Desemprego sobe para 5,8% em abril

Desemprego sobe para 5,8% em abril

 

O desemprego em abril, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingiu 5,8%, a menor marca para o mês desde o início da série histórica, em 2002. Entretanto, o índice divulgado nesta quinta-feira (23) pela instituição representou uma leve alta em relação a março, quando atingiu 5,7%, e o quarto aumento consecutivo em 2013. Em janeiro, o desemprego apurado foi de 5,4%, em fevereiro, de 5,6%.
 
De acordo com o gerente da pesquisa, Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o quadro sinaliza estabilidade e evidencia um cenário de expectativas. "Abril é um mês de incertezas. No ano passado, a atividade econômica começou a crescer em maio e o desemprego passou a registrar queda também a partir daquele mês", ressaltou.
 
Para José Pastore, professor de Relações do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP), no entanto, o quadro é preocupante. "De janeiro para cá, há uma tendência de alta, quase sem crescimento demográfico no período. Ou seja, temos uma geração de vagas cada vez menor. O desemprego começa a refletir o baixo crescimento da economia, de apenas 0,9% no ano passado", analisou.
 
Pastore lembrou que o consumo também está descelerando e o varejo aponta velocidade bem menor de crescimento da economia. "Se nada for feito, vamos fechar o ano com um desemprego acima dos 6%. Claro que, se comparado com as taxas de desocupação da Europa, ainda é um oásis", salientou.
 
Renda menor
 
Os setores que tiveram as maiores taxas de desocupação, segundo a PME, foram a atividade doméstica e a construção civil, com perda de 128 mil e 104 mil posições e quedas de 8,4% e 5,5%, respectivamente. Entretanto, Azeredo explicou que há diferença na evolução das duas categorias. No caso do trabalho doméstico, exercido em sua maioria (95%) por mulheres, a queda de 8,4% em um ano é vista como positiva. "O número de pessoas desse grupamento vem diminuindo ao longo dos anos, não como reflexo da mudança na lei que garante mais benefício às trabalhadoras, mas resultado de mais educação e da busca por melhores empregos", esclareceu.
 
Na construção civil, o recuo pode ser considerado desemprego porque foi brusco e recente, com fechamento de vagas. "O que está acontecendo com a construção é uma incógnita. Era o setor que mais empregava e está fechando postos de trabalho, principalmente na região metropolitana de São Paulo, com 90 mil posições a menos em abril em relação ao mesmo mês do ano passado", afirmou Azeredo.
 
Segundo Izídio Santos Júnior, diretor do Sindicato da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), o baixo desempenho do setor é um fenômeno nacional. "O país está entrando em recessão, e isso está se refletindo agora. Está difícil vender imóvel e capacitar mão de obra e, além disso, a produtividade caiu. O volume de demissões só aumenta. Não vejo mudança nessa tendência a curto prazo", avaliou.
 
Os dados apontam ainda que a inflação está limitando o poder de compra da população. No mês passado, o rendimento real habitual caiu 0,2%, passando de R$ 1.865,76 para R$ 1.862,40, corroído pelo aumento dos preços. Em março, tinha sido registrada queda também de 0,2%, após alta de 1,2% em fevereiro e recuo de 0,1% em janeiro. "A inflação jogou os ganhos para baixo", disse Azeredo.
 
Na comparação da média do primeiro quadrimestre com igual intervalo do ano passado, o rendimento do trabalhador brasileiro mostra elevação de 1,7%. "Houve muitos avanços ao longo de 2012. Para reverter esse ganho, demora muito", ressaltou o gerente da pesquisa.
 
O economista-chefe da Opus Investimento, José Márcio Camargo, avaliou que o índice de 5,8% de desemprego ainda denota um mercado de trabalho aquecido, mas dando sinais de enfraquecimento. O setor industrial, segundo ele, avança muito pouco, e há forte aceleração inflacionária. "Os salários aumentaram acima do ganho de produtividade em 2012, o que gerou mais consumo. Ou se resolve isso com mais inflação ou com alta de juros, o que faria a economia crescer ainda menos. A pergunta é: qual o caminho que o governo vai escolher?", indagou.
 
Mudança social
 
Com maior nível educacional, as trabalhadoras domésticas passaram a buscar melhores posições no mercado de trabalho, optando por empregos melhor remunerados em outros grupamentos de atividade. Por conta disso, esse contingente profissional vem sendo reduzido ano a ano, assim como sua participação na população ocupada, que caiu de 6,7% em abril de 2012 para 6,1% no mês passado.

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