornecedores. À medida que a fábrica amplia seu ritmo de produção, atrair ao Cerrado os fabricantes de autopeças que estão mais ao sul do país - reduzindo custos e riscos relacionados à logística - se torna prioridade para a marca dos três diamantes.
 
O plano é instalar entre dez e 15 fornecedores no local, principalmente de componentes que, pela maior complexidade de logística, custo relativamente alto de transporte ou relevância estratégica, exigem proximidade à linha de produção, como escapamentos, assentos e chicotes elétricos. Rittscher diz que, ao nacionalizar novos modelos e aumentar a escala de produção, a fábrica de Catalão passa a justificar e torna viável a presença de fornecedores em seu entorno. "Um dos motivos para fazer isso é a distância da indústria de autopeças, que está mais concentrada no Sul e Sudeste. A grande vantagem é diminuir o custo logístico", afirma o executivo.
 
Desde 2010, a montadora toca um programa que prevê investimentos de R$ 1,1 bilhão para dobrar a 100 mil veículos por ano a capacidade de produção. Ao fim desse ciclo, previsto para 2015, a área construída no complexo terá saltado de 93,5 mil para 247 mil m2 - ou quase 18 vezes acima do tamanho da fábrica quando a Mitsubishi começou a montar a picape L200 em 1998.
 
Por isso, a Mitsubishi tem em Goiás a movimentação típica das fábricas em obras. Não é raro ver pedreiros carregando carrinhos de mão com cimento compartilhando espaços externos junto aos operários que saem da linha de produção. O passo dessa expansão teve que ser apertado quando o governo, no fim de 2011, subiu as barreiras para carros importados, com a aplicação da sobretaxa de 30 pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
 
Alguns processos tiveram, então, que ser antecipados, como a produção do crossover ASX. Importado desde 2010, o carro começou a ser fabricado, em escala comercial, neste mês em Catalão e a versão brasileira chegará às concessionárias em julho. Com a produção nacional, a Mitsubishi espera vender 15,6 mil unidades do modelo no ano que vem. Em 2013, o volume previsto é de pouco mais de 11 mil carros, incluindo 4,7 mil unidades importadas até maio.
 
Da mesma forma, a empresa já colocou em operação a linha que produz os motores 2.0 do ASX, outro fruto do programa de investimentos batizado de Anhanguera II. Contudo, apesar da produção doméstica, os propulsores ainda não são do tipo bicombustível, tecnologia dominante no mercado brasileiro e já disponível no CR-V, da Honda, e no Sportage, da Kia - apontados pela própria Mitsubishi como concorrentes do ASX.
 
A montadora prevê que as vendas, após somar 60,6 mil veículos no ano passado - um crescimento de 9,1% -, chegarão a 85 mil unidades em 2015. O volume inclui a produção brasileira do sedã Lancer, prevista para meados do ano que vem, junto com a abertura de mais 19 lojas, para 200 pontos de venda, na rede de concessionárias.
 
 
Rittscher diz que os investimentos não apenas duplicam a capacidade de produção da fábrica, como também abrem espaço para a Mitsubishi futuramente produzir outros modelos no Brasil. Nesse sentido, a nova linha de pintura, resolvendo o principal gargalo que a Mitsubishi tem em Goiás, é ponto-chave para liberar capacidade de produção na fábrica.
 
Hoje, o setor de pintura, mesmo em três turnos de produção e no limite de sua capacidade, não acompanha a cadência das demais linhas, comprometendo o ritmo de produção. Não foi à toa que a Mitsubishi dedicou R$ 370 milhões, a maior parcela do programa de investimento, à construção de um grande prédio para a pintura. Mais automatizada - 32 robôs realizam 90% dos trabalhos -, a nova linha praticamente triplica a capacidade atual nessa etapa da produção.
 
Além disso, Rittscher afirma que a Mitsubishi tem, se necessário, espaço para crescer ainda mais no terreno de mais de 600 mil m2 em Catalão, podendo ainda negociar com o governo do Estado a ampliação do distrito industrial, que conta com incentivos fiscais.
 
Apesar da origem nipônica da marca, a produção e distribuição dos carros da Mitsubishi são feitas por um representante nacional, a MMC Automotores, do empresário Eduardo Souza Ramos, que tem, desde 2010, o BTG Pactual como sócio, com uma participação de 12,4%. O faturamento da empresa, segundo seu presidente, chegará perto de R$ 7 bilhões neste ano. (Repórter viajou a convite da Mitsubishi)
 
Por Eduardo Laguna/ Valor Econômico